sexta-feira, 21 de julho de 2017

A OBRA-PRIMA - CONTOS DE ANDDERSEN

 No ar rosado da alvorada brilha uma grande estrela, a mais clara da madrugada. Tremulam seus raios sobre a parede branca, como se quisessem escrever ali o que ela pode contar - o que observou durante milênios no nosso globo sempre em movimento.
   Queres ouvir uma de suas histórias?
 Há pouco tempo - nota que esse "pouco tempo" da estrela significa "séculos " para nós - há pouco tempo meus raios acompanhavam um moço artista. Era na cidade dos Papas, na metrópole romana.
   Naquele tempo, como ainda hoje, o castelo imperial era uma ruína. Entre as colunas de mármore derribadas vicejavam figueiras e loureiros, que estendiam sua folhagem sobre as termas destruídas, em cujas paredes ainda hoje se vê o ouro dos ornatos. Também o Coliseu era apenas uma ruína. Repicavam os sinos das igrejas, o incenso exalava seu aroma, procissões passavam pelas ruas, com seus círios acesos, seus esplêndidos baldaquins. Reinava ali a santidade da igreja, e a arte era sublime e sagrada.
   Era em Roma que vivia o maior pintor do mundo, Rafael; era lá que vivia o maior escultor da época, Miguel Ângelo. O próprio Papa rendia homenagem aos dois artistas, honrando-os com a sua visita. A arte era reconhecida, venerada, e também recompensada. E, mesmo assim, nem tudo o que era grande e tinha valor chegava a ser conhecido.
  Numa estreita viela, em uma casa velha, que fora outrora um templo, morava um jovem artista, pobre e desconhecido. Tinha, é certo, amigos, moços como ele, como ele artistas, jovens nos ideais e nas esperanças. Diziam-lhe todos eles que tinha talento, e grande capacidade: mas que era um tolo porque não acreditava no próprio valor. Era um tolo, porque destruía as obras que formava no barro, sem nunca se dar por satisfeito, sem jamais terminar nenhuma delas. E, diziam, era aquilo um erro porque uma obra deve ser vista, apreciada - e paga.
   - Não passas de um sonhador - diziam - e é nisso que está o teu mal: ainda não viveste, não viveste a vida como deve ser vivida. E é justamente na juventude que o Eu deve confundir-se com a vida para que forme um todo uno. Olha o grande mestre, Rafael, a quem o Papa honra e o mundo admira: Rafael não despreza o pão, nem o vinho!
   Quanta coisa não diziam eles! Cada um aquilo que a idade e a imaginação lhe ditavam.
   Queriam convencer o moço artista de que devia acompanhá-los, divertindo-se mais e trabalhando e sonhando menos. E o caso é que ele as vezes se sentia meio seduzido. Tinha uma imaginação robusta, e sabia partilhar também de uma palestra alegre, rir de boa vontade com os companheiros.
    Mas aquilo a que eles chamavam" a vida divertida de Rafael" dissipava-se-lhe do espírito como orvalho da madrugada, quando via o esplendor divino que irradiava dos quadros do grande mestre.
  E no Vaticano, quando se achava diante das estátuas de beleza que há milênios os mestres arrancaram do seio dos blocos de mármore, sentia o peito intumescer-se; e no íntimo do seu ser ouvia alguma coisa elevada, santa, sublime, verdadeiramente boa. Então sentia também o desejo de transformar o bloco de mármore em figuras semelhantes; queria criar a imagem daquilo que se elevava do seu coração, em busca do infinito. Mas...como? E que aspecto lhe daria? O barro dúctil ia-se plasmando ao contato dos seus dedos em belas formas; no dia seguinte, porém, o artista despedaçava, como sempre, o que acabara de criar.
    Um dia, passou por um daqueles ricos palácios que abundam em Roma. Parou diante da ampla entrada. Viu arcadas, ornadas de pinturas, cercando um jardinzinho, em que floresciam as mais lindas rosas, da bacia de mármore, onde murmurava a água límpida, brotavam grandes copos-de-leita, entre as folhas viçosas e verdes. De repente passou um vulto; uma mocinha esbelta, maravilhosamente bela, e tão leve, que antes parecia adejar do que andar. Era a filha daquela casa principesca.
    O artista jamais tinha visto aquela figura de mulher; e no entanto reconheceu-a: pintara-a Rafael, na figura de Psique, num dos palácios romanos. Sim! lá figurava a sua imagem; ela, porém, estava ali, cheia de vida!
    Era aquela que vivia no seu pensamento, no seu coração.
   O artista voltou ao seu humilde cubículo e plasmou a Psique em barro. E surgiu dele a nobre donzela que vira.
   Pela primeira vez olhou satisfeito uma obra de suas mãos. Aquela obra significava muita coisa para o artista: era ela! E quando seus amigos a viram exultaram de contentamento, e disseram que era a manifestação do valor do artista, valor que eles já tinham reconhecido, e que agora seria reconhecido também pelo mundo.
    Mas, diziam também eles, embora aquele barro tivesse vida, representasse a carne, não possuía a brancura e a durabilidade do mármore. Era preciso agora que a Psique adquirisse a vida no mármore, e o artista já dispunha de um bloco precioso que jazia no pátio já anos desde o tempo de seus pais. Estava coberto de cacos de vidro, ervas daninhas, talos de verduras, que lhe iam corroendo a superfície; no interior, porém, aquele bloco tinha a alvura das geleiras, e desse mármore devia surgir a Psique.
     Ora, sucedeu um dia - não que a estrela clara o contasse: ela nada disse do caso, mas nós sabemos como se passou - sucedeu um dia que um grupo de nobres romanos se apresentou naquela pobre ruela estreita. Parou a carruagem à embocadura da viela e os passageiros foram a pé até a casa do jovem artista, para examinar o seu trabalho, pois tinham ouvido falar nele.
   E - pobre do artista! Pobre? Não: Feliz, feliz jovem! Lá estava a nobre donzela. E que sorriso lhe abriu os lábios, quando o pai disse:
   - Mas é tu! És tu, em carne e osso!
  O sorriso não pode ser plasmado, o olhar - o maravilhoso olhar que ela fitou no jovem artista - esse olhar não pode ser fixado. Era um olhar que elevava a alma enobrecia-a...e esmagava-a, ao mesmo tempo.
    - Esta Psique deve ser executada em mármore - disse o opulento aristocrata.
   E essas palavras, que deviam animar o barro morto e o mármore pesado, foram palavras de vida para o moço. E o homem rico continuou:
   - Comprarei o obra, quando estiver terminada.
   Foi como se uma nova era tivesse surgido naquela oficina. A vida e a alegria, irradiavam ali, enquanto o artista trabalhava, num esforço febril. E a brilhante estrela-dalva via o trabalho progredir. O próprio barro parecia animado, desde que ela lá entrara; reproduziu-lhe, sublimada, a beleza das feições. E o artista exclamava, exultante:
   - Agora sim, sei o que é viver! Viver é amar! É o abandono sublime de uma união encantadora com a beleza...O que meus colegas chamam vida é coisa efêmera, bolhas da matéria em fermentação: não é, não poderá ser jamais o puro, o celestial vinho do altar que nos consagra para a vida.
    Foi posto de pé o bloco de mármore. O cinzel arrancou-lhe grandes lascas. Foi medido; marcas e sinais se cruzaram nele; a mão do  artificie desbastou-o, até que, aos poucos, a pedra se foi transformando em um corpo, em um vulto formoso de Nossa Senhora. A pedra pesada tornou-se leve, graciosa, aérea - uma esbelta Psique, com um sorriso de inocência celestial a brincar-lhe nos lábios, tal como se gravara no coração do jovem escultor.
   A rosada estrela da manhã via e entendia perfeitamente o que se agitava no íntimo do moço artista; sabia de luz que  lhe brotava dos olhos, quando estava trabalhando - quando dava forma à inspiração que recebera de Deus.
   E os amigos, encantados, diziam-lhe:
   - Tu és um mestre! Um mestre, como o forma os antigos artistas gregos. Dentro em breve o mundo inteiro há de admirar a tua Psique!
   - A minha Psique! Minha! ...Sim: ela deve ser minha. Sou um artista, como os grandes artistas do passado. Dando-me este dom milagroso, elevou-me Deus à altura da donzela nobre.
   Ajoelhando, chorando, cheio de reconhecimento, orava a Deus; e depois tornava a esquecer-se do Criador por causa da moça, por causa da sua imagem de mármore, daquela Psique que se erguia, como se fosse plasmada na neve, corada pela luz da alvorada.
   Mas ia enfim vê-la; ia vê-la na realidade cheia de vida e de graça; ia ver aquela cujas palavras soavam aos seus ouvidos como uma música. Podia finalmente ir levar ao luxuoso palácio a notícia de que estava terminada a Psique de mármore.
  Entrou. Atravessou o pátio descoberto; e água, murmurando, jorrava da boca dos golfinhos para a bacia de mármore; onde os copos-de-leite estavam em for, e rosas frescas desabrochavam, exuberantes. Pisou no amplo vestíbulo, cujas paredes e teto ostentavam escudos e quadros. Criados cheios de ornamentos, arrogantes e afetados, iam e vinham; outros, ociosos e altivos, espreguiçavam-se nos bancos de madeira esculpida, como donos da casa.
   Explicou-lhes o artista o motivo da visita e foi convidado a subir a escada de mármore polido, coberta de tapetes macios e flanqueada de estátuas. Atravessaram salas pavimentadas de moisaicos esplêndidos, e que guardava ricas telas. A princípio, sentiu-se oprimido diante de tanta pompa, de tanto esplendor; mas passou-lhe logo o assombro.
    O acolhimento que lhe dispensou o velho príncipe foi não somente amável, senão que manifestamente cordial; e, ao despedir-se dele, pediu-lhe que entrasse no gabinete da signora, que teria também prazer em vê-lo. Conduziu-o o criado por suntuosas salas até aquelas em que a própria dona representava o esplendor e a magnificência.
   E a moça falou-lhe. Nenhum misere, nenhum coral teria o poder de lhe comover assim o coração, de lhe elevar alma, como aquela voz! O artista tomou-lhe a mão e apetou-a nos lábios: não é mais macia uma rosa delicada, e contudo, daquela rosa saíam chamas!
   Foi sublime a sensação que teve. E brotaram-lhe as palavras da boca...Que palavras? Nem ele próprio o sabia. Sabe acaso a cratera que vomita lavas em brasa? Confessou-lhe o seu amor eis o que disse.
   Plasmada, ofendida, ali estava ela, com ar escarninho e arrogante, olhando para o artista. Pela expressão do rosto, dir-se-ia que tinha tocado, de inopino, em um sapo frio e viscoso. Corou, mas os lábios ficaram brancos. E aqueles olhos, negros como a treva da noite, despediam chamas.
     - Estás louco? - brandou a moça. - Fora daqui! Some-te, some-te daqui!
   E voltou-lhe as costas.
   O rosto da bela moça apresentava agora a expressão daquela máscara petrificada e coroada de serpentes - a Medusa.
   Descendo a escadaria a cambalear, como se fosse uma massa inerte, inanimada, o artista atravessou as ruas e assim chegou à sua morada. Somente lá despertou, tomando de dor e de fúria. pegou em um martelo e brandiu-o no ar, na intenção de despedaçar a bela imagem de mármore. Nem sequer notara que estava ao seu lado o   seu amigo Ângelo, que lhe segurou firmemente o braço.
   - Louco! Que ias fazer?
   Lutaram, mas Ângelo era mais vigoroso; arfando de fadiga, o jovem artista atirou-se sobre uma cadeira.
   - Que aconteceu? Acama-te e fala, afinal!
   Mas que poderia ele dizer? Que tinha para contar? Compreendeu que Ângelo não poderia destrinçar a meada intrincada do seu caso; resolveu pois nada dizer. Mas o outro continuou:
   - São os teus eternos devaneios, bem sei: eles é que te fazem perder a cabeça!
   E de novo procurou desviar o amigo, agora desesperado, para a sua maneira de levar a vida - uma vida cheia de alegrias e sem preocupações. E tanto insistiu que conseguiu tirá-lo de casa.

   De novo se achava o artista no seu quarto. Sentado em uma cadeira, procurava concentrar-se. De repente ouviu, saídas da própria boca, estas palavras:
   - Miserável! Fora daqui! Some-te daqui!
   E um suspiro, profundo e dolorido, escapou-lhe do peito.
  "Fora! Some-te daqui"! Aquelas palavras, que ela a Psique, a Psique viva, lhe dissera, ecoavam-lhe no coração, ressoavam-lhe nos  lábios. Afundou a cabeça no travesseiro; pouco a pouco foram-se-lhe enevoando as ideias, e por fim adormeceu.
   Acordou de madrugada, sobressaltado. Procurou mais uma vez concentrara as ideias. Que lhe acontecera? Sonhara tudo aquilo? Ou estivera mesmo no palácio do nobre?
   Não! Era tudo realidade, realidade!
   No ar rosado da madrugada tremia a clara estrela, iluminado-o, a ele e à Psique de mármore. O artista estremeceu ao dar com a imagem da beleza eterna. Já não queira contemplá-la: lançou um pano sobre a estátua. Depois tentou retirá-lo, para descobri-la de novo, mas sentiu-se incapaz de olhar para a própria obra.
   E durante o dia permaneceu taciturno, sombrio de tudo alheado, sem se aperceber de nada do que se passava ao redor si.
  Ninguém, entretanto, sabia o que se passava dentro daquele peito humano!
   Correram os dias e a semanas. As noites pareciam-lhe intermináveis. Uma manhã viu a estrela cintilante o artista, pálido, agitado pelos calafrios da febre, aproximar-se da imagem de mármore, afastar o pano que a cobria e deitar-lhe um demorado, um doloroso olhar. Depois, mal podendo com aquele peso, arrastou a estátua para o jardim.
     Havia lá um poço, então seco, do qual apenas restava a cova.
   Lançou nessa cova a Psique. Depois deitou terra sobre a estátua, cobrindo enfim tudo com galhos e urtigas.
   - Fora! Fora!...somete-te!
    Foi o breve necrólogo que concedeu à sua obra.
   No ar rosado da manhã a estrela via tudo. Seus raios refletiam-se, trêmulos, em duas lágrimas, duas grandes lágrimas que deslizavam pelas faces exangues(sem forças) do moço artista, agitado pela febre, mortalmente enfermo. Pelo menos assim disseram, quando ele entrou no hospital.
   Foi visitá-lo, como amigo e como médico, o monge Inácio, que lhe levava o consolo da religião, falando-lhes da paz e da beatitude da Igreja, falando-lhe do pecado dos homens, e da misericórdia e da paz de Deus.
   - Essas palavras caíram como quentes raios de sol sobre um solo em fermentação. Por entre o nevoeiro, o vapor que se erguia do chão brotavam quandros imaginários, imagens que tinham um fundo de realidade. Foi dali, dessas ilhas flutuantes, que ele lançou um olhar sobre a vida humana. Descobriu nela erros e ilusões, tal e qual como se dera consigo.
   É que a Arte é uma bruxa, que nos arrasta para a vaidade, para os desejos terrenos. Somos então falsos - falsos para com nós mesmos, para com os amigos, para com Deus. É a serpente, que está sempre a nos dizer:
   - Come, e serás igual a Deus!
   Só então lhe pareceu que se compreendia a si próprio, que encontrara enfim, o caminho que conduz à verdade e à paz. Sim, é na Igreja que estão a luz e a claridade de Deus; na cela monacal e que existe a quietação, que permite à arvore da vida humana crescer para a eternidade.
   O irmão Inácio fortaleceu-lhe a alma, e firmou-se nele a decisão. E o homem do mundo tornou-se servidor da Igreja; o jovem artista renunciou ao mundo e entrou para o convento.
   Acolheram-no os Irmãos carinhosamente; o sacramento da Ordem foi-lhe conferido em um belo ofício divino de domingo. Parecia-lhe que Deus estava presente, no brilho do sol que se refletia nele, nas santas imagens e na cruz rutilante.
   E quando, ao pôr-do-sol, se achou na sua cela estreita, abriu a janela e lançou um olhar sobre a velha Roma: viu os templos destruídos, o Coliseu, imenso, mas inanimado, e tudo aquilo trajando as roupagens da primavera - as acácias em flor, as sempre-vivas frescas, as rosas brotando por toda a parte; limoeiros e laranjeiras em pompa, palmeiras abrindo os leques...Sentiu-se comovido; sentiu que sua alma se elevava, como jamais o sentira. Aberta e tranquila, estendia-se a campanha até as montanhas azuis, cobertas de neve, e que pareciam pintadas no espaço. Tudo se confundia, tudo respirava paz e beleza, e flutuava, desvanecendo-se - tudo era sonho!
   Sim, naquele lugar o mundo era mesmo um sonho; e esse sonho dura horas, e pode tornar a voltar, horas depois. Mas a vida no convento é uma vida de anos - longos e numerosos anos.
    Mas ele se sentia entregue à misericórdia, por ela elevado; pois então não tinha lançado para longe de si a vaidade deste mundo? Não era um filho da Igreja?
   E os pensamentos, que o assaltavam em um turbilhão, eram como uma bola de neve que rolava, crescia, esmagava-o, apagava-o.
    Mas a força divina que nele vivia não deixava de lutar e de padecer.
   E ele pensava no dom maravilhoso que de Deus recebera, e que deitara fora, deixando inacabada a sua missão. Porque lhe faltara a força necessária para levá-la a termo. E a imortalidade, a Psique que vivia no seu  peito devia ser sepultada, com aquela outra Psique, o melhor raio de luz da sua vida, que jamais havia de ressurgir do seu túmulo!
    A estrela cintilava no ar rosado, a estrela, que há de se extinguir, que há de parecer, enquanto a alma há de viver e brilhar eternamente. Seus raios trêmulos caíram sobre a parede caiada, mas eles não escreveram ali nada que falasse da magnificência de Deus, nem da sua misericórdia, nem do amor universal, que canta no peito dos crentes.
   - A Psique que vive dentro de mim não morrerá nunca! Pode acontecer o inconcebível. Inconcebível sois Vós, ó Senhor! Todo o Vosso mundo é inconcebível: uma obra miraculosa de poder, de grandeza, de amor!
   Brilhavam os olhos do monge...
   E vidraram-se-lhe os olhos.
   Os sinos da igreja repicavam acima da sua cela, e foi este, o último som que ouviu. Está morto.
   Sepultaram-no em terra trazida de Jerusalém, misturado com os restos de piedosos defuntos.

Século depois continuava a estrela clara a luzir, imutável, cintilante, como luzia há milênios. O ar fulgia fresco como as rosas, purpurino como o sangue.
   Lá, onde outrora serpeava uma estreita ruela, e se viam os restos de um templo, esguia-se agora um convento de freiras. Abria-se no jardim do convento uma sepultura para uma jovem religiosa, quando a pá bateu em uma pedra, de alvura ofuscante. Era mármore. E ia apresentando uma forma arredondada; um ombro ia surgindo da terra. Cavando agora com mais cuidado, descobriram uma cabeça feminina, depois umas asas de borboleta. Aberta a cova, em que pretendiam sepultar a jovem freira, revelou-se à luz deslumbrante da manhã uma esplêndida estátua de Psique, esculpida em mármore branco.
  - Que bela e que perfeita! Uma obra de arte, da melhor época! diziam todos.
   Quem seria o seu autor? Ninguém o sabia. Ninguém, a nãos ser a brilhante estrela que fulgurava há séculos e séculos. Essa sim, sabia a história do artista, conhecia-lhe a vida toda, as provações e as fraquezas. E sabia que fora apenas um ser humano.
  Mas ele morreu e se desfizera em pó. O resultado do seu melhor esforço, porém, o que houvera nele de mais grandioso para dar testemunho da centelha divina que seu ser ocultava - esse ficou e foi visto, reconhecido, admirado e transmitido aqui na terra.
   A brilhante estrela-dalva, no ar rosado, iluminou com seus raios cintilantes a estátua, e também os lábios e os olhos dos admiradores, que sorriam contemplativos, ao ver esculpida em um bloco de mármore - uma alma.
















Titarc Amigos, esta é mais um conto longo, preciso de tempo para digitar. lembra da minha paixão pelos meus livros, para glorifica-los estou digitando letra por letra , lendo e relendo, para resgatar o tempo que não os li,.
É um trabalho com sentimento, gosto muito de copiar os contos no meu blog, para eternizá-los.


 

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