terça-feira, 5 de junho de 2018

O DUENDE PEDRINHO - CONTOS DE ANDERSEN ( ÚLTIMO CONTO, DIGITO DESDE 2015)


"OBRIGADA QUERIDO LEITOR QUE TEVE A PACIÊNCIA ! POIS DEMOREI MUITO PARA TERMINAR MAS FOI FEITO COM DEDICAÇÃO E AMOR. ESTE ÚLTIMO CONTO VAI SER SABOREADO COM TODO CARINHO!"VAMOS COMEÇAR COM A PRIMEIRA FRASE DO CONTO.


O DUENDE PEDRINHO

  Conheces o duende Pedrinho. Mas conheces também a senhora do jardineiro! Era dama letrada, sabia recitar versos, e até os -----escrevia com facilidade; só a rima"o forjar dos elos" é que lhe dava algum trabalho. Sim, tinha talento; talento de escritora e de oradora. E poderia ser até pregadora, ou pelo menos mulher do pregador.
    - Como a terra é encantadora nas suas roupas domingueiras! - dizia ela 
    E estilizando e " rebitando" essa ideia, fizera dela uma longa canção.
   O seminarista Kisserup - afinal o nome nem vem ao caso - o seminarista era filho da irmã da senhora do jardineiro; foi fazer-lhe uma visita e ouviu-a declamar o poema; disse então que o achava realmente edificante, um estímulo para o coração. E declarou:
   - A senhora tem espírito.
   Ao que o jardineiro retrucou logo:
   - Asneiras! Não lhe meta essas coisas na cabeça! Uma mulher deve ter é corpo, um corpo sadio; e deve  prestar atenção mas é às panelas, para que a comida não se queime.
   - Pois o queimado, retiro-o com brasa - respondeu ela. - E se fores tu quem estiver " esturrado", tiro-o logo com um beijo! Parece mesmo que ele só gosta de repolhos e de batatas, e no entanto adora as flores!
    E, dizendo isso, deu-lhe um beijo, acrescentando ainda:
   - As flores são o espírito!
   - Cuida das tuas panelas! - disse ele, dirigindo-se para o jardim.
   É que para ele era o jardim a panela que lhe interessava.
   Mas o seminarista ficou conversando com a senhora. Aquelas belas palavras que ela pronunciara - " A terra é encantadora!" - davam-lhe impulso para um sermão inteiro, sermão que fez à sua maneira.
   - A terra é encantadora. Dominai-a! E nós nos tornamos seus donos. Um, pelo espírito, outro, pelo corpo. Este foi posto no mundo como um ponto de admiração, pasmado: aquele, como um hífen, que desperta em todos esta pergunta: " Que pretende ele? " Um chega a ser bispo; outro não passa de um pobre seminarista. Mas tudo foi subitamente organizado; " A terra é encantadora, e está sempre endomingada!" É na verdade um poema que inspira ideias, senhora, um poema cheio de geografia, e de sentimento.
   - O senhor tem espírito. Sr. Kisserupp; muito espírito, digo-lhe eu! Quem, conversa com o senhor fica esclarecido a respeito de si próprio.
  Continuaram palestrando nesse tom, sempre com a mesma beleza e elevação; mas na cozinha havia alguém que também falava: e era o duende Pedrinho, o homenzinho vestido de cinzento, de carapuça vermelha à cabeça. Qualquer pessoa pode vê-lo. Estava o duende Pedrinho sentado na cozinha e espiando as panelas enquanto falava; mas ninguém o ouvia, a não ser a grande gata preta - a ladra de nata, como a chamava a senhora.
    O duende pedrinho estava muito zangado com a dona da casa, porque ela não acreditava, absolutamente não acreditava na sua existência! É verdade que ela jamais o vira; mas entendia o duende que mulher tão erudita devia saber que ele existia, e devia também tratá-lo com certa consideração. Mas o fato é que ele nunca se lembrava de lhe destinar na Noite de Natal nem se quer uma colherada de arroz-doce, como todos os seus antepassados tinham recebido - e note-se: de senhoras que não eram absolutamente eruditas! E arroz ressumando manteiga e nata! A gata. só de ouvir falar nisso, ficou com água nas barbas.
   - Diz que sou um símbolo - continuou o duende Pedrinho.- Isso é coisa que minha imaginação não pode alcançar! Para ela é como se  eu não existisse. É o que verifico, toda a vez que a ouço, como fiz neste mesmo momento. Lá está conversando com o seminarista - aquele professoreco! Pois eu digo, com o jardineiro: " Cuida das tuas panelas!" Mas a mulher não se importa, e agora vai ver como a panela derrama!
   E o duende pedrinho soprou o fogo e levantaram-se labaredas altas. 
 - Chichhhh...Chich...
   Lá derramou o leite
   - Vou agora furar as meias do jardineiro. Vou fazer um bom buraco nos dedos e outro no calcanhar. Então ela terá o que cerzir, e em vez de cesuras de versos, há de se ocupar com os rasgões da meia do marido. Fazer versos! Ora essa! Vá cerzir meias!
   Nisto a gata deu um espirro. Apanhara um resfriado, apesar de andar sempre de casaco de pele.
   - Eu abri a porta da despensa - disse o duende Pedrinho. - Vi lá uma nata fervida, tão grossa como um pirão...Se não queres saboreá-la, vou eu lambe-la.
   - Ora, de toda a maneira levo sempre as culpas e as pancadas: vou pois petiscar também a nata.
  - É isso, é: vai comer a nata. Enquanto isso vou ao quarto do seminarista: penduro-lhe o suspensório no espelho e ponho as meias na bacia. Ele vai pensar que o ponche estava forte demais e que se embriagou! Esta noite sentei-me no monte de lenha, ao pé do canil. Gosto tanto de enraivecer o cão de guarda..Lá fiquei, bamboleando as pernas. O cachorro não podia alcança-las, por mais pulos que desse, e ficou fora de si. Ladrou  sem cessar, e eu sempre sacudindo as pernas...Foi um belo espetáculo! O seminarista acordou; levantou-se três vezes e foi olhar à janela. mas ele não me viu, apesar de  estar com os óculos no nariz. Ele até dorme de óculos!
   - Quando a senhora vier, grita" Miau!" - disse a gata. - Não ouço muito bem hoje: estou doente.
 - Tua doença é gula! - respondeu o duende Pedrinho. - Mas vai, vai petiscar. Lambisca até curares a tua doença. E enxuga bem as barbas depois, senão a nata fica grudada nelas! Eu fico à escuta.
    E o duende Pedrinho pôs-se à porta, que estava apenas encostada. Não havia mais ninguém na sala, além da senhora e do seminarista. Conversavam sobre o que o seminarista chamava, com tanto acerto " as coisas  que em todas as casas deviam ser postas acima das panelas e dos prato- os dons o espírito".
    SR Kisseruppp - dizia a senhora - agora vou aproveitar a ocasião para lhe mostrar uma coisa que nunca mostrei a alma vivente, e menos ainda a um homem: vou mostra-lhe meus poemas, alguns dos quais saíram bem meu agrado. Intitulei-os Sons de Harpa de uma Alma de Mulher, porque gosto muito de palavras poéticas.
   - Sim, é isso mesmo que devemos fazer; e também devemos eliminar da língua os estrangeirismos.
  - Pois é o que faço. O senhor jamais me ouvirá dizer bebê, ou constatar: digo sempre - " criança de peito" ou " verificar".
    Dizendo isso, ia retirando de dentro de uma arca um diário de capa verde, com duas manchas de tinta.
   - Este livro contém muito poema sério -disse ela. -
  O que sinto com mais intensidade são as coisas tristes. Aqui temos, por exemplo, o Suspiro o noturno, Meu arrebol, e Quando conquistei Klemm - quero dizer meu marido. Esta poesia o senhor pode deixar de lado sem a ler, posto que esteja cheia de sentimentos e ideias. Os deveres da dona de casa é o melhor de todos os meus poemas. São todos muito melancólicos, porque é esta a linha do meu talento. Há uma única poesia humorística cheia, de pensamentos alegres, como ocorre mesmo à gente, de vez em quando... Mas o senhor não deve zombar de mim! São pensamentos concernentes ao fato de ser eu poetisa. Só eu e minha mesa de trabalho - e agora também o senhor- conhecemos estes escritos, Sr. Kisserupp! Eu adoro a Poesia. Ela se apodera de mim, agita-me, domina-me, governando-me como soberana. Foi isso mesmo o que escrevi aqui,, sob o título: O duende Pedrino. Conhece certamente a velha crença dos campônios a respeito do duende Pedrinho, que sempre anda  a fazer travessuras pela casa inteira. Veio-me a ideia que era eu a casa, e que a poesia, o sentimento que existe em mim, o espírito que me domina, é o duende Pedrinho, cujo poder e grandeza celebro no poema a que dei esse nome. Mas o senhor vai prometer-me que não falará disto a ninguém, nem sequer a meu marido...Agora peço-lhe que o leia em voz alta, para eu ver se decifrou a minha letra.
   O seminarista começou a ler e a senhora o escutava.
   O duende pedrinho também ouvia, pois, como já disse se pusera à escuta; e chegara à fresta da porta justamente  no momento em que se pronunciava o título: O duende Pedrinho.
   - Isso é comigo! - disse o homúnculo. - Que terá ela escrito a meu respeito? Pois não há de se ver! Não! Essa ela há de me pagar! Vou chupar todos os ovos, roubar todas as galinhas e perseguir o terneiro até que ele fique bem magrinho! Vejam só esta dama! 
   E continuo escutando; espichou um grande bico e abriu bem os ouvidos.
   Mas dali a pouco, ouvindo assim falar na magnificência, no poder e no domínio que o duende Pedrinho exercia sobre a senhora- sabes bem que ela se referia à Poesia, mas o homenzinho tomou as coisas ao pé da letra...aplicando tudo aquilo a si próprio - pouco a pouco ele foi ficando risonho: já lhe resplandeciam os olhos de alegria. E já um que de nobreza lhe ia pontando nas comissuras da boca. Levantando bem os tacões, pôs-se nas pontinhas dos pés e chegou a ficar uma polegada mais alto. Estava encantado com as coisas que se diziam acerca do duende Pedrinho.
    - A senhora tem espírito e uma vasta cultura! Como eu tinha julgado mal essa mulher! Ela me incluiu nos seus Sons de Harpa, que vão ser impressos e lidos! Pois de hoje em diante a gata não lhe lamberá mais a nata: isso fica exclusivamente comigo! Um só lambisca menos que dois, é claro; e assim posso contribuir para certa economia - em honra da patroa, que quero respeitar e venerar.
  - Mas este duende Pedrinho é tal qual um homem - pensava consigo a gata velha. - Basta um doce "miuau" da senhora, um único"miau" que ela lhe dedique, e imediatamente muda de opinião. É! A patroa é muito esperta!
   Mas aquilo não era esperteza da dama, não: a natureza do duende Pedrinho é que era igual à humana... 

                            FIM!



Quero agradecer cada letra digitada cada palavra interpretada cada sonho realizado, de aprendizado e evolução espiritual.
Obrigada aos autores destes contos pela dedicação, de nos legar sonhos que mexem com a imaginação e nos faz viajar pelos livros de Grimm e Andersen. Obrigada, obrigada!
 Foram 3 anos resgatando os Contos que não li no momento em que ganhei, mas guardem os volumes com muito carinho pois inconscientemente sabia que um dia eu valorizaria-os com toda o meu amor e dedicação.
Estou feliz por atingir o objetivo tão sonhado, esse trabalho me ajudou muito a ser melhor como pessoa. Sem pressa de atingir o final, minha ansiedade foi controlada em todos os campos da vida, se refletiu essa paz em toda esfera do meu ser. Minha eterna gratidão. Obrigada!

Agradecimentos pelo termino do projeto " Transcrevendo os Contos de Griim e Andersen" dos meus livros que ganhei há 50 anos atrás!

E com muita emoção que anuncio a transcrição do último conto da minha coleção, meu filho passou por mim e perguntou : 
- Já começou a chorar mãe?
Tu és a pessoa mais emotiva que eu conheço mãe.
Adorei ouvir essa observação do meu anjo Rafael, meu filho!
 Estou feliz pois desde 2015 tenho tenho trabalhado neste projeto pessoal que se tornou público através do blog.
  Quero agradecer à minha família que valorizou este trabalho.
 Aos meu pais que me deram esta coleção de livros.
 Estou realizando um grande sonho, li e transcrevi cada letra dos meus livros. Obrigada mãe e pai vocês não tem ideia da riqueza que me passaram através deste presente.