sexta-feira, 6 de maio de 2016

A AVÓ DO DIABO - CONTOS DE GRIMM

    Houve, certa vez, uma grande guerra. O rei tinha muitos soldados, mas como lhes pagava um soldo muito baixo, os homens não podiam viver dele. Um dia três soldados combinaram desertar.
   Disse um deles:
   - Se nos pegam, seremos enforcados. Que vamos fazer?
    Respondeu o segundo:
    - Estão vendo aquele campo, grande, de trigo? Se nos ocultarmos nele, ninguém nos encontrará. o exército não pode entrar ali e, de mais a mais, prossegue marcha amanhã.
     Meteram-se, pois, entre o trigal. As tropas, porém, não partiram e sim ficaram acampadas ao redor do campo, contrariando suas esperanças. Os desertores permaneceram ocultos durante dois dias e duas noites e, depois desse tempo, ficaram a ponto de morrer de fome. Se, no entanto, saíssem dali, sua morte seria certa.
      - De que nos serviu a fuga? - comentarem. - De qualquer maneira, morreremos miseravelmente.
      Nisto, apareceu no ar um dragão cuspindo fogo, que pousou junto a eles e perguntou por que se haviam escondido ali.
      - Somos soldados, - responderam, - e fugimos por causa do soldo que era pouco. Mas, se continuarmos aqui, morreremos de fome, e se sairmos, nos enforcarão.
      - Se quiserem servir-me durante 7 anos, - disse o dragão - eu os conduzirei através do exército, de modo que não sejam vistos por ninguém.
     - Não  nos resta outra escolha. Temos de aceitar, - responderam eles.
     O dragão apanhou os três com suas garras, levantou-os e, voando por cima do exército, foi depositá-lo no chão, a grande distância. Acontece que aquele dragão não era outro senão o diabo. Deu a eles um pequeno chicote e falou:
    - Quando fizerem estalar este chicotezinho, choverá tanto dinheiro quanto quiserem. Poderão viver como grandes senhores, manter cavalos e andar de carruagem. mas quando os sete anos tiverem passado, vocês serão meus.
     Apresentou um livro, que abriu, e todos os três tiveram de por ali suas assinaturas.
    - Em todo caso - continuou, como quem não queria nada - eu darei um enigma para vocês adivinharem; se forem capazes de decifrá-los, ficarão livres e fora do meu poder.
     Em seguida o dragão afastou-se, voando, e os soldados partiram com o chicotezinho. Logo tiveram dinheiro à vontade; compraram roupas luxuosas e saíram a viajar pelo mundo. Em toda parte viviam alegres e satisfeitos. Tinham cavalos e carruagens, comiam e bebiam bem, mas nunca procediam mal. Os anos foram passando, rapidamente,e, quando o prazo foi chegando ao fim, dois deles começaram a ficar com medo. O terceiro, porém, não se afligiu, dizendo:
      - Não tenham medo, irmãos. Não sou tolo e adivinharei o enigma.
       Saíram para o campo, onde se sentaram, um deles muito senhor de si e os outros com suas caras  aborrecidas, De repente veio uma velha e perguntou qual o motivo de sua tristeza.
   - Ora, para que contar? De qualquer maneira, não poderás ajudar-nos.
    - Quem sabe? - respondeu a velha. - Conte-me as suas mágoas.
     Disseram-lhe, então, que haviam sido criados do diabo pelo espaço de quase sete anos, recebendo dele grande quantidade de dinheiro. Em troca, ele os obrigara a assinar um compromisso de lhe entregarem suas lamas, caso não decifrassem um enigma que lhes ia apresentar.
     Disse, então, a velha:
    - Se quiserem que os ajude, um de vocês terá de ir ao bosque. Chegará a uma cabana de pedras, em ruínas. Entrando ali, encontrará ajuda.
     Os dois pessimistas pensaram: " Isso não nos salvará", e continuaram sentados.O terceiro, porém, sempre animado, pôs-se a caminho pelo bosque a dentro, até que achou a cabana de pedras. Em seu interior havia uma mulher mais velha que Matusalém. Era a avó do diabo. Ela perguntou de onde vinha e o que queria ali. O jovem contou tudo o que acontecera. Falou com tanto jeito que caiu na simpatia da velha. . Esta se compadeceu dele e lhe disse que iria ajudá-lo. Tirou uma pedra grande que fechava a entrada de um porão e ordenou-lhe:-----
     - Esconda-te aqui e poderás ouvir tudo o que falarmos. Só terás de ficar quieto, sem te moveres. Quando vier o dragão, perguntarei qual o enigma. A mim ele conta tudo. Presta atenção nas suas respostas.
      À meia-noite em ponto chegou voando o dragão e exigiu sua janta. A avó pôs a mesa e serviu-lhe boa comida e bebidas para deixa-lo de bom humor. Depois sentou-se também e comeram e beberam juntos. Durante a conversa a  velha perguntou como tinha passado o dia e quantas almas havia conquistado.
    - Hoje não tive sorte, - respondeu ele, mas há três soldados que não me escaparão.
     - Ah! Três soldados? - replicou a velha. - Os soldados não são bobos e ainda poderão passar-te a perna.
     O diabo, então, disse, com um risada:
    -  Mas esses já estão no papo! Vou dar-lhes um enigma que nunca poderão decifrar.
    - E que enigma é? - perguntou ela.
    - É este que eu vou dizer. Numa praia do Mar do Norte há um macaco morto: será o assado deles. E uma costela de baleia: a sua faca de prata. E um velho casco de cavalo: o seu cálice de vinho.
     Quando o diabo  foi para a cama dormir, a velha retirou a pedra, deixando sair o soldado.
     -Tomaste nota de tudo? - perguntou.
    - Sim, - respondeu ele. - Sei o suficiente e saberei agir.
     Em seguida saiu pela janela, sorrateiramente, e foi logo unir-se a seus amigos.
     Contou-lhes como o diabo fora enganado por sua avó e como ouvira de seus próprios lábios a solução do enigma. Os três ficaram tão alegres que apanharam o chicotezinho e o estalaram tanto que o dinheiro saltou e rolou por toda parte.
     No momento em que terminaram os sete anos, o diabo apresentou-se com seu livro, mostrou-lhes suas assinaturas e disse:
    - Agora levarei vocês para o inferno, onde os espera um banquete, Se forem capazes de adivinhar qual o assado que irão saborear ficarão livres e ainda lhes deixarei o chicotezinho.
     Respondeu o primeiro soldado:
    - Numa praia do Mar do Norte há um macaco morto. este deve ser o assado.
    O diabo irritou-se e fez: Hum! Hum!
     - E qual será a faca de vocês?
      - A costela de uma baleia será nossa faca de prata, - respondeu o segundo.
      O diabo fez uma careta e resmungou: Hum! Hum! Hum!
      A seguir dirigiu-se ao terceiro:
     - E sabem, também, qual será o cálice em que beberão o vinho?
     - Um velho casco de cavalo; esse será o nosso cálice.
     Ao ouvir isso, o diabo soltou um grito e saiu voando pelos ares. Havia perdido todo o poder sobre eles. Os soldados ficaram de posse do chicotezinho, com o que tiveram tanto dinheiro quanto desejavam.E assim viveram felizes pelo resto da vida. FIM
 

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