quinta-feira, 11 de junho de 2015

OS DOZE IRMÃOS - CONTOS DE GRIMM

                     Os Doze Irmãos
 
Era uma vez um rei e uma rainha que viviam em boa paz e tinham doze filhos, todos eles varões. Um dia, o 
rei disse à sua esposa:
  - Se o décimo-terceiro filho que esperas for menina, os doze rapazes deverão morrer, para que a herança se torne maior e o reino inteiro pertença somente a ela.
    - E mandou fazer doze caixões, enchê-los com serragem e colocar em cada um deles uma pequena almofada. Depois mandou que os guardassem numa sala fechada e, dando a chave à rainha, proibiu-a de falar nisso a qualquer pessoa.
    A mãe passava os dias em profunda tristeza até que certa vez, seu filho menor, que nunca se separava dela, a quem dera o nome de Benjamim, como na Bíblia, lhe perguntou:
   - Por que estás tão triste, mãezinha querida?
   - Ah, meu filho! - respondeu ela.- Não posso dizer-te.
    Mas  o menino não lhe dava sossego com suas indagações. Ela, então, abriu a porta da sala fechada e, mostrando-lhe os doze caixões cheios de serragem, disse:
    - Meu querido Benjamim, teu pai mandou fazer estes caixões para ti e teus onze irmãos. Se eu trouxer ao mundo uma menina, todos vocês serão mortos e sepultados dentro deles.
    E como ela chorasse enquanto falava, o filho quis consolá-la:
    - Não chores, querida mãe. Nós nos salvaremos, indo embora a tempo.
     - A rainha, então, ordenou-lhe:
     - Vai ao bosque com teus onze irmãos e que um de vocês fique sempre de guarda em cima da árvore mais alta que encontrarem, observando a torre do palácio. Se nascer um menino, içarei uma bandeira branca e vocês todos poderão voltar. Mas, se for uma menina, hastearei uma bandeira vermelha. Nesse caso, fujam o mais depressa possível e que Deus os proteja. Todas as noites me levantarei para rezar por vocês pedindo que no inverno tenham fogo para se aquecerem e no verão não sintam calor demais.
    Depois, tendo abençoado seus filhos, estes partiram para o bosque.
    Um após outro ficava de guarda, sentado no carvalho mais alto, olhando para a torre. Ao fim de onze dias, chegou a vez de Benjamim, que viu içarem uma bandeira; mas não era branca e sim vermelha como sangue, avisando-os de que deveriam morrer. Quando os irmãos ouviram a notícia, ficaram cheios de raiva e disseram:
   - Íamos morrer por causa de uma menina! Juremos vingança! Onde encontrarmos uma menina, o seu sangue será derramado.
    A seguir embrenharam-se mais ainda pelo bosque e, no lugar mais espesso e escuro, encontraram uma cabana encantada que estava deserta.
   - Vamos ficar morando aqui- disseram - Benjamim, tu que és o menor e o mais fraco, ficarás cuidando da casa enquanto nós iremos procurar alimento,
   E saíram a caçar lebres, veados, pombas e tudo o que havia para comer. Mais tarde Benjamim preparava a comida, para saciar a fome dos irmãos. Assim viveram juntos durante dez anos, e o tempo não lhes pareceu longo.
   Enquanto isso, nesse meio tempo, a menina que a rainha dera à luz, havia crescido; era linda e de bom coração. Trazia na testa uma estrela dourada. Certo dia em que se acostumava lavar roupa no palácio, ela viu doze camisas de homem e perguntou à sua mãe:
   A quem pertencem essas doze camisas? São  pequenas demais para serem de meu pai.
  A rainha repondeu-lhe com o coração angustiado:
    - Querida filha, elas pertencem a teus doze irmãos.
    - E onde estão meus doze irmãos? Nunca ouvi falar neles.
     - Só Deus sabe onde estão. Andam errando pelo mundo afora.
     E conduzindo sua filha até a sala  fechada, abriu a porta e mostrou-lhe os doze caixões, cheios de serragem e com as almofadas.
    - Estes caixões- disse-lhe- eram destinados a teus irmãos, mas eles fugiram para o bosque antes de nasceres.- E passou a contar tudo o que havia acontecido. A menina, então, consolou-a:
    Não chores, querida mãe! Vou sair à procura de meus irmãos.
    Apanhou as doze camisas e, pondo-se a caminho, foi diretamente para o interor do vasto bosque. Andou o dia inteiro e, ao anoitecer, chegou à casinha encantada. Entrou e ali encontrou um rapazinho, que lhe perguntou:
  -  De onde vens e para onde vais?
   - Encantou-se com sua beleza, seu régio vestido e com a estrela que brilhava em sua fronte.
    - Sou uma princesa- respondeu ela- e ando à procura de meus doze irmãos. Estou disposta a caminhar sob o céu azul até encontrá-los.
    Mostrou-lhe então, as doze camisas e Benjamim, reconhecendo que era sua irmã, disse:
    - Sou Benjamim, teu irmão mais moço.
     A menina começou a chorar de alegria e ele também; os dois se abraçaram e beijaram com grande afeto. Depois o rapaz falou:
    - Querida irmã, existe, ainda um impedimento. Havíamos combinado matar qualquer menina que encontrássemos, porque fomos obrigados a abandonar nosso reino por causa de uma manina.
     Ao que ela respondeu:
    Morrerei com gosto se assim puder salvar meus irmãos!
    - Não, não! - retrucou Benjamim- Não morrerás!Oculta-te debaixo deste tonel até chegarem os onze irmãos, que irei entender-me com eles.
     A menina assim fez.
     Quando anoiteceu, os demais regressaram à casa e sentaram-se à mesa. Enquanto comiam, perguntaram a Benjamim:
    - Quais são as novidades?
    - Vocês não sabem de alguma?
     - Não- responderam eles.
     - Estiveram no bosque e eu, que fiquei em casa, sei mais do que vocês- comentou o rapaz.
      -Pois conta-nos! - exclamaram eles.
      - Prometem-me não matar a primeira menina que encontrarem?
      - Sim-responderam todos- havemos de poupá-la; mas conta-nos o que sabes.
     E Benjamim contou:
     - Nossa irmã está aqui.
     - Levantou o tonel e a princesinha surgiu de baixo dele, linda e delicada, com sua vestimenta régia e a estrela dourada na fronte. Houve grande alegria entre todos e os irmãos a abraçaram e beijaram com ternura.
     A menina ficava em casa com Benjamim para ajudá-lo nos afazeres domésticos. Os outros saíam ao bosque para caçar corças e pombas, a fim de terem o que comer; depois Benjamim e a irmã preparavam os pratos. Ela procurava lenha, ervas e punha as panelas ao fogo para que a comida estivesse pronta quando os onze regressassem. Trazia a casinha em ordem, a roupa de cama bem branca e limpa e os irmãos estavam satisfeitos com ela. Viviam, assim, em grande união e harmonia.
     Certa vez, os dois que ficavam em casa prepararam um prato muito saboroso e, reunidos todos, sentaram-se à mesa, comendo e bebendo com grande prazer. Havia, porém, um pequeno jardim na casa encantada e nele cresciam doze lírios. A menina, querendo fazer uma surpresa a seus irmãos, cortou as doze flores para dar um a cada um deles após o almoço. Entretanto, mal acabara de cortá-laa, os doze irmãos se transformaram em doze corvos que saíram voando sobre o bosque e, ao mesmo tempo, a casa e o jardim desapareceram. A pobre menina ficou sozinha na mata escura e, ao voltar-se para olhar em redor, viu uma velha a seu lado. Esta lhe falou:
   - Que fizeste, minha filha? Por que não deixaste no seu lugar as doze flores? Eram teus irmãos. que, agora, foram transformados, para sempre em corvos.
    A menina respondeu chorando:
    - Não existe algum meio de salvá-los?
    - Não - disse a velha- não há senão um único meio, mas tão difícil que com ele não poderás libertar teus irmãos. terias de passar sete anos muda, sem falar e sem rir. Uma só palavra tornaria inútil todo o teu sacrifício, ainda que faltasse apenas uma hora para findarem os sete anos. Pronunciada essa única palavra, os teus irmãos morreriam.
     Confiante em seu amor, a menina pensou: "Estou certa de que salvarei meus irmãos". Procurou uma árvore bem alta, subiu nela e ali ficou, tecendo, sem pronunciar uma palavra e sem rir jamias.
    Sucedeu, porém, que um rei, caçando, entrou no bosque. Trazia consigo um grande galgo, que correu até a árvore onde morava a princesinha e ali se pôs a ladrar. O rei aproximou-se e viu a linda menina com a estrela dourada na fronte. Maravilhou-se tanto com sua formosura que lhe perguntou se seria sua esposa. Ela não respondeu uma só palavra; fez, apenas, um leve sinal afirmativo com a cabeça. O rei, então, subiu na árvore, tomou a princesa em seus braços e, montando com ela no cavalo, levou-a ao palácio. Ali celebraram o casamento com grande pompa e regozijo, mas a noiva não falou nem riu uma só vez.
     Ao fim de alguns anos em que viveram felizes, a mãe do rei, que era uma mulher malvada, começou a falar da jovem rainha, dizendo a seu filho:
    É uma mendiga vulgar que trouxeste para casa. Sabe lá que malvadeza não estará ela maquinando em segredo! Se é muda e não pode falar, poderia ao menos rir, mas quem nunca ri não tem a consciência limpa.
    A princípio o rei não quis dar-lhe ouvidos, mas tanto a velha insistiu e de tantas maldades a acusou que, finalmente, o rei se deixou convencer e a condenou à morte.
     Acenderam uma fogueira bem grande no pátio, onde a rainha deveria morrer queimada. O rei estava parado numa janela que ficava ao alto e assistia, chorando, à execução, porque ainda a  amava muito, E quando já estava atada ao poste e as chamas começaram a lamber-lhe o vestido, escoou-se o último segundo dos sete anos de sua penitência. No mesmo instante, ouviu-se um grande ruído de asas no ar, e apareceram doze corvos que pousaram no chão.Nem bem o haviam tocado, transformaram-se nos doze irmãos, salvos pelos sacrifício da princesa. Apressaram-se logo a apagar o fogo, libertando sua irmã, e a abraçaram e beijaram carinhosamente. E ela, que então pode abrir a boca e falar, contou ao rei por que motivo estivera muda todo o tempo e por que nunca havia rido. O rei alegrou-se muito ao ver  que sua esposa era inocente e todos eles passaram a viver juntos, em boa paz. A sogra perversa foi forçada a comparecer ante um tribunal e, depois, metida dentro de um barril cheio de azeite fervente. E assim morreu.
FIM










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Um beijo
Um abraço
e um aperto de mão.

Um comentário:

  1. Obrigado por postar esta estória, Sil. Sou professor e vim no Google pesquisar a estória completa. Estou-lhe agradecendo em reconhecimento pelo seu trabalho.

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