domingo, 9 de agosto de 2015

O PÁSSARO DO FEITICEIRO - CONTOS DE GRIMM

Era uma vez um feiticeiro que, tomando o aspecto de um mendigo,ia de porta em porta pedir esmola e aproveitava a ocasião para roubar as moças mais formosas. Ninguém sabia aonde as levava, pois elas desapareciam para sempre. Um dia apresentou-se ele na casa de um homem que tinha três lindas filhas. Como de hábito, estava transformado em mendigo, de cesto de esmola. Pediu de comer e a moça mais velha lhe deu um pedaço de pão. Ele, ao sair, tocou-a com um dedo e bastou isso para que  ela entrasse para dentro do cesto.
   Em seguida o feiticeiro afastou-se em grandes passadas, levando a moça para sua casa, que ficava em meio de uma floresta sombria. Dentro da casa,onde tudo era de grande magnificência, ele deu à jovem todas as coisas que ela quis.
    - Minha querida- disse-lhe- há de gostar daqui, pois terás tudo o que teu coração desejar.
    Ao fim de alguns dias, avisou-a:
   - Tenho de viajar e vou deixar-te sozinha por algum tempo. Aqui tens as chaves da casa;  podes percorrê-la e ver o que contém. Mas não entras na sala que se abre com esta pequenina chave. Proíbo-te, sob pena de morte! - Deu-lhe, também, um ovo  e recomendou: - Guarda bem este ovo e é melhor que o leves sempre contigo, pois se o perderes haverá uma grande desgraça.
    A jovem pegou as chaves e o ovo, prometendo obedecer em tudo. Quando o feiticeiro partiu, ela andou pela casa toda, de baixo a cima, examinado as salas que  rebrilhavam de ouro e prata, com um luxo como jamais  sonhara pudesse existir. Finalmente chegou diante da porta proibida; quis passar adiante, mas a curiosidade não a deixou em paz. Meteu a chave na fechadura e, quase sem esforço, abriu a porta. Mas, que viram seus olhos? Ao centro havia uma grande bacia ensanguentada, cheia de membros humanos e, junto a ela, um cepo de madeira com um machado reluzente em cima. Levou um susto tão grande que o ovo, que tinha nas mãos, caiu na bacia. Apressou-se em apanhá-lo e secar o sangue, mas tudo foi inútil; não houve meio de apagar a mancha, por mais que a lavasse e esfregasse.
    Pouco tempo depois o homem regressou da viagem e logo lhe pediu as chaves e o ovo. A jovem entregou-lhe tudo, mas as mãos lhe tremiam. O feiticeiro, vendo as manchas vermelhas, compreendeu que ela havia entrado na sala sangrenta.
    - Já que entraste no quarto contra as minha ordens, agora vais entrar nele contra a tua vontade!
    Dito isto, atirou-a ao solo, arrastou-a pelos cabelos e lhe cortou a cabeça, fazendo jorrar o sangue pelo chão. Depois jogou tudo dento da bacia.
   - Agora vou apanhar a outra!
    E, transformando-se novamente em mendigo, voltou à porta do mesmo homem, para pedir esmola. A segunda filha deu-lhe um pedaço de pão e o feiticeiro apoderou-se dela apenas tocando-a, como fizera com a primeira. A jovem não teve melhor sorte que sua irmã. Levada pela curiosidade, abriu a sala sangrenta e, no regresso do seu raptor, teve de pagar , também, com a vida. O feiticeiro roubou, então a terceira irmã, mas essa era inteligente e esperta. Depois que ele lhe deu as chaves e o ovo e saiu de casa, ela, em primeiro lugar, tratou de guardar bem o ovo; em seguida olhou todas as peças e por último abriu a sala proibida. Céus, que espetáculo! Suas duas irmãs jaziam mortas e despedaçadas na bacia. Mas a moça não perdeu tempo e pô-se, em seguida a recolher os membros e a ajustá-los no seu devido lugar: cabeça, tronco, braços e pernas. Depois de tudo posto em ordem,a moças recuperaram a vida, começaram a mover-se e abriram os olhos. Com grande alegria, beijaram-se e se abraçaram carinhosamente.
    Quando chegou, o feiticeiro logo pediu as chaves e o ovo. Não descobrindo, porém, nenhuma mancha de sangue, disse:
  - Passaste a prova e serás minha noiva.
   Mas, daquele momento em diante, perdeu todo poder sobre ela e era obrigado a fazer tudo o que ela exigia.
   - Pois bem- respondeu a moça, - primeiro levarás a meu pai e a minha mãe um cesto cheio de ouro, transportando-o nas tuas costas , enquanto preparo a festa do casamento.
   E mais que depressa foi ver suas irmãs, que se haviam escondido em outra sala, e disse-lhes:
   - Chegou o momento de salvá-las; o malvado vai levar vocês à nossa casa, mas, quando chegarem lá, enviem-me auxílio.
   Meteu as duas numa cesta bem grande; cobriu-as com ouro e , chamando o feiticeiro, disse-lhe:
  - Leva este cesto à minha casa, mas não te atrevas a parar para descanso, que te estarei vigiando pela janela.
     O feiticeiro colocou o cesto às costas e pôs-se a caminho. Pesava tanto que logo o suor começou a lhe escorrer pelo rosto. Sentou-se para descansar um pouco, mas imediatamente uma voz saiu de dentro  do cesto e disse:
   - Estou olhando pela janela e vejo que estás parado. Vamos, caminha!
    Acreditando que a voz era a de sua noiva, ele se pôs a caminhar novamente. Mais adiante quis descansar outra vez, mas em seguida a voz se fez ouvir:
   - Estou olhando pela janela e vejo que estás parado.Vamos caminha!
   E sempre que tentava deter-se, acontecia a mesma coisa. Finalmente, chegou à casa das jovens, gemendo e sem folego, e ali entregou o cesto que continha as duas irmãs e o tesouro.
   Nesse meio tempo, a noiva preparava a festa de casamento, tendo convidado todos os amigos do feiticeiro. Depois, trouxe uma caveira com dentes arreganhados, adornou-a com uma coroa de flores e, levantando-a para cima, colocou-a na janela do sótão  como  se estivesse olhando para fora. Feito isso, meteu-se num barril cheio de mel e, a seguir, abrindo um colchão de penas, resolveu-se nelas. As penas se colaram ao seu corpo, deixando-a com o aspecto de ave estranha. Assim como estava, ninguém seria capaz de reconhecê-la. Depois saiu de casa e, enquanto ia caminhando, encontrou alguns dos convidados, que lhe perguntaram:
   - De onde vens, ave encantada?
   - Da casa do feiticeiro me puseram pra fora.
  -  Que faz a noiva, jovem e amada?
   - Varreu a casa toda e agora pela janela do sótão olha a estrada.
  Finalmente, encontrou o noivo que voltava, lentamente, e que, como os demais, lhe perguntou:
    - De onde vens, ave encantada?
   - Da casa do feiticeiro me meandaram embora.
  - Que faz a noiva, jovem e amada?
    - Varreu a casa toda e agora pela janela do sótão olha a estrada.
   O  noivo levantou os olhos e, vendo  a caveira enfeitada, pensou que era sua noiva e lhe dirigiu um amável  cumprmento, acenando coma cabeça. Quando, porém, entrou em casa com seus seus convidados, apresentaram-se os irmãos e parentes da noiva, que tinham vindo socorrê-la. Fecharam todas as portas para que ninguém pudesse escapar e depois prenderam  fogo à casa, acabando assim com o feiticeiro e com todos do seu bando de assassinos.
  FIM

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