sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O ALEIJADINHO - CONTOS DE ANDERSEN

    O castelo era velho; mas os donos eram jovens e ricos - ricos de bens e de coração.
   Faziam todo o bem que podiam, e desejariam ver todas as criaturas tão alegres como eles próprios o eram.
   Na noite de natal erguia-se na antiga sala d'armas, uma árvore lindamente enfeitada. Ardia um bom fogo na lareira, e os velhos retratos estavam emoldurados de ramos de pinheiro. Nessa sala reuniram-se os donos da casa e os convidados; e nela os cânticos. Depois vieram as danças.
   Na sala da criadagem já irradiara, horas antes, a alegria do Natal. Também lá havia um grande pinheiro, todo iluminado de velinhas vermelhas e brancas; lá estava uma bandeirinha dinamarquesa; e havia cisnes de papel recortado, e redes de pesca, cheias de gulodices. Tinham sido convidadas as crianças pobres da aldeia - com as mãe, naturalmente. É certo que não perdiam tempo em olhar para a árvore: fitavam antes a mesa, cheia de presentes - coisas tecidas de lã e de linha, e fazenda para calças e casacos. Essas coisas excitavam a admiração das mães e dos filhos mais taludos, e somente os pequeninos estendiam as mãozinhas para as velas, as bandeirinhas e os ouropéis.
  Toda aquela gente, que chegara ainda de tarde, foi servida logo: pato assado e couve-rosa. E creme de Natal. E depois de admirarem o pinheiro, receberam os presentes; e, antes de se retirarem, ainda foram obsequiados com um cálice de ponche e pastéis de maçãs, fartamente recheados.
  Voltaram então às suas casinhas baixas, onde ainda conversaram sobre as coisas boas que lhes tinham sido oferecidas, e deram mais uma olhadela nos presentes.
   Entre o pessoal que servia no castelo, havia um casal de jardineiros - Ole e Kirstem; eles ganhavam o pão limpando e conservando o jardim dos amos. Sempre recebiam, no Natal, um bom quinhão dos presentes: tinham cinco filhos, e todos eles eram vestidos pelos amos.
   - São benfazejos, os nossos patrões - diziam eles. - É verdade que não lhes faltam recursos para isso. 
    - Olha, cá estão boas roupas para os nossos quatro rapazes rasgarem - disse Ole. - Mas...por que seria que não deram também uma para o aleijadinho? Costumavam dar-lhe também alguma coisa, ainda que ele não possa assistir à festa...
   Era o aleijadinho o filho mais velho - Hans. Fora em pequeno uma criança ágil e cheia de vivacidade. Mas de um dia para o outro começara a ficar " fraco das pernas", como dizia o povo. Não podia mais andar nem mesmo manter-se de pé. E já lá iam cinco anos que vivia deitado.
   - Sim! Recebi uma coisa para ele; mas isso não presta para nada: é apenas um livro, que ele poderá ler.
  - Não será com isso que há de engordar! - disse o pai.
   Mas o livro alegrou o menino, que era inteligente. Gostava de ler, mas também se ocupava de trabalhos úteis, na medida que lhe permitiam suas condições de saúde. Muito habilidoso, tecia meias  e até colchas de tricô, que a castelã gabava e costumava comparar.
  Enviara-lhe ela agora um livro de contos de fadas. Continha muita coisa para ler - e muita coisa que dispunha à meditação,
   - Não tem para ele a menor utilidade - disse  o pai- mas isso não importa: a leitura ajuda a passar o tempo, pois não pode estar sempre e sempre a tricotar.
   Veio a primavera. As árvore e os arbustos iam-se cobrindo de brotos verdes, e também nasciam as ervas daninhas, como se costuma chamar às urtigas - apesar do que, como tanto acerto, dizia a cantiga:

    Nem mesmo o rei mais soberbo,
    O que mais alto se alçar,
    O que mais nobre se diga,
    Poderá fazer brotar
   Uma só folha de urtiga.

    Havia muito trabalho no jardim do castelo, não só para o jardineiro e seus ajudantes, senão também para Ole e Kirsten.
   - É um trabalho medonho - diziam eles. - Mal acaba a gente de passar o ancinho pelas aléias, deixando tudo bem arranjado, já vem alguém que torna a pisar e desfazer tudo. No castelo há sempre um vaivém de gente alegre, que vem de visita. Quanto dinheiro hão há de custar tudo isso! Mas ora...os amos são ricos.
   - As coisas são distribuídas de uma maneira bem estranha - disse Ole. - "Todos nós somos filhos de Deus", diz o pregador. Então por que tamanhas diferenças?
    - Isso vem do pecado original- respondeu Kirstem.
   - À noite tonaram a falar no assunto, desta vez na presença de Hans, o aleijadinho, que tinha nas mãos o seu livro de contos de fadas.
   O trabalho endurecera as mãos dos pais, mas ao mesmo tempo, os sofrimentos, as preocupações e as fadigas também lhes endurecera as opiniões e o julgamento. Não podiam compreender, não podiam achar a explicação das coisas, e suas palavras refletiam cada vez mais a ira e o descontentamento.
  - Alguns homens encontram neste mundo a felicidade e o bem-estar. Enquanto a outros, só o que coube foi a miséria. Por que haveis de sofrer pela desobediência e curiosidade dos nossos antepassados? Se fosse conosco, certamente não nos portaríamos como eles!
  Foi quando se elevou a voz de Hans, o aleijadinho:
  - Pelo contrário - nós teríamos procedido da mesma maneira! Está tudo isso escrito no meu livro.
   - Mas que é que está nesse livro, menino?
   Então Hans leu para os pais ouvirem o velho conto de fada, " O lenhador e a mulher". Também eles malsinavam a curiosidade de Adão e Eva, que era afinal a causa da sua infelicidade atual. Nisto vinha passando o rei, e disse-lhes:
   - Venham comigo ao meu palácio. Lá hão de ter a mesma vida que eu tenho. Mandarei servir-lhes diariamente sete pratos, e mais um, que será só para olharem; uma terrina tampada, na qual não deve, tocar: no momento em que o fizerem, acabar-se-á a sua vida de senhores.
    - Que haverá naquela terrina? - perguntou a mulher.
   - Ora, que nos importa? - replicou o marido.
   - Eu também não sou curiosa...Apenas gostaria de saber por que não devemos erguer aquela tampa! Com certeza ela esconde alguma coisa muito linda...
  - A não ser que seja algum mecanismo...um tiro de pistola, que desperte a casa inteira com o estrondo!
   - Isso é tolice! retrucou ela.
   Contudo não tocou na terrina.
   Na noite seguinte, porém, sonhou que a tampa se ia levantando por si, e que se espalhava um rico aroma de ponche, do melhor ponche que há, daquele que só se oferece nos casamentos e enterros. Ao pé da terrina apareceu uma moeda de prata, com esta inscrição: " Quem tomar deste ponche será o homem mais rico do mundo, e todos os outros ficarão mendigos!" Nesse instante ela acordou, e contou o sonho ao marido, que lhe disse:
    - Estás te preocupando demais com isso!
   - Mas a gente pode proceder com cautela...
   - Cuidado! - o homem ainda teve tempo de gritar.
    Mas era tarde: a mulher soerguera a tampa da terrina, e dela saltaram dois camundongos, que num pulo se sumiram num buraco.
   - Boa noite! - disse o rei. - Agora podem voltar para casa; vão dormir de novo no seu catre, e não tornem a censurar Adão e Eva: são, como eles, curiosos e ingratos...
   - Mas como é que essa história foi parar nesse livro? - disse Ole. - Parece destinada a nós ambos! E ela dá muito que pensar...
   No dia seguinte tornaram ao trabalho. Tostaram ao sol, mas depois a chuva os encharcou, até os ossos. De vez em quando resmungavam alguma coisa: eram ideias aborrecidas que lhes iam brotando no cérebro.
   Ainda não era bem noite, quando acabaram a sua refeição: mingau de leite.
   - Lê outra vez a história do lenhador! - pediu Ole ao filho.
   Há tantas outras histórias bonitas no livro...- disse Hans. - Muitas que o senhor ainda não conhece.
   - Ora, essas não me interessam. Quero ouvir aquela que já conheço.
   E ele e a mulher tornaram a ouvir a história.
   - Pois ainda não sei explicar direito essa história- disse o jardineiro. - Dá-se com o homens a mesma coisa que o leite que coalha: uma parte se transforma em belo requeijão e a outra fica um soro aguado. Algumas pessoas tem sorte em tudo; passam bem todos os dias não sabem o que é ter preocupações nem privações.
  Hans, o aleijadinho, ouviu essas palavras. O menino tinha as pernas fracas, mas a cabeça era forte. Leu-lhes outra história do livro de contos de fadas, a do "Homem que nunca teve preocupações nem privações"! Mas... onde é que havia semelhante homem? Era preciso achá-lo!
    É que o rei estava doente; e um único remédio poderia curá-lo: vestir a camisa tirado do corpo de um um homem que verdadeiramente não tivesse jamais conhecido preocupações nem privações.
   Saíram mensageiros para todos os países do mundo, para todos os castelos, para todas as granjas. Todos os homens ricos, todos os homens alegres, receberam o pedido; mas... quando se examinava o caso mais de perto, verificava-se sempre que aquele homem já soubera o que eram privações e preocupações.
   Mas o porqueiro, sentado à beira da estrada, o porqueiro que cantava e ria alegremente, ao ouvir contar o caso, declarou:
   - Eu não sei o que é isso; eu sou o homem mais feliz do mundo.
   - Dá-me então a tua camisa! - gritou o emissario. - Em troca terás a metade do reino!
   Ora, aquele homem não tinha camisa.
   E, contudo, considerava-se o homem mais feliz do mundo...
   - Mas que sujeito de sorte! - exclamou o jardineiro.
   E riram, ele e a mulher, riram como há muito tempo não se lembravam de ter rido.
  Aconteceu que naquele momento ia passando o mestre-escola. Chegou-se e foi dizendo:
   - Como vocês estão contentes! Pois olhem que semelhante alegria já era coisa rara nesta casa! Teriam acertado na loteria?
  - Não, senhor! Não é isso! É que Hans leu-nos naquele livro de contos de fadas a história do "Homem que nunca teve preocupações nem privações", e o caso é que o sujeito nem camisa tinha! A gente fica espantada ao ouvir ler a história; e contudo ela lá está impressa no livro...É ...cada qual tem a sua sorte; mas a esse respeito nem todos estão de acordo. O que é verdade, contudo, é que há nisso algum consolo.
   - E de onde lhes veio esse livro?
   - O nosso Hans recebeu-o  de presente no dia de Natal. Foi presente dos amos. Sabem que  o rapaz gosta tanto de ler, e como é aleijadinho...É verdade que na ocasião teríamos preferido que ele ganhasse duas camisas de linho...Mas o livro é estranho, e tem resposta para os pensamentos da gente, isso tem!
   O mestre-escola tomou o livro para examiná-lo.
   - Quero ouvir mais uma vez essa história - disse Ole. - Ainda não a entendi bem.
   Depois quis ouvir também a do lenhador.
  E Ole contentou-se dali por diante com essas duas histórias. Elas lhe bastavam. Eram como dois raios de sol na pobre cabana, no meio dos pensamentos tristes, ou quando estava carrancudos e mal-humorados.
   Hans já lera o livro de princípio afim; tornava a lê-lo e a relê-lo. Aqueles contos levavam-no pelo mundo fora, conduziam a lugares que jamais poderia alcançar, com a suas pernas fracas.
   Sentado junto do leito do menino, o mestre-escola conversava com ele, e a palestra causava a ambos igual prazer.
  Desde esse dia fazia visitas assíduas ao menino doente, e justamente nas horas em que ficava sozinho, pois os pais saíram para o trabalho, diariamente. E cada visita do mestre era uma festa para o menino. Ouvia avidamente o que o velho lhe contava a respeito da extensão da terra, e dos países estranhos; do sol, quase meio milhão de vezes maior que a terra, e tão distante dela, que uma bala de canhão levaria 25 anos para lá chegar, enquanto os raios de sua luz alcançam a terra em oito minutos! 
  Hoje em dia qualquer menino de escola sabe essas coisas; mas para Hans eram todas novas, e mais maravilhosas do que tudo quanto lera no livro de contos de fadas.
   Costumava  o mestre-escola almoçar de vez em quando no castelo. Foi em uma ocasião dessas que contou a importância que tinha o livro de histórias na cabana miserável e narrou também que dois contos, sobretudo, tinham levado àquela cabana, luz e bençãos. A criança doente, mas ainda assim muito inteligente, conseguira, com a leitura daqueles dois contos, despertar os pais para a meditação e para a alegria.
   Quando saiu do castelo, a senhora deu-lhe duas moedas de prata para o pequeno Hans.
   E, ao recebê-las, disse logo o menino:
   - Vou dá-las ao papai e à mamãe.
   O que levou os pais a considerar:
  - Afinal, Hans, o aleijadinho, também nos traz proveito e alegrias.
   Dias depois, à hora em que os pais trabalhavam na quinta, parou à porta da cabana a carruagem dos amos. Era a dama benfajeza, que muito se alegrara de saber que o seu presente de Natal causara tamanho prazer e tanto consolo ao menino doente e as seus pais.
   Trazia-lhe pão doce, frutas e uma garrafa de suco de uva. Mas levava também- e isso sim, era a cosia mais linda! - levava uma gaiola dourada com um passarinho preto, que cantava admiravelmente. Ela depôs a gaiola sobre uma velha cômoda. Da cama o menino podia ver e ouvir a avezinha. Até os que passavam na rua podiam ouvir o canto do passarinho.
  Quando Ole e Kirstem voltaram, já a dona bondosa se havia retirado. Viram o filho muito alegre com o presente, mas acharam que aquilo só lhes daria, a eles, mais trabalho.
   - A gente rica tem a vista curta...Pois ainda teremos de cuidar do passarinho, uma vez que o menino não pode ocupar-se dele. Ora, afinal, o gato acabará por comê-lo!
   Passou-se uma semana, depois de mais outa. O gato passava de vez em quando pelo quarto, mas sem se importar com o passarinho.
   Mas um dia aconteceu que..
  Isto se passou numa tarde, enquanto os pais e irmãos de Hans estavam trabalhando fora. Sozinho na casa isolada, Hans lia mais uma vez a história da mulher do pescador, cujos desejos se haviam realizado: ela desejou ser rei, e foi rei; quis depois ser imperador, e foi imperador. Foi então que lhe veio o desejo de ser Deus, e voltou imediatamente ao atoleiro de onde saíra.
    Não tinha aquele conto a menor relação com o gato ou o passarinho; mas era justamente a história que ele lia quando sobreveio o grande acontecimento. E isso havia de lhe ficar na memória com nitidez absoluta.
   A gaiola lá estava sobre a cômoda. O gato, sentado no chão, fitava o passarinho com os seus olhos amarelo-esverdeados. E parecia que lhe transparecia no olhar esta declaração, dirigida à avezinha:
    - Que lindo és! E quem me dera te devorar!
   Hans leu tudo isso nas feições do gato; entendeu quais eram as suas intenções.
   - Chispa! chispa! Vai-te, gato!
   Mas já o animal se encolhia para dar o salto, Hans não podia alcançá-lo com a mão, e nada tinha para lhe atirar em cima, a não ser o seu tesouro precioso, o livro de contos de fadas. Arremessou-o; mas a capa já estava se despegando, e voou para um lado, enquanto o livro, assim despido dela, ia para outro. O gato foi recuando lentamente para o meio do quarto, e olhava para o menino, com ar de quem queria dizer;
   - Isto não é da tua conta. Hans...Eu posso caminhar e saltar, coisas que tu não consegues fazer!
   Cheio de inquietação, o menino conservava os olhos fixos no gato.Também o passarinho começou a se assustar. O menino não podia chamar ninguém em seu auxilio - e o gato parecia saber bem disso. Já estava a ponto de dar o pulo. Hans ergueu a coberta da cama, sem que ele desse sinal de se intimidar. Hans atirou a colcha, aliás sem resultado nenhum, porque o gato imediatamente saltou para a cadeira, e daí para o peitoril da janela, aproximando-se da gaiola.
   Então pareceu ao menino que sentia uma onda de calor lhe subir pelo corpo, mas ele não deu atenção ao fato: toda a sua atenção se concentrava nos dois animaizinhos. Quando o gato pulou do peitoril para cima da cômoda e deu um empuxão na gaiola, virando-a de lado, sentiu o menino que o coração se lhe contorcia dentro do peito.
   Dentro da gaiola, o passarinho esvoaçava, cheio de medo.
   O menino soltou um grito. Sentiu que alguma coisa lhe dava impulso aos membros; mas sem se deter a pensar, saltou da cama, correu para a cômoda, empurrou o gato e pegou a gaiola. Correu depois com ela para a estrada.
   E ia gritando, tão contente, que tinha o rosto inundado de lágrimas:
  - Eu posso caminhar! Posso caminhar!
   Recuperara a saúde. Coisas assim podem acontecer; e aconteceu com Hans.
  Morava perto, o mestre-escola. Hans foi ter à sua casa, correndo, descalço, trajando apenas a camisola, e sempre com a gaiola na mão.
   - Eu posso andar! - gritou ele. - Meu Deus, oh! Senhor!
   E, de tamanha alegria, rebentou em soluços.
  Grande foi também a alegria na casa, e Ole e Kiraten diziam:
  - Não podíamos ter dia mais feliz do que este!
   Da quinta mandaram chamar Hans. Havia anos e anos que não trilhava aqueles caminhos, e agora lhe parecia que as aveleiras e todas as árvores lhe faziam acenos de boas-vindas, como se dissessem:
  - Bom dia, Hans bom dia! Bem-vindo sejas por aqui!
   E o sol aqueceu-lhe o rosto - e também o coração.
   Teve de se sentar ao pé dos donos da quinta, tão jovens e tão cheios de bondade para com ele, como se fosse um parente.
  Mas quem mais alegre se mostrava, era a moça que lhe dera o livro de contos de fadas e o passarinho. É verdade que a pobre avezinha morrera, do grande susto. Mas fora ela o instrumento para a cura de Hans, assim como o livro servira para esclarecer não só a ele como aos pais. Tencionava o menino guardá-lo e continuar a lê-lo, mesmo quando estivesse bem velhinho.
   E agora, que já poderia ser útil em casa, queria aprender um ofício; desejaria muito ser encadernador, pois assim poderia ler todos os  livros novos, segundo lhe parecia.
  À tarde, a dona da quinta mandou chamar os pais. Tinha conversado com o marido a respeito do menino, que lhe parecia piedoso e ativo, inteligente e cheio de vontade de aprender. E, dizia, Deus sempre apóia uma boa causa.
  Ao escurecer, de volta à casa, vinham os pais muito contents - principalmente Kirsten.
   É certo que já no dia seguinte ela chorava, porque o filho ia viajar. Recebera de presente roupas novas, e agora tinha de atravessar o mar e ir para longe, muito longe, para frequentar uma escola de latim. E muitos anos se escoriam antes que o tornassem a ver!
   Hans não levou o livro de contos de fadas, porque os pais desejavam ficar com ele, como lembrança. O pai lia-o frequentemente - isto é, lia queles dois contos que já conhecia.
   Recebiam cartas  do filho, cartas muito alegre. Morava com uma gente muito boa, e era bem alimentado. Mas o que achava melhor era a escola, onde havia tanta coisa a aprender e a a conhecer. Seu maior desejo era chegar aos cem anos, e vir um dia a ser mestre-escola.
  - Chegaremos a ver isso algum dia? - perguntavam os pais.
  E Ole segurava a mão de Kirsten, como no dia do casamento.
   - Que feliz é, afinal, o nosso Hans! - disse Ole,- Deus lembra-se dos filhos dos pobres. Pois foi justamente no aleijadinho, que se manifestou a sua proteção. Não parece até uma história daquelas que Hans poderia ler no livro de contos de fadas? 
FIM
  

    

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