- Esse aí está recebendo o que lhe é devido.
Á noite, quando se dispunha a carregar a água, o anjo não se apresentou e também não lhe trouxe comida. O eremita, então, assustou-se; examinou sua consciência para descobrir por que razão poderia Deus estar zangado com ele, mas não chegou a conclusão alguma. Deixou de comer e beber; jogou-se ao chão e rezou dia e noite. Uma vez, quando estava na mata, a chorar amargamente, ouviu um pássaro que cantava de um modo maravilhoso. Ficando ainda mais triste, disse o velho:
- Como cantas bem ! Sim, contigo Deus não está zangado! Ah, se me dissesses como o ofendi, eu faria penitência para que a alegria voltasse a meu coração.
Aí o passarinho começou a falar:
- Cometeste um pecado ao condenares um pobre pecador que era levado a forca. É por isso que Deus Nosso Senhor está zangado contigo. Só a Ele cabe julgar. Mas se fizeres penitência e te arrependeres do teu pecado, Ele te perdoará.
E eis que o anjo surgiu a seu lado, trazendo nas mãos um galho seco. E assim lhe falou:
- Carregarás contigo este galho seco até que brotem nele três ramos verdes. À noite, quando quiseres dormir, tu o porás embaixo da tua cabeça. Esmolarás teu pão, de porta em porta, e não ficarás mais que uma noite em cada casa. Esta é a penitência que o Senhor te impõe.
O eremita pegou o galho seco e com ele voltou ao mundo que há tanto tempo não via. Só comia e bebia o que lhe alcançavam às portas. Muitos pedidos, porém, não foram satisfeitos e muita porta não se abriu ao seu chamado, de modo que, as vezes, passava dias inteiro sem ter uma migalha de pão. Certa vez andou de manhã à noite batendo de porta em porta, sem que lhe dessem coisa alguma para comer ou abrigo para passar a noite. Saiu, então, pela mata e chegou, finalmente, a uma caverna onde estava sentada uma velha. Dirigindo-se a ela, o eremita disse:
- Boa mulher, dá-me abrigo por esta noite.
Mas a velha respondeu:
- Não, não poderia abrigá-lo mesmo que o quisesse. Tenho três filhos malvados. Se, ao voltarem de suas excursões, o encontrassem aqui, eles matariam a nós dois.
Insistiu o eremita:
- Deixa que eu fique, nada nos farão.
A mulher teve pena e consentiu em acolhê-lo. O eremita deitou-se embaixo da escada por onde os bandidos desciam para o seu covil e pôs o galho seco sob a cabeça. Vendo-o fazer isso, a velha indagou o motivo e ele, então, contou que levava o galho consigo como penitência e que à noite fazia dele travesseiro. Ofendera ao Senhor, pois ao ver que levavam um pobre criminoso para ser executado, dissera que lhe estava sucedendo o que bem merecia. A mulher começou a chorar e exclamou:
- Ai! Se o Senhor castiga dessa maneira umas poucas palavras, o que será de meus filhos quando se apresentarem ante Ele para serem julgados!
Á meia-noite os bandidos regressaram, fazendo um grande alarido. Acenderam uma fogueira e descobriram que havia um homem embaixo da escada. Ficaram furiosos e, aos gritos, indagaram da mãe:
- Quem é esse homem:? Não te proibimos receber qualquer pessoa?
- Deixem-nos em paz, - respondeu a velha. - É um pobre pecador que está cumprindo uma penitência.
Perguntaram os bandidos:
- Que foi que ele fez? - E, acordando o eremita:- Velho, conta-nos os teus pecados.
O velho levantou-se e contou-lhes como, com algumas palavras, pecara tanto que Deus se zangara com ele e tinha agora de fazer penitência. Sua história comoveu de tal forma os bandidos que, assustados com a vida que levavam, se arrependeram e decidiram penitenciar-se. O eremita, após ter convencido os três pecadores, deitou-se de novo embaixo da escada, para dormir. Pela manhã o encontraram morto. Do galho seco que lhe servia de travesseiro haviam brotado três ramos verdes, prova de que o Senhor lhe restituíra suas graças e o acolhera em seu seio.
FIM
Achei muito bom esse conto tia sil
ResponderExcluirObrigada querido Juan.
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