sábado, 22 de agosto de 2015

AVEZINHO - CONTOs DE GRIMM

Era uma vez um guarda-florestal que saiu à caça e, encontrando-se no bosque, ouviu, de repente, uns soluços como os de uma criancinha. Dirigindo-se ao ponto de onde vinha o choro, chegou a uma árvore alta, em cuja copa se achava uma criança bem pequenina. A mãe dela havia adormecido sentada no chão com o pequeno nos braços, quando uma ave de rapina, vendo o bebe no seu colo, baixara voando e, depois de apanhar a criança com o bico, a depositara na copa daquela árvore.
    O guarda-florestal trepou na árvore e, agarrando a criança, viu que era um menino e pensou: "Eu o levarei para minha casa e o criarei junto com a minha Heleninha. "
    Assim fez ele e as crianças cresceram juntas. Ao menino que fora encontrado na árvore puseram o nome de Avezinho. Ele e Heleninha se queria, tanto, tanto, que, quando um não via o outro, ficava triste.
   O guarda-florestal tinha uma cozinheira velha que, certa tarde, apanhou dois balões e foi ao poço buscar água. Tantas vezes encheu os baldes que Heleninha, intrigada, perguntou-lhe:
   - Para que vai buscar tanta água. velinha?
   - Se não contares a ninguém, eu te digo, - respondeu a cozinheira.
    Heleninha assegurou-lhe que nada diria e a velha, então, lhe revelou o que ia fazer:
   - Amanhã bem cedo, depois que o patrão tiver saído à caça, ferverei esta água e, quando a caldeira estiver chiando, jogarei Avezinho dentro para cozinhá-lo.
   No dia seguinte, de madrugada, o guarda-florestal levantou-se para ir caçar, enquanto os meninos continuavam na cama. Heleninha, então disse a Avezinho:
   - Se não me abandonares, também eu não te abandonarei.
    Respondeu-lhe o menino:
    - Nem agora, nem nunca.
    Continuou Heleninha:
    - Bem, vou te contar uma coisa: ontem de noite vi a velha criada trazia muitos  baldes de água do poço e lhe perguntei por que fazia aquilo. Respondeu que me diria se eu não contasse a ninguém. Prometi-lhe e ela, então, contou que esta manhã, quando meu pai estivesse caçando, ferveria a água na caldeira e te jogaria nela para   te cozinhar. Vamos saltar da cama para nos vestirmos e fugir daqui.
   Os dois se levantaram, aprontaram-se rapidamente e depois fugiram mais que depressa. Quando a água ferveu na caldeira, a velha foi ao quarto em busca de Avezinho, com intenção de pô-lo à cozinhar, mas, ao aproximar-se da cama, viu que os dois pequenos haviam desaparecido. Diante disso, assustou-se e pensou: "Que direi quando o guarda-florestal voltar e as crianças não estiverem mais aqui? Devo trazê-las de volta."
   Ordenou a três criados que saíssem atrás dos dois meninos e os trouxessem para casa.
   Enquanto isso, os pequenos se haviam sentado na margem da floresta e, ao verem de longe os três criados que se dirigiam a eles, disse Heleninha a Avezinho:
   - Se não me abandonares, também eu não te abandonarei.
   - Nem agora, nem nunca- respondeu Avezinho.
   E Heleninha tornou a  falar:
   - Transforma-te em roseira e eu serei a rosa.
  Quando os três criados chegaram ao bosque, não viram mais que uma roseira com uma só rosa. Dos dois meninos, nem rasto.
   - Aqui não há ninguém! - disseram eles.
   Deram volta e foram dizer à cozinheira que só tinham visto uma roseira com uma única rosa. Aí a velha gritou indignada:
   - Idiotas! Deviam ter cortado a roseira, apanhando a rosa e trazido para casa. Saiam correndo e façam o que lhes disse.
   E os três tiveram de voltar ao bosque. As crianças porém, os avistaram de longe e Heleninha falou:
   - Avezinho, se não me abandonares, também  eu não  te abandonarei.
   E o menino respondeu:
 - Nem agora, nem nunca.
  - Então transforma-te numa igreja. Eu serei uma  coroa, dentro dela.
   Quando chegaram os criados só viram a igreja e a coroa em seu interior. Puseram-se, então, a comentar:
 - Mas que é que havemos de fazer aqui? O melhor é voltar para casa.
  Lá a velha perguntou-lhe se haviam encontrado os meninos. Eles responderam que não e que apenas tinham visto uma igreja com uma coroa dentro.
   - Idiotas! - gritou a velha. Por que não derrubaram a igreja e não me trouxeram a cora?
   Pôs-se, então, ela mesma, a caminho, acompanhada dos três criados, em busca dos pequenos. Mas estes viram aproximar-se os três homens e a velha, que vinha rengueando atrás. E Heleninha disse:
   - Avezinho, se não me abandonares, também eu não te abandonarei.
    E o menino respondeu:
   - Nem agora, nem nunca.
   - Pois transforma-te num lago e eu num pato nadando em tuas águas.
    Chegou a cozinheira e, ao ver o lago, abaixou-se para sorvê-lo. Mas o pato veio nadando,  a toda pressa e, apanhando-a com o bico, pelos cabelos, puxou-a para dentro da água e a velha bruxa afogou-se. Os meninos regressaram à casa, alegres e contentes, e, caso não tenham morrido, com certeza ainda estarão vivos.
FIM


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