quarta-feira, 15 de junho de 2016

OS QUATRO IRMÃOS ENGENHOSOS - CONTOS DE GRIMM

    Era uma vez um homem pobre que tinha quatro filhos. Quando ficaram grandes ele os chamou e disse:
    - Meus filhos, vocês agora deverão correr mundo, pois eu nada tenho para lhes dar. Procurem outras terras, aprendam um ofício e vejam lá como se arranjam,
    Os quatro fizeram seus preparativos de viagem e, depois de se despedirem do pai, partiram juntos. Passado algum tempo - já haviam caminhado bastante - chegaram a uma encruzilhada da qual partiram quatro caminhos em quatros rumos diferente. Disse o mais velho dos rapazes:
     -  Separemo-nos aqui. Dentro de quatro anos, voltaremos a este lugar. durante esse tempo, cada um de nós que procure, sozinho, sua boa sorte.
     E partiram, tomando cada qual um caminho. o mais velho encontrou-se com um homem que lhe perguntou aonde ia e quais eram os seus projetos.
    - Quero aprender um ofício,- respondeu-lhe o rapaz.
    - Vem comigo. Aprenderás a ser um ladrão, - respondeu o homem.
    - Não, disse o rapaz, - isso não é ofício honesto. Acaba-se na forca, mais dia menos dia.
    - Oh! não te assustes por isso. só te ensinarei a te apoderares do que ninguém mais poderia conseguir, e de um modo que não deixes nenhuma pista.
    O jovem deixou-se convencer. E assim aprendeu a ser um ladrão tão hábil que nada ficava em segurança diante dele. Era só cobiçar alguma coisa e logo a obtinha.
    O segundo irmão encontrou outro sujeito que também lhe perguntou o que queria aprender.
     - Ainda não sei, - respondeu.
    - Nesse caso, vem comigo e tornar-te um astrólogo. Não existe melhor ofício, pois nada haverá que te fique oculto.
     A ideia agradou ao jovem e chegou a ser um astrólogo tão entendido que, finda a sua aprendizagem e ao despedir-se do mestre, este lhe deu um telescópio, dizendo:
     - Com isso poderás ver tudo o que se passa na terra e no céu. Nada ficará oculto a teus olhos.
     O terceiro irmão tornou-se aluno de um caçador, que lhe ensinou tudo o que diz respeito à caça.  O aproveitamento do rapaz foi tal que se tornou um verdadeiro às nessa arte. Ao despedir-se, o mestre presentou-o com  uma espingarda, dizendo:
    - Esta nunca falha o alvo. Jamais errarás a pontaria.
    O mais moço dos irmãos encontrou-se , também, com um homem que lhe indagou dos seus planos.
    - Não te agradaria ser alfaiate? - disse-lhe.
    - Não sei, - respondeu o jovem. - Isso de ficar curvado da manhã à noite. manejando, sempre, a agulha e o ferro de engomar. é coisa que não me seduz.
    - Não digas isso! - exclamou o homem. - Falas pelo que tens visto, mas comigo aprenderás uma arte muito diferente, honesta e, também, honrosa.
     O jovem deixou-se convencer; acompanhou o alfaiate e aprendeu a fundo sua profissão.  Na hora de se despedirem, quando já havia terminado sua aprendizagem o mestre deu-lhe uma agulha e disse:
    - Com ela poderá coser tudo quanto vires pela frente, embora seja frágil como uma casca de ovo ou duro como o aço; e ficará tão bem que nem se verá a costura.
    Havendo transcorrido os quatro anos, os irmãos voltaram a se encontrar na encruzilhada em que se haviam separado. Depois de se abraçarem, regressaram à casa paterna.
     - Então! - exclamou o pai, satisfeito. - O vento tornou a soprar todos para o meu lado.
      E os filhos passaram a contar tudo o que lhes acontecera e o que cada um havia aprendido. nessa ocasião todos estavam sentados, em frente à casa, embaixo de uma árvore, e o pai lhes disse:
    - Farei uma prova com vocês, para ver do que são capazes.
     Olhou para cima e, dirigindo-se ao segundo filho, prosseguiu:
    - No alto desta árvore, entre dois galhos, há um ninho de pintassilgos. Dizem-me quantos ovos contém.
    O astrólogo assestou seu telescópio em direção ao ninho e respondeu:
    - Cinco.
     Voltando-se, então, para o mais velho, disse o pai:
    - Vai apanhar os ovos, mas sem que o pássaro que os está chocando perceba coisa nenhuma.
     O ladrão, que era muito hábil, trepou na árvore e, sem que a avezinha o notasse e se movesse do ninho, lhe tirou de baixo do corpo ovos e os entregou ao pai. O velho colocou um em cada quanto da mesa e o quinto no centro. Feito isso, disse ao caçador:
    - Agora parte os cinco ovos, ao meio, num disparo só.
    O rapaz fez pontaria; disparou e partiu os cinco ovos com só tiro. Pelo visto, usava uma pólvora capaz de dobrar a esquina!
    - É chegada a tua vez, - disse o pai ao filho mais moço. - Irás costurar os ovos e também os passarinhos que há dentro ; e de tal maneira que não se note o resultado do tiro.
    O alfaiate pegou a agulha e fez como o pai lhe pedira. Quando terminou, o ladrão teve de levar de volta os ovos ao ninho e colocá-los embaixo da ave que os chocava, sem que esta o notasse. E dentro de poucos dias nasceram os passarinho com uma faixinha vermelha ao pescoço, no lugar onde o alfaiate os havia costurado.
     Algum tempo depois, houve uma grande alarma no país. Um dragão havia raptado a filha do rei. Este vivia aflito, gemendo dia e noite, e acabou mandando apregoar que quem a trouxesse de volta se casaria com ela. Disseram os irmãos entre si:
    - Aqui está uma oportunidade de demonstrarmos nossa habilidade.
    E combinaram partir juntos para libertar a princesa,
    - Logo ficarei sabendo onde ela se encontra, - disse o astrólogo. Olhou pelo telescópio e declarou: - Já a estou vendo; acha-se muito longe daqui; num rochedo em meio do mar. A seu lado há um dragão vigiando.
    Apresentou-se ao rei, pediu-lhe um barco para ele e seus irmãos, e os quatro se fizeram ao mar até chegarem ao rochedo. Lá estava a princesa com o dragão, que encostara a cabeça em seu colo e dormia.
    - Não posso atirar, porque mataria também a princesa, - disse o caçador.
    - Pois tentarei eu a sorte! - manifestou-se o ladrão. E, deslizando até o lugar, afastou a moça com tanta rapidez e agilidade que o monstro não se deu conta e continuou roncando. Contentíssimos, saíram correndo com a jovem para o barco e zarparam sem perda de tempo. Mas o dragão, que ao despertar não encontrou a princesa, saiu furioso em sua perseguição, sulcando os ares com um urro medonho. Quando já se encontrava voando acima do barco e se dispunha a precipitar contra eles, o caçador apontou-lhe a espingarda e disparou uma bala que acertou bem no meio do coração. O monstro caiu morto, mas era tão grande que, ao abater-se sobre o barco,  o despedaçou totalmente. Os ocupantes conseguiram agarrar-se a algumas tábuas e ficaram flutuando na superfície das ondas. A situação era perigosíssima! Mas o alfaiate, sem perda de tempo, tirou sua agulha miraculosa; juntou as tábuas rapidamente e as costurou com pontos bem grandes. Feito isso, recolheu todas as peças do barco e as coseu com tanta perfeição que, logo após, a embarcação estava em condições de navegar. E assim os irmãos puderam chegar, finalmente, à sua pátria.
    O rei sentiu uma grande alegria ao rever sua filha e disse aos quatro irmãos:
    - Um de vocês a receberá por esposa. Decidiram quem há de ser.
     Saiu então uma discussão terrível entre os quatro irmãos, pois cada um alegava os seus direitos. Dizia o astrólogo:
    - Se eu não tivesse descoberto a princesa, de que serviria a habilidade de vocês? Portanto, pertence a mim!
    O ladrão falou:
     - Que adiantaria descobri-lam se eu não a houvesse tirado das garras do dragão? É minha, pois!
      E o caçador:
   - A princesa e todos vocês seriam liquidados pelo monstro se minha bala não o tivesse abatido. Em vista disso, é a mim que ela pertence!
      E o alfaiate, por sua vez:
    - Se eu, com minha arte, não tivesse recomposto o navio, todos estaríamos afogados. Portanto, é minha!
      O rei, então, interveio:
    - Vocês tem igual direito, mas como a princesa não pode pertencer a todos, não será de nenhum dos quatro. Em troca, darei, a cada um, parte do meu reino.
     Os irmãos ficaram satisfeitos come essa solução e disseram:
     - É melhor isso do que uma briga entre nós.
     E cada qual recebeu uma quarta parte do reino. Daí em diante os quatro viveram felizes em companhia do pai, pelo tempo que Deus quis.  FIM

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