Henrique era um preguiçoso. Embora nada mais tivesse a fazer senão levar sua cabra, todos os dias, ao pasto, quando findava sua tarefa dizia, suspirando:
É um trabalho muito pesado ter de levar esta cabra, entra ano, sai ano, para o campo; e isso até tarde. Se, ao menos, a gente pudesse deitar e dormir. Mas, não; é preciso ficar de olho aberto para que o animal não cause dano às plantas novas, não salte as cercas para se meter nas hortas ou, enfim, que não fuja. Como é possível ter paz e desfrutar a vida dessa maneira!
Sentou-se e concentrou seus pensamentos em busca de um meio para largar aquela carga tão pesada. Passou muito tempo sem encontrar uma solução até que, de repente, lhe veio uma ideia luminosa.
- Já sei! - exclamou. - Casarei com a gorda Catarina. Também ela tem uma cabra e poderá levá-la a pastar junto com a minha. Assim não andarei mais esfalfado.
Henrique levantou-se e, pondo em movimento suas pernas cansadas, atravessou a rua - já que defronte viviam os pais da gorda Catarina - para pedir a mão da moça. Os velhos não hesitaram muito. " Igual com igual faz bom par", - pensaram, - e deram seu consentimento. A gorda Catarina casou-se, pois, com Henrique e passou a levar as duas cabras ao pasto. Ele viva feliz, sem nenhum trabalho a não ser descansar de sua própria preguiça. Lá de vez em quando acompanhava a esposa ao campo e comentava:
- Só faço isso para que na volta o descanso me seja mais agradável. Do contrário, perde-se o gosto pelo repouso.
Mas a gorda Catarina não era menos preguiçosa que o marido.
- Henrique, meu bem, - disse-lhe um dia, - por que haveremos de nos amargar a vida sem necessidade, e desperdiçar os melhores anos de nossa juventude! Não seria melhor dar ao vizinho as duas cabras, que todas as manhãs nos interrompem o sono com seus balidos, em troca de uma colmeia? Poríamos a colmeia atrás da casa, num lugar de sol, e já não teriámos de nos preocupar mais com ela. As abelhas não precisam ser vigiadas nem levadas ao campo. Elas saem a voar e por si mesmas, acham o caminho de volta. Armazenam seu mel sem que isso nos dê o menor trabalho.
- Falaste como uma mulher inteligente, - respondeu Henrique, - Faremos isso em seguida. Ademais, o mel é mais saboroso e nutritivo que o leite de cabra e se conserva mais tempo.
O vizinho deu, de bom grato, uma colmeia em troca das duas cabras. As abelhas voavam, incansáveis, desde a madrugada até a noite, enchendo a colmeia de mel. Assim, ao chegar o outono. Henrique pode colher uma jarra cheia.
Guardaram a jarra sobre uma prateleira na parede de seu dormitório,e, temendo que alguém pudesse roubá-la ou que os ratões subissem até ela, Catarina procurou uma vara bem forte e a colocou junto à cama, ao alcance da mãos, para não ter de levantar-se do leito. dessa forma afugentava os visitantes inoportunos.
Henrique, o preguiçoso, não saía da cama antes do meio-dia.
- Quem madruga - costumava dizer- dissipa sua fortuna.
Certa manhã, achando-se deitado, a descansar de um longo sono, disse à sua esposa:
- As mulheres gostam de doce e tu estás a petiscar o mel a toda hora. Antes que comas tudo sozinha, será, melhor que compremos com ele um ganso e uns gansinhos.
- Mas é preciso, primeiro, termos um filho que os cuide,- respondeu Catarina. - Achas que vou me dar ao trabalho de criar os gansinhos, consumindo forças sem necessidade?
- E imaginas que o rapaz cuidará dos gansos? Hoje em dia os meninos já não obedecem. Fazem apenas sua própria vontade, porque se julgam mais inteligentes que os pais. assim como aquele a quem mandaram procurar uma vaca perdida e que, em vez disso, foi correr atrás de ovos de passarinhos.
- Oh! - retrucou Catarina - o meu se sairá mal se não obedecer. Pegarei uma vara e lhe sovarei o lombo.- E, como demonstração, apanhou a vara que tinha a seu lado para espantar os ratos e gritou: - Queres ver como? Eu o surrarei assim: deu um golpe no ar, mas teve a infelicidade de atingir a jarra de mel. Esta bateu contra a parede e caiu ao chão, em pedaços. Todo o mel escorreu pelo assoalho.
- Aí tens nosso ganso e os gansinhos, - disse Henrique - e já ninguém terá de cuidar deles. De qualquer modo foi uma grande sorte a jarra não me ter caído na cabeça. Temos muita razão para estarmos satisfeitos!
E, vendo que num dos cacos ficara um pouco de mel, estendeu o braço para apanhá-lo dizendo, alegremente:
- Este restinho, minha mulher, vamos saborear juntos e depois descansaremos do susto. Não importa que a gente se levante um pouco mais tarde que de costume . O dia ainda é muito longo.
- Sim, - respondeu Catarina, - sempre se chega a tempo. Sabes? Certa ocasião convidaram o caracol para um casamento e ele se pôs a caminho; mas, em vez de chegar para as bodas, chegou para o batismo. Em frente à casa, tendo tropeçado na cerca, ele exclamou, muito compenetrado:
- Bem dizem que a pressa não é aconselhável! FIM
Os contos que estou transcrevendo são de livros muito antigos que ganhei de meu querido pai. Quando percebi que eles estavam ficando velhos e amarelados, fiquei com medo de perdê-los. Resolvi então salvá-los para sempre, digitando letra por letra e me envolvendo em cada história. Obrigada pai e mãe, amo vocês! E um obrigada às novas tecnologias que me permitirão salvar meus livros e dar a outras pessoas a oportunidade de se emocionarem com Os Contos de Grimn e Andersen como eu me emocionei.
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