quinta-feira, 30 de julho de 2015

O PEQUENO POLEGAR - CONTOS DE GRIMM

Era uma vez um pobre campônio que, certa noite, acomodado junto ao fogão, avivava o fogo, enquanto sua mulher fiava, a seu lado.
    - Que tristeza não termos filhos! - disse ele.- O silêncio reina em nossa casa, enquanto na dos outros é vida e alegria!
    - Sim, - respondeu a mulher, suspirando - mesmo que fosse apenas um e pequenino como um polegar, eu já me daria por satisfeita; gostaríamos dele de todo o coração.
    Em seguida a mulher sentiu-se indisposta e, passados sete meses, deu à luz um filho  que, embora tivesse os membros perfeitos, não era maior do que um dedo polegar. O casal comentou:
   - Aconteceu como desejávamos e nós o amamos de todo coração.
    Tomando em conta o seu tamanho, deram-lhe o nome de Pequeno Polegar. Embora cuidassem bem de sua alimentação, a criança não cresceu e continuou pequenina como ao nascer. Tinha, no entanto, o olhar vivo e logo se revelou um menino inteligente e esperto, que fazia bem tudo o que queria.
    Certa vez o pai aprontava-se para ir ao mato cortar lenha. Gostaria que alguém me levasse o carro - disse ele a meia-voz, para si mesmo.
    - Ora, pai! - exclamou o Pequeno Polegar - posso levar-lhe o carro!
     O homem riu e respondeu-lhe:
    - De que maneira? És pequeno demais para manejar as rédeas.
     - Não importa, pai. Se mamãe atrelar o cavalo, eu me sentarei na orelha dele e o vou orientando.
    - Bem - retrucou  o camponês - não custa experimentarmos.
   Quando chegou a hora combinada, a mãe atrelou o animal e sentou Pequeno Polegar na orelha dele. O pequeno começou a dar-lhe ordens: "Êi! Vamos! Anda! Anda!" e o cavalo pô-se a puxar tão bem como se fosse guiado pelo seu dono, seguindo o caminho que conduzia ao mato. em certo momento, quando o Pequeno Polegar dobrava uma curva gritando "Êi! Êi!, surgiram dois homens na estrada.
    - Olha só! - disse um deles.- Que é isso? Ali vai um carro e o carroceiro dá ordens ao cavalo, mas não se vê o homem em parte alguma.
    - Aí tem mistério! - respondeu o outro. - Vamos segui-lo para ver aonde vai.
      O carro continuou mato a dentro até chegar ao lugar em que estava sendo cortada a lenha. Quando o Pequeno polegar avistou seu pai, gritou-lhe:
    -Pai, cá estou com o carro! Agora tira-me daqui! O pai pegou as rédeas com a esquerda e com a direita tirou seu filhinho da orelha do cavalo. Pequeno Polegar, feliz e contente, sentou-se sobre um ramo de capim. Quando os dois homens avistaram o pequeno, ficaram tão admirados que não sabiam o que dizer. Um deles chamou o outro para um lado e cochichou:
    - Ouve! Esse pirralho aí poderá fazer nossa fortuna se o exibirmos, por dinheiro, numa cidade grande. Vamos comprá-lo.
    E, dirigindo-se ao camponês, lhe propuseram:
    - Venda-nos esse homenzinho; irá passar bem conosco.
    - Não - respondeu o  pai - ele é o meu tesouro e não o vendo por nenhum dinheiro do mundo!
    O pequeno Polegar, porém, que ouvira a proposta, trepou pelas dobras do casaco do pai e, chegando aos seus ombros, lhe disse, baixinho, ao ouvido:
    - Pai, podes me vender, que voltarei.
    O lenhador, diante disso, cedeu e o entregou aos dois homens por boa quantia em dinheiro.
    - Onde queres sentar-se? - perguntaram-lhe.
     - Ponham-se na aba de seus chapéus que aí poderei andar à vontade e admirar a paisagem, sem perigo de cair.
      Os homens lhe fizeram a vontade e, depois de se despedirem do pai, partiram levando o Pequeno Polegar. Caminharam até ao anoitecer, quando o pequeno disse:
    - Ponham-me no chão que preciso fazer uma necessidade.
    - Fica onde estás! - retrucou o homem em cujo chapéu viajava o anãozinho- não me importarei; os pássaros de vez em quando também deixam cair alguma coisa.
    - Não- retrucou o Pequeno Polegar. - Tenho boas maneiras. Desçam-me, depressa!
    O homem tirou o chapéu e pôs o pequerrucho sobre o campo, à beira da estrada. Ali ficou a andar por algum tempo entre os torrões da terra; de repente, meteu-se na toca de um rato.
    - Boa noite, senhores! Sigam adiante, sem mim! - gritou ele, rindo-se a valer.
     Os homens vieram correndo e começaram a enfiar paus no buraco, mas em vão. Quando o Pequeno Polegar notou que se haviam ido embora, saiu do esconderijo subterrâneo.
     " Que perigo andar no campo nessa escuridão!" - pensou ele. - "É fácil quebrar o pescoço!" - Nisto, encontrou um caracol vazio. - Graças a Deus! - exclamou.  Aqui posso passar a noite! - E sentou-se lá dentro.
    Não demorou muito, notou que passava dois homens. Um deles dizia:
    - Como havemos de fazer para tomar o dinheiro e a prata daquele padre rico?
    - Pois eu sei como! - gritou o Pequeno Polegar, metendo-se na conversa.
    - Que foi isso? - perguntou, assustado, um dos ladrões. - Ouvi alguém falar.
     Pararam à escuta e o Pequeno Polegar, então, prosseguiu:
    - Levem -me com vocês, que os ajudarei.
    - Ondes estás?
    - Procurem no chão e observem de onde vem a voz - respondeu ele.
    Finalmente, os ladrões o encontraram e o levantaram do chão.
    - Pobre anãozinho! De que maneira poderás ajudar-nos?
     - Ouçam! - respondeu ele. - Meto-me entre as grades de ferro, no quarto do cura, e lhes alcanço tudo o que quiserem.
    - Pois bem! - disseram. - Vamos ver do que és capaz.
    Quando chegaram à casa do padre, o Pequeno Polegar meteu-se no quarto, mas logo principiou a gritar:
   - Vocês querem tudo o que tem aqui?
    Os ladrões assustaram-se e o preveniram:
   - Fala baixo, senão vais acordar meio mundo.
    O Pequeno Polegar fez como se não os tivesse ouvido e gritou, novamente:
   - O que é que vocês querem? Tudo o que está aqui dentro?
    A cozinheira, que dormia no quarto ao lado, ouviu os gritos e, sentando-se na cama, pô-se a escutar. Assustados, os ladrões haviam desaparecido, mas, passado um tempinho, voltaram a criar coragem, pensando que o pequeno parceiro só lhes queria pregar uma peça. Voltaram então e lhe disseram, baixinho:
  - Andam deixa de brincadeiras bobas e alcança-nos alguma coisa.
  Aí o Pequeno Polegar pela terceira vez se pôs a gritar com toda força de seus pulmões;
   - Darei tudo a vocês, é só abrirem as mãos!
   A criada, que estava alerta, ouviu claramente essas palavras e, saltando da cama, precipitou-se no quarto. Os ladrões saíram correndo e a mulher, não tendo visto nada de suspeito, foi acender uma vela. Quando ela entrou com o castiçal, Pequeno Polegar conseguiu escapar, sem ser visto, e dirigiu-se ao celeiro. A criada, depois de revistar todos os cantos, acabou voltando para a cama, convencida de ter sonhado de olhos abertos.
  Pequeno Polegar meteu-se entre os talinhos de feno e encontrou um bom lugar para dormir. Ali pretendia descansar até o dia seguinte e depois voltar junto de seus pais. Mas quantas aventuras ainda lhe estavam reservadas! Sim, este mundo está cheio de contratempos! A raiar do dia, a criada saltou da cama para dar pasto aos animais. Encaminhou-se, em primeiro lugar, ao celeiro e apanhou uma braçada de feno, justamente aquele onde dormia o Pequeno Polegar. Ele estava tão ferrado  no sono que nada percebeu e só acordou dentro da boca da vaca, que o havia apanhado junto com um feixe de pasto.
   - Meu Deus!- gritou.- Como é que fui parara neste moinho?
  Mas logo notou onde se encontrava e teve de se cuidar para não ser triturado pelos dentes do animal; no entanto, apesar de seu cuidado, escorregou para o estômago da vaca.
    Esqueceram-se de pôr janelas neste quartinho- disse ele. Aqui não entra um só raio de sol e nem ao menos trazem uma luzinha.
    Ademais, não estava se agradando nada daquele aposento e o pior era que cada vez ia entrando mais feno pela porta e o espaço ia diminuindo cada vez mais. Por fim, assustado, começou a gritar o mais alto que pode:
    - Não me tragam mais pasto! Não me tragam mais pasto!
   A criada, que estava ordenhando a vaca, ao ouvir falar, sem ver ninguém, e notando que era a mesma voz que ouvira durante a noite, assustou-se tanto que caiu do banquinho e entornou todo o leite. Depressa, correu até onde estava seu amo e disse-lhe:
     - Céus, senhor padre, a vaca está falando!
     - Enlouqueceste, mulher! - respondeu-lhe o cura.- Em todo caso, foi ao estábulo para ver o que se passava. Mal pusera os pés ali, o Pequeno Polegar tornou a gritar:
     - Não me tragam mais pasto! Não me tragam mais pasto!
      Quem se assustou, então, foi o cura, pensando que um espírito mau se apossara da vaca e ordenou que a matassem. Assim fizeram,  e o estomago, onde se encontrava Polegarzinho, foi jogado sobre um monte de estrume. O pequeno teve de fazer um esforço muito grande para arranjar passagem ,mas afinal conseguiu achar a saída. No mesmo momento, quando ia meter para fora a cabeça, sobreveio uma nova desgraça. Um lobo faminto, que andava por ali, tragou, de uma só vez o estômago inteiro. O Pequeno Polegar não perdeu a coragem. "Talvez possa entender-me com o lobo" - Pensou e de dentro da barriga da fera, começou a falar:
    - Amigo lobo, sei de um lugar onde encontrarás um banquete maravilhoso!
    - Onde? - perguntou o lobo.
     - Em tal e tal casa. terás de entrar pelo cano da sarjeta e encontrarás bolo, toucinho e linguiça à vontade.
     Passou, então, a descrever-lhe, com precisão, a casa de seu pai. O lobo não esperou segundo conselho e, durante a noite, espremeu-se pelo cano do esgoto, indo parar na despensa onde comeu a não poder mais. Depois quis ir embora, mas a sua barriga se tornara tão grande que ele não conseguiu sair pelo mesmo caminho. O menino, que contara com aquilo, começou, então , a fazer uma barulhada infernal, gritando com toda a força de seus pulmões.
     - Cala-te! - disse o lobo. - Vais acordar o pessoal.
     - Que nada! - respondeu o pequeno. - Comeste até não poder mais e agora sou eu que vou me divertir.
    E recomeçou a gritaria. Todo aquele berreiro acabou acordando seu pai e sua mãe, que foram correndo até a despensa e espiaram lá para dentro por uma fresta. Quando viram o lobo. saíram depressa para buscar, ele um machado e  ela uma foice.
    - Fica para trás - disse o homem, ao entrarem na despensa. - Se ele não morrer depois que eu o atingir com o machado, tu lhe abrirás a barriga com a foice.
    Naquele momento o Pequeno Polegar ouviu a voz de seu pai e gritou:
    - Querido pai, estou aqui na barriga do lobo!
    E o pai, cheio de alegria, exclamou:
    - Graças a Deus, nosso amado filho está de volta!
   E, dirigindo-se à mulher, mandou que pusesse a foice de lado, para não ferir o pequeno. Depois levantou o braço e deu um golpe na cabeça do lobo, fazendo-o cair morto no chão. A seguir, trouxeram uma faca e uma tesoura e, abrindo a barriga do animal com todo cuidado, tiraram lá de dentro o seu filhilho.
  - Quanta preocupação nos causaste! - exclamou o lenhador.
    - Sim, pai, andei muito por este mundo afora.
   - E onde estiveste?
    - Ah! Estive na toca de um rato, no estômago de uma vaca e na barriga de um lobo. Agora ficarei, sempre , com vocês.
    - E nós jamais te venderemos, nem por todos os tesouros do mundo! - disseram os pais, acariciando e beijando seu querido filhinho. Deram-lhe boa comida e bebida e mandara fazer-lhe roupas novas, porque as suas estava rôtas com as aventuras daquela viagem. FIM
 
























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