quinta-feira, 26 de agosto de 2021

A MÁQUINA QUE PECOU - ÁFRICA DO SUL - G. H. Franz

- Hum..Diz-se que o homem de Molokommejá se foi
 - observou Moloisi. 
 - Já se foi Pai? - perguntou Moruti
. - Sim, matou-o a devoradora da estrada.( automóvel). Não sabes que há seis meses ele retirou, quem sabe, todo o seu dinheiro para comprar uma devoradora da estrada, ao velho Lejuta? È isso, um grande monstro. No terceiro dia da semana passada, foi a kwaliberg; durante a viagem o bicho adoeceu. Pôs-e a saltar de um lado para outro da estrada e acabou por bater a cabeça contra uma grande árvore de marula. Quando acorreu gente, foi preciso esquartejar o mostro com alavanca de ferro, e o filho de Molokomme se havia tornado o menino de ante-ontem,
   Depois de pensar um pouco, Moruti acabou por dizer:
   - É assim, homem de Rafiri,as crianças brincam com fogo.
  - Brincam com fogo, Pai.
   -É isso, somente os adultos deveriam manejar o fogo. Vede a devoradora da estrada e outras coisas semelhantes, são feitas pelos brancos. Vós todos não passais de meninos. Não raro, tocais nessas coisas e acendem fogo em toda a casa. Não estou dizendo verdade?
   - Está dizendo, filho de meu filho. Os meninos ateiam facilmente fogo na casa. Mmallo,(exclamação)eu disse casa?
 ateiam fogo em toda a aldeia.
   Seguiu-se uma breve pausa, depois Moloisi riu, admitindo-se que o surdo gargarejo que parecia sair-lhe do estômago pudesse ser definido como uma risada.
   - Moruti conhecia Makuntedi?
   - Não, não o conhecia, mas ouvi muitas coisa. Dizem que era um bom Comissionário.
  - Mmanllo, tem razão; era nosso Pai.
  Moloisi transferiu a ponta de cigarro de um canto da boca para o outro, e Moruti se acomodou mais confortavelmente para escutar a história que se seguiria.
   - Era no tempo em que os Maisimane tinham atirado pelo ar o governo Boer. Nós filhos de Pai Nefro, acreditamos que passaríamos a viver como senhores de nós mesmos. Os Maisimane não tinham dito por acaso ao Pai Negro: "Vinde ajudar-nos e eu vos restituirei esta terra"? " A guerra acabou, que quererá então este dominador em nossa casa? Não poderemos fazer  o que desejamos?" O chefe Malekutu estava muito encolerizado, e seus conselheiros, tanto como ele, também estavam encolerizados. " Os Maisimane não sabem falar a nossa língua. Como farão para entender-nos? Então um dos conselheiros disse: "Thobela,(saudação) eu tenho um filho que trabalhou nas  Buche( Johannnesburg). Quanto à língua dos Maiisimane, , numallo, mamou no seio de uma leisimane . "Está bem, chame seu filho. A sua mão será a nossa boca",
   E o filho veio. Tinha o nome de Mokoditwa, embora nas  Buche o chamassem de Arqui bawlAEIAW(Arquibaldo) Para nós era apenas Mokoditwa. Chegou e trazia uma coisa consigo. ' Que é, Mokoditwa?" "Isto, Pai? è uma máquina que escreve. Vede, não são os fuzis dos Maisimane a vencerem a guerra, é esta coisa. Com a a assegoai pode-se matar um homem a grande distância".
   O conselho se reuniu para discutir. Depois determinou: "Mokoditwa, escreve". "Que devo eu escrever, Pais?" " Escreve: " Ao Grande Boi, Monstro da Profundidade, Grande Chefe dos Maisimane. Thobela, os teus filhos choram, e por que choram? A Grande Mãe, a Mulher com Orelhas, tua mãe, não disse por acaso: "Filhos do Pai Negro, se me ajudares a subjugar aqueles Maburu então sereis meu filhos. Eu vos restituirei a vossa terra, onde viveis, e os vossos filhos e o vosso gado, se multiplicará com os gafanhotos'?  É assim Pai. Não vos ajudamos por acaso? Muitos do nossos filhos foram devorados pela guerra, e agora os Maburu são servos da ignana das águas. Grande Pai, nós perguntamos: Onde está nossa terra? Onde está nosso governo? Aqui vemos um homem. Diz: "Fui mandado pelo Grande Rei para governar o Pai Negro". Pois bem, ontem Paulo a abusa ,mandou homens como este. Não, Pai, os teus filhos choram. A corda está cheia de nós, vem desatá-los." Mmallo, o conselho falou e a máquia escreveu. Quando o conselho concluiu, a máquina se calou. "Mmallo, acabaste?
   - Sim, Pai, esta máquina é uma língua; é veloz como uma língua".
   A carta foi confiada a um dos mensageiros de Malekutu para ser entregue a Makuntedi. Não veio, todavia, resposta. Então, os homens deviam falar ainda. O conselho se reuniu mais uma vez e mais uma vez escreveu: " Pai, os teus filhos choram amargamente..."
   A lua tornou-se cheia duas vezes, depois chegou a maisisi(polícia) de Makuntedi. Estes diziam: "Que venham aqui o rei Malekutu, o seu conselheiro, a máquina e o homem  que funcionar a máquina.
   - Thobela, já ouvimos.
   O conselho se reuniu e falou: "Não atenderemos: O Grande Pai falará".
    Mokoditwa disse o contrário: "Não, Pai, não é assim. Por que não nos chegou resposta através da máquina? Makuntedi faz as leis como entende".
   O conselho respondeu: "Não, Makuntedi não pode fazer leis: ele é apenas a voz das leis".
   Os homens dormiram e no dia seguinte, ao chamado do mothschabafike( passarinho que canta ao alvorecer) estavam já a caminho. O sol tinha-se levantado havia pouco, quando chegaram ao escritório. Lá estavam Makuntedi. Mmallo, que aconteceu? não estamos por ventura animados de os haver saudado, sentamo-nos. Então falou Makuntedi:
    - Malecuti e vós homens do conselho, eu vos saúdo.
   - Não, Pai, somos nós a vos saudar.
   - E agora dizei-me, homens de Malekutu, eu não tenho sido sempre vosso amigo? Não vos tenho sempre ajudado? Respondei-me.
   - Sim, Makuntedi tem sido sempre nosso Pai.
   - É verdade. Eu vos fiz chamar. Estou com o coração transbordando, e sabeis por quê? Vejo os meus filhos e vejo que estão mortos.
    - Mortos, Pai?
   - Sim, as ienas se banqueteiam com seus intestinos porque não há ninguém para os enterrar. Dizei-me, homens, que acontece a um pastor que agarra com as mãos nuas as orelhas de um leão?
  - Mmaloo, torna-se um menino de ante-ontem.
   - Tu dizes a verdade. Agora escuta-me...
   - Nossos ouvidos estão abertos, Pai.
  - Eis uma carta: quem escreve? A mão é uma máquina, mas o selo diz: "Esta carta vem de Malekutu". E que dizia carta? Escutai bem, homens de conselho.
   - Os dois temos os ouvidos abertos, Morena.
   - Sim, aguçai os ouvidos. Assim dizia carta: "Ao Rei da Inglaterra! Nós, gente de Malekutu não somos macacos. Pedimos que as promessas feitas pelos ingleses sejam logo cumpridas. Reclamai isto, macacão isto, macacão de Comissionário. Mandai nos ingleses e não em nós. Se não recebermos satisfações, acontecerão estranhas coisas".
    - Mmallo, quem fala de tal modo? Nós ficamos mudos.
  - Estas não são palavras de conselheiros.
   Makuntedi disse:
    - Homens, ouvistes. Olhai,sob a carta está a mão de Malekutu, Pai. Não é por acaso verdade?
   - É a mãos de Malekutu, Pai.
   - Está bem. E agora escutai esta carta. "Ao rei dos Macacões! Malekutu! já falou uma vez: não falará mais. Compredemos que os ingleses são apenas fuinhas. Malekutu sabe matar fuinhas menso de noite....
   - Não, Morena, não falamos assim- declarou o conselho.
   Makuntedi mostrou a carta: era da mão de Malekutu. Todos calaram, sentindo a tempestade aproximar-se.
  
   Malekutu disse:
   - Morena, a mão sob as cartas é minha, mas a palavras não são as do conselho.
   Referiu depois a Makuntedi tudo aquilo que o conselho havia decidido e dito.
   - Não é porventura a verdade, Pai de Malekutu?
   - Thobela, é a pura verdade.
   Makuntedi permaneceu silencioso algum tempo. Sacudiu a cabeça e disse:
   - Sim, homens de Malekutu, vós falais. Eu ouço mas não ouço. Como é que vós dizeis uma coisa e a máquina diz outra?
   - Morena, nós não conhecemos a máquina.
   - É verdade, não conheceis a máquina. mas quem de vós a conhece?
   - O dono da máquina é Mokoditwa, Pai.
   - Todavia, homens, o que acontece se um doe vossos animais mata alguém?
  - O animal deve ser morto. Morena, pois do contrario amanhã matará de novo.
  - Deve ser punido, Morena, porque o animal é seu.
  - Falaste, Pai. Este animal feriu gravemente a Malekutu e sua gente.
   A tais palavras todos se calaram. Os corações estavam em tumulto, mas as cabeças ainda não podiam dizer: " Assim deveis fazer?. 
   Em seguida Malekutu falou. Disse:
  - Pai, os teus filhos caíram em um profundo buraco. Morena, vem ajudar teus filhos a saírem. Eu não falei bem, Pais de Malekutu?
   - A pura verdade, Grande Leão.
  Em lugar de responder depressa, Makuntedi olhou os homens do conselho; tinham a cabeça inclinada. Volveu os os olhos para Mokoditwa. Não , o jovem búfalo continuava pronto a atirar no ar os formigueiros. makuntedi começou:
   - Malekutu, e vós anciões do conselho...
   - Thobela, Grande Rei...
  - Reparai, o pai deve assumir a culpa do filho. Quando um menino erra, não se bate nele. A gente vai ao pai do menino e diz:
    - Velho, teu filho me assassinou.
    Então o pai chma os irmãos e discutem  o caso. O filho também é chamado. E punido. Depois o pai manda ao homem ferido um mensageiro com um presente e, assim, os corações se aplacam. Eu disse verdade, Pai de Malekutu?
   - A pura verdade, Grande leão.
   - Mas se o menino empunhou um fuzil e com ele praticou o mal, então o fuzil é destruído e o menino castigado. digo bem?
   - Mamallo, pai , são palavras verdadeiramente justas.
  - Pois bem, este filho de Malekutu possui um pergoso fuzail.
   - É um tloboló-cospe-em-elefante, pai.
   - Seus pecados conduziram grandes personagens perante os juízes.
   - Eu procedi de modo abominável, Pai.
    - Ah! Vejo que tu ouviste.
   Sim, os homens de Malekutu ouviram. O dia se havia levantado depois de uma noite muito escura. Natreva tinham  caçado lobos, mas ninguém tinha trazido um lobo. Agora viam, e a gente que vê não teme nem mesmo o leão. Malekutu disse:
  - Morena, ouvimos. o menino é culpado. eis aqui a arma, o canhão que mata sem ser visto.
   Então Makuntedi disse:
   - É assim mas devo poder dizer ao Grande Leão, vosso Pai: "Vede, serão os teus filhos, filhos de Malekutu, a punir o jovem e a destruir a arma."
   - Sim. Pai, os teus olhos verão tudo.
   Então, sobre o homem de Mokoditwa e sobre a máquina se desencadeou um tufão. Mmallo, um verdeiro tufão. Saíram todos. Diante da porta havia um grande penedo chato, sobre o qual foi posta a máquina. Ao lado da pedra se encontrava um banco ao qual os maisisi conduziram Mokoditwa, obrigando-o a deitar-se. Sua camisa e os seus calções foram atirados debaixo do banco e o amarraram braços e mãos com dihaka(algemas) Avançou em seguida um policial que manejava um grande martelo daqueles que sevem para fincar estavas de ferro no chão, "hikkeha-bo! hikkehabo!" Botou-o ao lado da máquina. Depois apareceu um segundo policial que trazia um feixe de varas de moretlva, daquelas com que se fustigam os meninos na escola de ABC. Deixou também isso ao lado do banco. Makuntedi falou então:
   - Malekuku, Pai do conselho, toca a vós infligir o castigo. deveis alternativamente empunhar o martelo e abatê-lo com força sobre a máquina. em seguida, cada um de vós deverá escolher uma das varas para bater uma vez no menino.
   - Nós ouvimos, pai.
  Depois de haver agarrado o martelo, Malekutu o depôs, a fim de cuspir nas mãos, e em seguida levantou-o bem alto.
   - Tu, filho do moloi o dia de ontem! Bja!
   O cérebro da máquina espirrou em redor. Abandonado o martelo, ele escolheu uma das varas.
   - Mokoditwa, meu filho, os nossos velhos dizem que é o feiticeiro da aldeia a chamar o feiticeiro de fora. Tu chamaste aquele feiticeiro, e de agora para o futuro esquecerás tudo o que seja perigoso!
  Seguiu-e um silvo, shaoo! e o sangue esguichou do filho do homem.
   Os outros homens do conselho o imitaram.. Amaldiçoaram a máquina, e deram sábios conselhos a Mokoditwa através de sua pele. o último agarrou o martelo, cuspiu nas mãos, mas disse:
    - Thobela, onde devo bater? Ficou alguma coisa da máquina? Ou quem sabe o culpado é o rochedo?
    Aproximou-se, Makuntedi indicou um fragmento de ferro sobre a pedra.
   - Estais vendo? É um pedacinho da língua da máquina. Se o deixardes inteiro, muitas outras línguas crescerão...
   Mmallo, o fragmento estava ali, mas depois, bja-poshaw! a língua desapareceu. O homem deveu então procurar um ponto onde acertar, porque Mokoditwa estava kwiwii de sangue...
   O velho se calou. Também Moruti se calara. Dali  a pouco Moloise disse:
   - O menino que queimou os dedos evitar o fogo. Que significam as minhas palavra? Até hoje não existem escolas em Malekutu.

FIM
  



MARAVILHAS DO CONTO UNIVERSAL

O PRAZER DE LER E AUMENTAR SEU CONHECIMENTO E SUA ALEGRIA. Uma nova etapa se inicia nos nossos trabalhos, agora vamos para contos universais, quer dizer contos de diversos países. Acontece que o conhecimento e realidade vem junto com esses contos e é isso que empolga descobrir novas histórias, bjo