Viveu há muitos anos uma cozinheira chamada Margarida, que usava sapatos de salto vermelho. Quando saía com eles, requebrava-se, toda satisfeita e pensando: "Não deixas de ser uma bela moça!"
Ao chegar em casa, de puro contentamento, bebia um trago de vinho; e, como o vinho abre o apetite, começava a provar de tudo, enquanto dizia:
- A cozinheira deve saber o gosto da comida!
Um dia seu amo preveniu:
- Margarida, esta noite tenho um convidado. Prepara duas galinhas, e que estejam bem assadas!
- Pois não, senhor!
Matou as galinhas, escaldou-as, depenou-as e, a seguir, meteu-as no espeto, que levou ao fogo para assar. As galinhas começaram a ficar douradas e já estavam quase prontas. Mas o hóspede, nada de aparecer! Disse , então, Margarida a seu amo.
- Se o convidado demorar mais, vou tirar as galinhas do fogo; será uma pena, pois estão bem no ponto.
- Eu mesmo vou buscá-lo! - resolveu o dono da casa.
Mal o patrão deu as costas, Margarida pôs de lado o espeto com as galinhas e pensou: " Tanto tempo junto ao fogo faz a gente suar e dá sede. Sabe lá quando voltarão! Enquanto isso, dou um pulo à adega para um traguinho."
Desceu bem ligeiro, encheu uma jarra e disse:
- Deus te abençoe, Margarida, e que isso te faça bem!- E tomou um bom trago. - Este vinho pede mais: nem é bom parar! - acrescentou.- E tomou outro gole, bem grande.
Depois voltou à cozinha e tornou a pôr as galinhas no fogo; untou-as bem com manteiga e começou a virar, alegremente, o espeto. Com o assado desprendesse um aroma dos mais deliciosos, Margarida pensou: " Devo prová-las para que não lhes falte algo!" - E , passando um dedo , provou as galinhas.
- Chii! - exclamou ela. - Como estão gostosas! É pecado e crime não comê-las logo!
Correu à janela para ver se chegava o patrão com seu convidado. Como não visse ninguém, voltou para juntos das galinhas e pensou: " Esta asa vai queimar; é melhor comê-la. " Cortou-a antes que fosse tarde; comeu-a e achou que estava bem gostosa." É preciso comer também a outra , para que o patrão não note que falta algo! " Tendo comido ambas, voltou à janela para ver se o patrão vinha vindo, mas nada de patrão! " Quem sabe- pensou - se eles nem vem; é bem capaz que tenham se metido nalguma taverna!" E, depois de refletir algum tempo, disse em voz alta:
- Vamos , Margarida, anima-te; uma já está começada; mais um traguinho , e a paparás inteira. Depois hás de ficar em paz. Não vejo razão para desperdiçar essa dádiva e Deus.
Desceu novamente à adega; tomou um bom trago e, com toda a satisfação, comeu a galinha inteira.
Desaparecida uma delas sem que o patrão houvesse voltado, Margarida pensou: "Onde está uma, deve estar a outra. As duas formam um par! Acho que outro traguinho não me fará mal!" Tomou , novamente, um gole bem reforçado e fez a outra galinha seguir para onde estava a primeira.
Acontece que, no melhor do banquete, chegou o patrão.
Depressa, Margarida- gritou-lhe .- O convidado não demora!
- Sim senhor, vou servir imediatamente! - respondeu a moça.
Enquanto isso, o dono da casa foi verificar se a mesa estava bem posta e, apanhando uma faca grande com que tencionava trinchar as galinhas, pôs-se a afiá-la no corredor. Nisto chegou o convidado. Bateu delicadamente à porta. margarida correu a abrir para ver quem era e, ao dar com ele,pôs o dedo nos lábios e fêz:
- Pst! Pst!" Volte bem depressa . Se meu patrão o pega aqui , ai do senhor! Ele o convidou para jantar, mas sua verdadeira intenção é cortar-lhe as duas orelhas. Escute só como está afiando a faca!
O homem ouviu o ruído e saiu disparada escada abaixo. Margarida não perdeu tempo. Correu à presença do seu amo e gritou:
- Belo sujeito esse seu convidado!
- Por que , Margarida? Que queres dizer com isso ?
- Sim- respondeu ela- acabava de me arrebatar do prato as duas galinhas que eu ia levando para servir e saiu, a toda com elas.
- Bela maneira de proceder! - disse o dono da casa, sentindo a perda das galinhas. Se ao menos tivesse deixado uma delas, eu teria algo para jantar.
E saiu à rua gritando que voltasse , mas o outro se fez de surdo. O patrão,então, deitou a correr atrás dele, ainda com a faca na mão e aberrar:
- Só uma , só uma ! - para que lhe deixasse ao menos uma das galinhas . Mas o convidado, entendendo que ele queria dizer que se conformaria apenas com uma de suas orelhas, pôs-se a correr ainda mais , para salvar as duas.
FIM
Os contos que estou transcrevendo são de livros muito antigos que ganhei de meu querido pai. Quando percebi que eles estavam ficando velhos e amarelados, fiquei com medo de perdê-los. Resolvi então salvá-los para sempre, digitando letra por letra e me envolvendo em cada história. Obrigada pai e mãe, amo vocês! E um obrigada às novas tecnologias que me permitirão salvar meus livros e dar a outras pessoas a oportunidade de se emocionarem com Os Contos de Grimn e Andersen como eu me emocionei.
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