quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Cunham Etá Maloca - Conto -Barbosa Rodrigues

 Dizem que havia outrora, no rio Uanauá, moças virgens que guardavam os talismãs e os atributos de Jurupari.
 Dizem que uma vez fugiu uma das moças e foi procurar marido.
 Chegando ao mato e anoitecendo, aí dormiu. De madrugada estava chorando quando ouviu homens falarem.
 Um deles estava dizendo:
 - Eu não me hei de casa; se encontrar uma moça bonita, então me casarei.
   Depois disso encontraram a moça, e o homem, vendo-a, achou-a formosa e ela também o achou bonito.
  O homem lhe disse:
 -Queres te casar comigo?
A moça disse:
 - Quero.
O homem era da nação Jacamim.
Os pais os casaram e depois de casados foram eles banhar-se no riacho e aí acharam a erva jacamim com a qual esfregaram o corpo e se lavaram.
Dizem que então ambos transformaram-se em jacamins.
  Depois disso sentiu que tinha ovos e a barriga cresceu a não pode mais andar.
 Dizem que a mulher dissera:
-Isto não são ovos, isto talvez sejam filhos. Alguns meses depois deu a à luz duas crianças, uma mulher e um homem.
 Foram crescendo as crianças.
 O menino, era formoso e dizem que gostava de frechar, pelo que a  mãe lhe disse:
   - Meu filho, em tempo algum tu frechararás Jacamins.
 A mãe deles nunca os vira quando dormiam; uma noite, porém, foi vê-los dormir.
  Olhando para seus filhos assustou-se.
  A menina, dizem que tinha sete estrelas na testa, e o menino uma cobra de estrelas enrolada no corpo.
 A mãe ficou assutada e chamou o marido para ver as crianças. 
Veio o pai  delas e assustou-se também. Falou:
 - Eu sou ave, como é que tenho crianças?
  Depois disso, dizem, foi ter com os pajés e disse-lhes:
- Que quer dizer isto: eu sou ave e minha mulher tem crianças?
  Os pajés disseram-lhe:
 - Também são teus filhos. Quando estiveste com tua mulher ela estava olhando para as estrelas e por isso saíram as estrelas neles.
  Enquanto o pai conversava com os pajés e a mãe foi também passear, o menino nas frechas e no arco e foi caçar.
 Encontrou Jacamins e matou todos.
 Depois de ter morto todos, vieram outros que também matou. Depois foi para casa.
Ele disse à mãe:
 - Minha mãe! Eu matei todos os Jacamins. Vamos ver? - Vamos.
Quando eles chegaram ela viu que o menino tinha morto o pai e todos os pajés.
  - Meu filho, tu mataste teu pai e bem assim os pajés; agora ninguém nos dá o sustento. Tu nos estragaste muito.
Então dizem que o menino respondera:
- não entristeça o seu coração, mãe; para isso estou eu; o que faltar eu lhe darei.
 Em caminho disse ao filho:
 - Meu filho, como chegaremos à terra de teus avós? Quando outrora de lá saí não tinha filhos, estava virgem, agora teu avô há de querer meter-me na casa tenebrosa para que não conheça homens.
  - Deixe estar, minha mãe, eu verei; quando eu chegar lá eu acabo com essas coisas.
  Quando eles chegaram na terra do avô, o menino pegou numa grande pedra e lançou sobre a casa e a achatou: as mulheres todas que lá estava fugiram. A pedra que caiu pelo seu próprio peso afundou-se pela terra.
 O avô quando viu aquilo teve medo do menino e toda aquela gente também teve dedo dele.
 Dizem que, então, o chefe falara:
 - Eu toda vida estimarei muito a vocês, mas só quero que consertem o que estragaram e ponham tudo com anteriormente estava.
 Disse então o menino ao chefe:
  - Eu também gosto de ver todas as coisas em seu lugar.
 Ficaram então bem na terra dos parentes.
 Depois disso, a menina por não ter marido adoeceu.
 O menino então disse a sua mãe:
- Dê para mim minha irmã para eu levá-la e curá-la, porque só eu sei onde onde está o remédio.
 Deste modo o irmão levou-a para o céu, por não querer que ela se curasse e é ela que agora vemos e chamamos as Sete Estrelas(Plêiades).
   Vendo depois disso, a mãe, que eles se demoravam foi-lhes no encalço a procura-los e quando passava por  um riacho a cobra grande a engoliu.
 Quando chegou o filho macho, não achando a mãe foi também  a sua procura.
 Foi por todas as terras e por onde foi passando deixou filhos ate encontrara sua mãe.
Depois de achar a mãe levou-a para o céu.
Ela é hoje aquela estrela que nós chamamos Pinon ou Cobra Grande.
 O que eu conto foi nosso princípio, na origem de nossos avós. FIM


(Poranduba Amazonense)

Contos Brasileiros Antigos - Uma nova jornada!

Vou começar uma nova jornada de transcrições!A história é a seguinte. Fui levar meu filho ao homeopata e a secretaria muito querida sabendo que eu estava transcrevendo Contos antigos me ofereceu dois livros antigos de contos, fiquei tão feliz pelo fato de ter confiado a  mim dois exemplares de livros.

Contistas Brilhantes

O livro Obras-Primas do Conto Brasileiro.

Afonso Arinos(Nasceu em Paracatu, Minas 1/05/1868) Advogado - - Pelo sertão - Devem fazer parte das leituras das vindouras gerações de brasileiros.