domingo, 23 de outubro de 2016

O DUENDE E O VENDEIRO - CONTOS DE ANDERSEN

  Era um estudante tão pobre, que morava em um sótão, e não tinha nada de seu. Na mesma casa residia também o proprietário - mas na melhor parte, naturalmente. Negociava ele com gêneros alimentícios; em uma palavra era vendeiro. O duendezinho da casa habituou-se a viver com ele, porque todos os anos, na noite de Natal, o vendeiro lhe oferecia um prato de sopa, em que deitava sempre um bocado de manteiga - o que não era pouca generosidade. E o duende vivia muito satisfeito na venda, onde nada lhe faltava. Ora uma noite o estudante entrou na loja, para comprar velas e queijo, porque não tinha quem lhe fizesse as compras. Recebido o embrulho, o vendeiro e sua mulher fizeram-lhe o cumprimento de despedida com um movimento da cabeça - ainda que ela era senhora que podia fazer mais alguma coisa que mover a cabeça, pois tinha uma língua extraordinária. Respondeu o estudante com uma reverência, mas parou de repente, para ler o pedaço de papel em que haviam embrulhado o queijo. Era uma folha arrancada de um livro antigo, um livro que não devia jamais ter sido assim rasgado - um livro de poesias.
   - Ora, ainda ficam muitas outras - disse o vendeiro. - Deu-mo uma velha, por alguns grãos de café. Por quarenta centavos, dou-te o que falta.
    - Obrigado!- replicou o estudante. - Troque-o pelo queijo, então: posso muito bem comer o pão só com manteiga. Seria uma lástima mutilar assim o livro...O senhor é um homem, um homem prático; mas de poesia entende tanto como essa tina.
    Era uma frase muito pouco amável, na verdade, principalmente para a tina; mas o vendeiro desatou a rir, e o estudante imitou-o, porque estava apenas caçoando. O duende, porém, não ficou satisfeito de ouvir semelhantes palavras, dirigidas a um negociante que era o dono da casa, e que vendia a melhor manteiga que havia.
   Chegou enfim a hora de fechar o negócio, e quando já todos estavam acomodados - menos o estudante - saiu o duende, foi direto ao quarto do casal e arrancou a língua da senhora. Não a usava ela enquanto dormia, e ele podia colocá-la em outros objetos, emprestando-lhes assim o dom da fala, e o poder de exprimir suas ideias e sentimentos tão bem como a dama. É claro que somente um objeto podia fazer uso da língua de cada vez; e isso era na verdade coisa muito acertada, senão todos falariam ao mesmo tempo.
   Colocou o duende a língua na tina e que eram guardados os jornais velhos, e perguntou:
  É verdade que não sabes o que é poesia?
   - Como não hei de sabe-lo? Poesia é uma coisa que se poe sempre no cantinho dos jornais, e que as vezes é recomendada. Estou em dizer que possuo muito mais poesia que o estudante, mesmo sendo uma simples tina!
   O duende tirou-lhe a língua e colocou-a no moinho; e - ó céus! que barulho armou ele! Ajustou-a depois ao barril de manteiga, à gaveta do dinheiro - e todos foram da mesma opinião que a tina de jornais velhos, de modo que, a maioria estando de acordo, não havia mais dúvida.
   - Vou contar ao estudante - disse o duende.
   E, subindo de mansinho a escada da cozinha, foi ter à água-furtada onde morava o moço. Estava a vela acesa; o duende espiou pelo buraco da fechadura e viu que o estudante lia o livro rasgado que comprara na venda.
   Mas quanta luz havia lá dentro! Saía do livro um fulgor vivíssimo, que formava um tronco de árvore, encimado pela copa frondosa, cujos ramos se estendida por cima dele. As folhas eram de um verde tenro, e as flores pareciam cabeças de donzelas formosas - umas de olhos negros e brilhantes, outras de olhos azuis; as frutas assemelhavam-se a estrelas resplandecentes; e ouvia-se ali uma música celestial.
  Jamais o duendezinho vira nem ouvira semelhante maravilha, nem sequer em sonhos; e ficou ali, na pontinha dos pés, com um olho pregado no buraco da fechadura, contemplando a luz, até vê-la extinguir-se. Provavelmente apagou-a o estudante quando foi dormir, mas ainda assim o duende não se moveu, pois a música continuava a deleitar-lhe o ouvido - e era tão suave que parecia antes um acalento a adormecer o estudante.
  - Mas que morada prodigiosa! - exclamou o duende. - Quando ia eu imaginar...Quem me dera morar como o estudante!
  Contudo, depois de muito meditar, disse suspirando:
  - O estudante não tem sopa...
  E afastou-se dali.
   Sim: desceu para a venda. E na verdade, em boa hora voltou, pois pouco faltava para que a tina gastasse de todo a língua da dama: já tinha comunicado aos objetos de um lado tudo quanto continha, e dispunha-se a repetir a descrição aos do outro lado, quando chegou o duende e restituiu a língua à dona. Desse dia em diante, porém, a venda inteira, desde o barril de manteiga até a lenha, mudou de opinião sobre a tina: todos a tratavam com grande respeito, e tinham agora tamanha fé nela, que quando o vendeiro lia o artigo de fundo e a crítica teatral em um jornal da tarde, todo o mundo pensava que e a tina quem estava falando.
  Mas o duendezinho é que já não se contentava em ficar ali quieto, escutando as manifestações de sabedoria e de engenho que se podiam ouvir na venda. Mal começava a brilhar à luz do sótão, parecia que aqueles raios luminosos era cordas fortíssimas, que o puxavam, arrastando-o para cima, obrigando-o a subir e espiar pelo buraco da fechadura. Sentia-se então tomando de  um sentimento de grandeza, como o que se apodera de nós diante de um mar varrido pelo açoite da tempestade, e rompia em pranto. Não poderia dizer por que chorava, mais o certo é que àquelas lágrimas se associava também uma doce emoção. Seria o cúmulo da ventura poder estar lá com o estudante, à sombra daquela árvore! Mas isso seria impossível: tinha de se contentar com a espiadela pelo buraco da fechadura, e ainda dando graças por isso! ! E ali permanecia, no frio patamar, suportando o vento de outono que soprava pela tropeira. Por mais frio que ficasse, só o sentia quando se apagava a luz da água-furtava e cessava a música da árvore maravilhosa. Brrr!... Sentia-se então gelado, e descia a escada tiritando, para se esconder no seu cantinho. E como se sentia bem ali, tão quentinho! E quando chegava o Natal, e, com a festa tradicional, a sopa com uma boa porção de manteiga, já não reconhecia outro dono senão o vendeiro.
  Mas uma noite despertou-o um barulho de mil demônios, ao  mesmo tempo que a porta de entrada retumbava, com as batidas da gente da rua, que nela aplicava toda a força que podia. O guarda tocava a buzina, para avisar que rompera um incêndio formidável. Era a casa do vendeiro ou a do vizinho que ardia? Onde era o fogo? Houve um momento do pânico. A mulher do vendeiro, de tão assustada, tirou logo das orelhas os brincos de ouro e guardou-os no bolso, para salvar ao menos alguma coisa. O vendeiro correu a arrecadar o dinheiro, e a criada lembrou-se do xale, que comprara à custa  de tão grande economia. Cada qual procurava salvar o que tinha de melhor, e o duende, que queria fazer também a sua parte, subiu os degraus de quatro em quatro e entrou correndo no quarto do estudante, que estava à janela, contemplando tranquilamente o violento incêndio, que devorava a casa fronteira. O duende tirou de cima da mesa o livro, colocou-o dentro do barrete vermelho e segurou-o com as duas mãos, e bem apertado, Certo de salvar o maior tesouro da casa, subiu correndo ao telhado do edifício e foi sentar-se na chaminé. E ali ficou, iluminado pelas chamas do incêndio da casa vizinha, apertando com ambas as mãos o gorro vermelho que escondia o tesouro.
  E só então ficou sabendo onde estava o seu coração, e a quem realmente pertencia ele...
  Mas quando foi extinto o incêndio, e o duende voltou a refletir com calma, hum!...
   - Repartir-me-ei entre ambos- disse lá consigo. - Não posso abandonar de todo o vendeiro, por causa da sopa!
   Mas afinal- isso era humano. Nós os homens, pela maior parte, não nos apegamos também ao vendeiro por causa da sopa?
FIM


Traduzido por google tradutor

It was such a poor student, who lived in an attic, and had nothing of her. In the same house lived the owner - but the best part, of course. He negotiated with foodstuffs; in a word was storekeeper. The pixie house accustomed to live with it, because every year, on Christmas night, the landlord offered him a bowl of soup, which always lay a bit of butter - which was not little generosity. And the elf lived very pleased on sale, where nothing was missing. Now one evening the student came into the shop to buy candles and cheese because they had none to make him shopping. Received the package, the innkeeper and his wife made him the fulfillment of parting with a movement of the head - even though she was lady who could do anything else to move the head because he had an extraordinary language. And the student with a bow, but suddenly stopped to read the piece of paper that had wrapped cheese. It was a torn sheet of an old book, a book that should never have been so torn - a book of poetry.
   - And still are many others - said the grocer. - He gave it to me an old woman, a few coffee beans. For forty cents, I give you what you lack.
    - Thank you - replied the student. - Replace it with the cheese, then: I might as well eat the bread with butter only. It would be a shame so mutilate the book ... You're a man, a practical man; but poetry meant as much as this tub.
    It was a very unfriendly sentence in fact, mainly to the tub; but the grocer laughed, and the student imitated him, because he was just kidding. The elf, however, was not pleased to hear similar words, addressed to a businessman who owned the house, and sold the best butter was.
   We arrived at last time to close the deal, and when we were all accommodated - unless the student - came the elf, went straight to the master bedroom and pulled the tongue lady. He not used it in his sleep, and he could put it into other objects, thus lending them the gift of speech, and the power to express their ideas and feelings as well as the lady. It is clear that only one object could make use of the speaking time; and it was actually very right thing, but all would speak at the same time.
   Put the goblin language in the tub and were saved old newspapers, and asked:
  It is true that you do not know what is poetry?
   - How could you not know it? Poetry is something that always goes down in the corner of the newspapers, and that sometimes is recommended. I am to say that I have much more poetry than the student, even though a simple tina!
   The elf took his tongue and placed it in the mill; and - heavens! that noise pitched it! Set it after the barrel of butter, the cash drawer - and all were of the same opinion that the tub of old newspapers, so that the majority is in agreement, there was no doubt.

   - I'll tell the student - said the elf.
   And rising quietly the kitchen stairs, he went to the penthouse where the boy lived. It was lighted candle; the goblin peeped through the keyhole and saw that the student read the torn book bought on sale.
   But how much light was inside! Out of the book one most lively glow, which formed a tree trunk, topped by lush canopy, whose branches stretched over it. The leaves were of a tender green, and the flowers looked like heads of beautiful maidens - a black and bright eyes, other blue eyes; fruit resembled stars shining; and there could be heard celestial music.
  Pixie never seen or heard similar wonder, not even in dreams; and she stood at the foot of the tip, with an eye nailed in the keyhole, watching the light, to see it die out. Probably went out to the student when he was sleeping, but still the elf did not move as the music continued to delight his ear - and it was so soft it seemed rather a lullaby to sleep the student.
  - But what prodigious address! - Said the elf. - When would I imagine ... I wish I could live like a student!
  However, after much meditation, he sighed:
  - The student does not have soup ...
  And he walked away from there.
   Yes: down for sale. And indeed, in good time back, because little was missing for the tub spent around the language of the lady: he had already communicated to objects on one side everything contained, and had to repeat the description to the other side, when it came the goblin and restored the tongue to the owner. From that day on, however, the entire sale, from the barrel of butter to the wood, changed his mind on the tub: all treated her with great respect, and now had great faith in it, that when the grocer read the feature article and theatrical criticism in an afternoon newspaper, everyone thought and tina who was speaking.
  But the pixie is no longer content to stay there quietly, listening to the manifestations of wisdom and ingenuity that could be heard on sale. Just beginning to shine the light of the attic, it seemed that those light rays was very strong ropes, the pulling, dragging him up, forcing him to rise and peep through the keyhole. He felt then taking a sense of grandeur, like that seizes us in front of a sea swept by the storm whip, and broke into tears. could not say why she cried, the more certain is that those tears are also associated a sweet emotion. It would be the height of good fortune could be there with the student in the shade of that tree! But this would be impossible: he had to settle for a peek through the keyhole, while still giving thanks for this! ! And there remained in the cold level, supporting the autumn wind blowing the tropeira. For colder it got, only he felt when he turned off the light water-stealing and cease the music wonderful tree. Brrr! ... It was so cold and shivering down the stairs to hide in your corner. And as she was right there, so warm! And when it came Christmas, and with the traditional feast, the soup with a good portion of butter, no longer recognized another owner but the storekeeper.
  But one night roused him a noise of a thousand demons, while the gateway boomed with the beats of the street people, that it applied all the force he could. The guard sounded the horn to warn that had broken a formidable fire. It was the house of the landlord or neighbor's burning? Where was the fire? There was a moment of panic. The wife of the landlord, so frightened, took just the ears the gold earrings and put them in his pocket, to save at least something. The grocer ran to collect the money, and the maid remembered the shawl, which he had bought at the expense of such great economy. Each sought to save what was best, and the elf, who also wanted to do his part, went up the four steps in four and ran into the student's room, which was at the window, quietly contemplating the wildfire, devouring home border. The elf took from the table the book, put it in the red cap and held it with both hands, and tight, sure to save the greatest treasure of the house, ran up to the roof of the building and sat down the chimney. And there was lit by the flames of fire from the neighboring house, clutching with both hands the red cap that hid the treasure.
  And only then he learned where his heart, and who really belonged to him ...
  But when it was extinguished the fire, and the elf returned to reflect calmly, hum! ...
   - Dispense I will between ambos- said there with you. - I can not leave all of the grocer, because of the soup!
   But afinal- it was human. We men, mostly, not cling well to the landlord because of the soup?
END
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