domingo, 23 de agosto de 2015

A BELA ADORMECIDA DO BOSQUE- CONTOS DE GRIMM

Viviam, há muitos anos, um rei e uma rainha que todos os dias se lamentavam:
  - Ah! se tivéssemos um filho!
  Mas nunca eram atendidos. certo dia em que  a rainha estava tomando banho no rio, um sapo saltou das águas e lhe disse:
   - Teu desejo será satisfeito; antes de uma no darás à luz uma filha.
   E aconteceu o que o sapo anunciara; a rainha teve uma menina tão linda que o rei não cabia em si de alegria e organizou uma grande festa. Convidou, não só seus parentes, amigos e conhecidos, mas também as fadas, para que elas abençoassem a criança. Havia no seu reino treze fadas e como o monarca só tinha doze pratos de ouro para serví-las no banquete, não teve outro remédio senão deixar uma delas sem convite.
   A festa celebrou-se com todo o esplendor e, quando terminou, cada uma das fadas concedeu à menina um dos seus dons maravilhosos. Uma lhe presentou a virtude; a segunda, a beleza; a terceira, a fortuna, e assim sucessivamente, adotaram-na de tudo quanto se possa desejar neste mundo.Quando onze fadas haviam pronunciado suas graças apresentou-se , de repente, a décima-terceira que, desejando vingar-se por não haver sido convidada para a festa, exclamou, sem cumprimentar nem olhar para ninguém:
  - Quando a princesa completar quinze anos, ela se ferirá num fuso e caíra morta.
   E, sem pronunciar mais uma palavra, deu as costas e saiu da sala.
   Todos os presentes ficaram apavorados. Restava,porém,   a décima-segunda fada, que ainda não havia expressado o seu desejo. Embora não tivesse poderes para anular a sentença fatal, pode atenuá-la. Adiantado-se, pois, disse:
    - A princesa não ficará morta; mas vai cair num sono que durará cem anos!
    O rei, ansioso de preservar sua querida filha da desgraça que a ameaçava, mandou queimar todos os fusos que havia no reino. Enquanto isso, os dons concedidos pelas boas fadas foram se manifestando na menina. Ela tornou-se linda, modesta, amável e ajuizada, fazendo com que todos a estimassem.
   No dia em que completou quinze anos aconteceu que o rei e a rainha se ausentaram do palácio e a jovem ficou sozinha. Aproveitando a ocasião para andar por toda parte e examinar, como bem quisesse,todos os recantos do castelo. Chegou, por fim, a uma velha torre. Subiu a escada, estreita, de caracol, que conduzia ao alto e viu-se diante de uma portinhola. Deu volta na chave enferrujada que havia na fechadura e, quando a porta se abriu, avistou uma velha sentada numa salinha que, manejando um fuso , fiava linho.
   - Bom dia, avózinha - saudou-a a princesa.- Que é que estás fazendo?
   - Estou fiando- respondeu a velha, sacudindo a cabeça.
   - Que é isso que roda tão alegremente? - indagou a moça. E, pegando no fuso, quis também fiar. Mal, porém, tocou o instrumento, realizou-se a maldição. Espetou o dedo nele,e, no mesmo instante, caiu sem sentidos sobre a cama que havia na sala, adormecendo profundamente. Seu sono se propagou pelo palácio inteiro. O rei e a rainha, que acabavam de regressar e haviam entrado no salão, adormeceram, e, com ele, a corte inteira. Os cavalos na estrebaria dormiram; os cães no pátio; as pombas no telhado; as moscas na parede  e até o fogo, que chamejava no fogão, imobilizou-se. O assado deixou de cozinhar e o cozinheiro, que se dispunha a puxar a orelha do seu ajudante, por ter feito uma travessura, soltou-o e adormeceu. O vento parou e nas árvores em frente ao palácio já não se movia uma só folha.
  Ao redor do castelo começou a crescer uma cerca de espinhos que, de ano para ano, se tornava cada vez mais alta. Acabou ocultando de tal forma o palácio que nada se via dele, nem sequer a bandeira na ponta da torre. E pelo país inteiro correu a lenda da bela adormecida do bosque, pois era assim que chamavam a princesa.
     Essa lenda atraia, de quando em quando, os jovens príncipes dispostos a atravessar a cerca de espinhos e entrar no palácio. Contudo, jamais o conseguiram porque o roseiral, como se tivesse mãos, os aprisionava e os infelizes ficavam sem poder soltar-se e acabavam tendo uma morte terrível.
   Decorridos muitos anos e muitos anos, chegou ao país o filho do rei, e ele ouviu quando um velho contava a história da cerca de espinhos e como dentro dela havia um palácio habitado por uma lindíssima princesa chamada a Bela Adormecida, que estava mergulhada em profundo sono, junto com o rei, a rainha e toda a corte. Sabia, também, por seu avô, que muitos príncipes haviam tentado atravessar a cerca de espinhos, mas que todos haviam morrido tragicamente.
    Disse o jovem ao velho:
    - Pois eu não temo nada.Irei ver a Bela  Adormecida.
    Fi inútil querer dissuadí-lo. O Príncipe não atendeu aos conselhos do velho.
   Nisto acabavam de transcorrer os cem anos e chegara o dia em que a princesa deveria acordar. Quando o filho do rei se aproximou da cerca de espinhos, encontrou grandes e lindas flores. E o roseiral, abrindo-se por si, permitia que avançasse sem dano algum. Após a sua passagem, a cerca tornou-se  a fechar-se.
  No pátio do palácio viu os cavalos e os cães de caça todos eles dormindo e, no telhado, as pombas, imóveis, tinham a cabecinha debaixo da asa.
   Quando o príncipe entrou no palácio, as moscas estavam dormindo na parede; o cozinheiro tinha , ainda , a mão estendida como para pegar o rapaz e a criada continuava sentada diante da galinha preta que ia depenar. Continuou andando e, quando chegou ao salão, viu toda a corte adormecida, inclusive o rei e a rainha, que estava sentados no trono. Seguiu adiante. Em toda parte reinava um silêncio tão profundo que ele ouvia a sua própria respiração.
    Por fim chegou à torre e abriu a porta da sala onde estava a Bela Adormecida. Viu a jovem deitada na cama e, notando a sua formosura, não podia mais afastar os olhos dela. Inclinou-se e beijou-a. No momento em que seus lábios a tocaram, a princesa abriu os olhos e, despertando, contemplou-o com ternura. Desceram juntos e, ao entrarem no salão, o rei e a rainha e todos os cortesãos despertaram, olhando-se com assombro. E os cavalos no estábulo se levantaram e se sacudiram; os cães de caça puseram-se a brincar e a abanar o rabo; as pombas, no telhado, tiraram as cabecinhas de baixo da asa e, olhando em redor, saíram voando para o campo; as moscas prosseguiram seu caminho pela parede; o fogo avivou-se no fogão e cozinhou a comida; o assado continuou dourando; o cozinheiro deu um tabefe tão forte no seu ajudante que o fez gritar  e a criada terminou de depenar a galinha.
   Pouco depois celebrou-se, com todo o esplendor, o casamento do príncipe com a Bela Adormecida do Bosque e viveram felizes para o resto da vida.
  FIM

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