terça-feira, 19 de julho de 2016

OS TRÊS RAMOS VERDES - CONTOS DE GRIMM

    Era uma vez um eremita que vivia no meio da floresta ao pé de uma montanha, passando o tempo todo a rezar e a praticar boas ações. Sempre, ao anoitecer, carregava, ainda, alguns baldes de água até o cume da montanha, em honra ao Senhor. Muito animal podia, assim saciar a sede e muita planta era refrescada, pois nas alturas sopra um vento quente que resseca o ar e a terra. As aves selvagens que temem aos homens voam bem alto e procuram com seus olhos aguçados descobrir um lugar onde beber. Como fosse muito piedoso, um anjo de Deus, visível a ele, o acompanhava na escalada, contava seus passos e, feito o trabalho, lhe trazia comida, assim como acontecera com aquele profeta que, por ordem de Deus, era alimentado pelos corvos. Alcançara já, o piedoso homem, uma idade avançada, quando viu certa vez, ao longe, levarem um pobre diabo para a forca. Falou para si mesmo:
    - Esse aí está recebendo o que lhe é devido.
   Á noite, quando se dispunha a carregar a água, o anjo não se apresentou e também não lhe trouxe comida. O eremita, então, assustou-se; examinou sua consciência para descobrir por que razão poderia Deus estar zangado com ele, mas não chegou a conclusão alguma. Deixou de comer e beber; jogou-se ao chão e rezou dia e noite. Uma vez, quando estava na mata, a chorar amargamente, ouviu um pássaro que cantava de um modo maravilhoso. Ficando ainda mais triste, disse o velho:
    - Como cantas bem ! Sim, contigo Deus não está zangado! Ah, se me dissesses como o ofendi, eu faria penitência para que a alegria voltasse a meu coração.
   Aí o passarinho começou a falar:
    - Cometeste um pecado ao condenares um pobre pecador que era levado a forca. É por isso que Deus Nosso Senhor está zangado contigo. Só a Ele cabe julgar. Mas se fizeres penitência e te arrependeres do teu pecado, Ele te perdoará.
   E eis que o anjo surgiu a seu lado, trazendo nas mãos um galho seco. E assim lhe falou:
    - Carregarás contigo este galho seco até que brotem nele três ramos verdes. À noite, quando quiseres dormir, tu o porás embaixo da tua cabeça. Esmolarás teu pão, de porta em porta, e não ficarás mais que uma noite em cada casa. Esta é a penitência que o Senhor te impõe.
   O eremita pegou o galho seco e com ele voltou ao mundo que há tanto tempo não via. Só comia e bebia o que lhe alcançavam às portas. Muitos pedidos, porém, não foram satisfeitos e muita porta não se abriu ao seu chamado, de modo que, as vezes, passava dias inteiro sem ter uma migalha de pão. Certa vez andou de manhã à noite batendo de porta em porta, sem que lhe dessem coisa alguma para comer ou abrigo para passar a noite. Saiu, então, pela mata e chegou, finalmente, a uma caverna onde estava sentada uma velha. Dirigindo-se a ela, o eremita disse:
   - Boa mulher, dá-me abrigo por esta noite.
    Mas a velha respondeu:
    - Não, não poderia abrigá-lo mesmo que o quisesse. Tenho três filhos malvados. Se, ao voltarem de suas excursões, o encontrassem aqui, eles matariam a nós dois.
    Insistiu o eremita:
   - Deixa que eu fique, nada nos farão.
   A mulher teve pena e consentiu em acolhê-lo. O eremita deitou-se embaixo da escada por onde os bandidos desciam para o seu covil e pôs o galho seco sob a cabeça. Vendo-o fazer isso, a velha indagou o motivo e ele, então, contou que levava o galho consigo como penitência e que à noite fazia dele travesseiro. Ofendera ao Senhor, pois ao ver que levavam um pobre criminoso para ser executado, dissera que lhe estava sucedendo o que bem merecia. A mulher começou a chorar e exclamou:
   - Ai! Se o Senhor castiga dessa maneira umas poucas palavras, o que será de meus filhos quando se apresentarem ante Ele para serem julgados!
   Á meia-noite os bandidos regressaram, fazendo um grande alarido. Acenderam uma fogueira e descobriram que havia um homem embaixo da escada. Ficaram furiosos e, aos gritos, indagaram da mãe:
   - Quem é esse homem:? Não te proibimos receber qualquer pessoa?
   - Deixem-nos em paz, - respondeu a velha. - É um pobre pecador que está cumprindo uma penitência.
    Perguntaram os bandidos:
   - Que foi que ele fez? - E, acordando  o eremita:- Velho, conta-nos os teus pecados.
   O velho levantou-se e contou-lhes como, com algumas palavras, pecara tanto que Deus se zangara com ele e tinha agora de fazer penitência. Sua história comoveu de tal forma os bandidos que, assustados com a vida que levavam, se arrependeram e decidiram penitenciar-se. O eremita, após ter convencido os três pecadores, deitou-se de novo embaixo da escada, para dormir. Pela manhã o encontraram morto. Do galho seco que lhe servia de travesseiro haviam brotado três ramos verdes, prova de que o Senhor lhe restituíra suas graças e o acolhera em seu seio


FIM

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