terça-feira, 11 de agosto de 2015

O VELHO SULTÃO - CONTOS DE GRIMM

Um camponês tinha um cão Sultão, que, de tão velho que era, já tinha perdido todos os dentes e não conseguia mais segurar a presa.
   Certa ocasião, o camponês, parado à porta da casa, disse à mulher:
   - Amanhã vou matar o velho Sultão. Já não presta para nada.
   A mulher, compadecida do fiel animal, respondeu-lhe:
   - Serviu-nos durante anos com lealdade que bem poderíamos, agora, lhe dar sustento de graça.
    - Qual! -disse o homem,- não estás bem certa, mulher! Ele não tem mais um só dente que seja e nenhum ladrão o respeita.
    O pobre cão, que estava por perto , deitado ao sol, ouviu tudo e ficou triste, pensando que o dia seguinte seria o último de sua vida. Tinha um bom amigo, o lobo, e ao cair da tarde, foi procurá-lo no mato e contou-lhe o que o esperava.
  - Escuta aqui, compadre - disse o lobo - não te desepere que te ajudarei. Tenho uma idéia. Amanhã, bem cedo, teu amo e sua mulher irão ao campo e levarão consigo o filhinho, porque não tem com quem deixá-lo.Enquanto trabalham, costumam por a criança na sombra, atrás do arbusto. Deita-te ali, como se quisesses vigiá-la. Em seguida eu saio do mato, roubo a criança e tu corres atrás de mim fingindo que me persegues. Eu, então, deixo cair o pequeno. E os pais, pensando que o salvaste, não irão mais causar-te dano. Pelo contrário, hão de tratar-te bem e nada te faltará.
   A proposta agradou ao cão e ele executou o plano tal como o haviam combinado. O pai gritou ao ver o lobo correndo com seu filhinho na boca e, quando o velho Sultão o trouxe de volta, ficou contente que o acariciou, dizendo:
   - Ninguém te tocará num só pelo e não te faltará alimento pelo resto da vida.
   Depois, dirigindo-se à sua mulher, ordenou-lhe:
   - Vai para casa e prepara um mingau gostoso para o Sultão e dá -lhe o meu travesseiro para que se deite em cima.
   Daí por diante, Sultão passou a levar uma boa vida. Pouco depois, o lobo veio visitá-lo e alegrou-se por ver que tudo havia saído tão bem.
   - Compadre - disse ele - espero que fecharás um olho se me surgir uma oportunidade de levar uma ovelha gorda de teu amo. Hoje em dia está difícil ganhar-se a vida.
   - Não contes comigo- respondeu o cão.- Sou fiel a meu amo e não posso concordar com isso.
    O lobo pensou que ele não estivesse falando sério e, ao chegar a noite, veio de mansinho para executar seu plano. Mas o camponês, alertado por Sultão, já o estava esperando e, com um malho, penteou-lhe o pelo a valer.
  Obrigado a safar-se, o lobo saiu correndo e, de passagem, gritou para o cão:
   - Espera, criatura ruim, hás de me pagar!
   Na manhã seguinte mandou que o javali fosse falar com o cão, encarregando-o de levar ao mato para ajustarem as contas. O velho Sultão não encontrou outro companheiro senão um gato com apenas três pernas. Enquanto se dirigiam ao bosque, o pobre bichano caminhava de rabo em pé, pois o esforço que fazia para andar lhe causava dores. O lobo e seu assistente já estavam esperando no lugar convencionado, mas, ao verem, de longe, o adversário, pensaram que vinha brandindo uma espada, pois assim lhes pareceu a cola erguida do gato. Quanto a este, que avançava aos saltos sobre três pernas, imaginaram que estava apanhando pedras para depois atirá-las neles. Os dois, então, ficaram tomados  de pânico. O javali escondeu-se no meio dos arbustos,  e o lobo saltou para cima de uma árvore. Quando o cão  e o gato chegaram ao local, admiraram-se de não ver ninguém. Como o javali estava escondido pelos arbustos, as suas orelhas ficaram aparecendo. Enquanto o gato olhava ao redor, o javali mexeu com as orelhas e o bichano, pensando que era um rato, deu um salto e aplicou nelas uma boa dentada. O javali, então , levantou-se aos berros e saiu gritando:
   - Lá de cima da árvore é que está o culpado!
   O cão e o gato ergueram s cabeças e avistaram o lobo que, com vergonha de se haver portado tão covardemente, fez as pazes com Sultão.
FIM

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