Os contos que estou transcrevendo são de livros muito antigos que ganhei de meu querido pai. Quando percebi que eles estavam ficando velhos e amarelados, fiquei com medo de perdê-los. Resolvi então salvá-los para sempre, digitando letra por letra e me envolvendo em cada história. Obrigada pai e mãe, amo vocês! E um obrigada às novas tecnologias que me permitirão salvar meus livros e dar a outras pessoas a oportunidade de se emocionarem com Os Contos de Grimn e Andersen como eu me emocionei.
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
O PATINHO FEIO - CONTOS DE ANDRESEN
Era uma delícia a vida no campo no verão. Os trigais estavam dourados, contrastando com a aveia, ainda verde; e nos prados, de um verde tenro, viam-se as medas de forragem recém- ceifada. Por cima da medas voavam as cegonhas de pernas vermelhas, engrolando o idioma egípcio, que aprenderam com a mãe. Campos e prados eram cercados de bosques espessos, entre os quais havia lagos profundos. Era na verdade uma delícia, a vida no campo!
Dominando a paisagem erguia-se ao sol a casa da granja, cercada de canais profundos, e toda coberta de bardanas, que desciam até a água. Era tão emaranhada a vegetação como no mato, e não é de admirar que uma pata fosse aninhar ali. Ela não abandonava seus ovos, à espera de que os patinhos descascassem; mas começava a se sentir fatigada, porque já estava no choco há muito tempo, e não recebia muitas visitas: suas amigas achavam melhor nadar no canal do que ir conversar com ela no meio das bardanas.
Afinal os ovos foram estalando, um após outro: Crac, crac! E em todos eles foram aparecendo cabecinhas vivas.
- Pio, pio, pio! - piavam os patinhos, olhando para todos os lados, cheios de curiosidade.
E quando a mãe pata chamou- Cuá! Cuá" Cuá! todos foram saindo muito depressa de dentro das cascas partidas, e se puseram a olhar em roda. E a mãe deixou que olhassem à vontade entre as folhas de bardana, porque a cor verde é muito boa para a vista.
- Como o mundo é grande! - disse o menorzinho.
E tinha razão: estavam ali muito mais à vontade do que dentro da casca. Mas a mãe foi explicando:
- Então vocês pensam que o mundo todo se reduz a isto? Não! O mundo estende-se para além do jardim, até o campo do pároco; mas eu nunca fui até lá. Agora vamos ver: todos descascaram?
Levantou-se para verificar se estavam todos os ovos partidos, e murmurou.
- Não...Ainda não saíram todos. falta o maior. Até quando irá isso? Já vou ficando cansada!
E a mãe pata deitou-se de novo no ninho.
- Então! Como vai isso? - perguntou-lhe uma pata velha que foi visitá-la.
- Ora, aqui estou eu perdendo tempo com este ovo que não quer descascar...Mas olha para os outros! Nunca vi patinhos mais lindos! Cada um é ver o pai! Aquele grande mandrião, que nunca me veio visitar!
- Deixa-me ver esse ovo que não quer descascar- disse a pata velha.- Isso há de ser ovo de perua...Também me enganaram uma vez assim, e só eu sei que trabalhos me custou criar aquele bicho, porque ele tinha medo da água, e não havia meio de fazê-lo entrar no tanque! Por mais que pedisse, e rogasse, explicasse- tudo era inútil. Deixa-me ver o ovo...Sim, mulher! é ovo de perua. Deixa-o para aí e trata de ensinar as crianças a nadar.
- Vou esperar mais um pouco- disse a pata. - Já fiquei no ninho tanto tempo que um dia a mais ou a menos não me faz diferença.
- Como quiseres- respondeu a pata velha, afastando-se.
E, afinal, a casca rompeu-se. E o pequerrucho ia abrindo caminho e piando:
- Pi, pi, piii!
Era um patinho muito grande, e magro. A mãe contemplou-o, e disse depois:
- Mas que o patinho feio! E tão grande! Não se parece com os outros...Será um filhote de peru? Ora! Já sei como hei de verificá-lo! Ele há de entrar na água, nem que eu tenha de empurrá-lo à força!
O dia seguinte amanheceu magnifico. Dentro em pouco o sol batia em cheio nas folhas de bardana. A mãe desceu para o canal com toda a ninhada, e- zás! - lá se foi para dentro dágua. E chamava:
- Cuac! Cuac!
Um por um foram os patinhos jogando-se à água: desapareciam nela e tornavam a subir, perfeitos nadadores que eram, movendo as patinhas a preceito. Lá estavam todos eles, sem faltar nem o patinho maior e tão feioso.
- Não- disse a mãe.- Não é peru! Basta ver como move as patas e como se mantém direito acima da água. É meu filho mesmo! Afinal, nem é tão feio, visto assim daqui...Cuac, Cuac! Agora venham: vou levá-los ao pátio, para apresentá-los aos amigos. Mas esperem! Não se afastem de mim! Senão serão pisoteados...e - cuidado com o gato!
Chegaram em um momento de grande tumulto, poque duas famílias disputavam uma cabeça de enguia, que o gato arrebatou, afinal.
- Vejam vocês como é o mundo-disse a mãe pata, afiando o bico- porque também cobiçava a cabeça de enguia.
- Escutem, meninos! Movam somente os pés, avancem bem erguidos, e inclinem a cabeça, cumprimentando aquele pato velho que lá está. É ele o principal aqui, e é de raça espanhola; por isso está assim tão gordo. Estão vendo a fita vermelha que tem na perna? Pois é a prova da mais alta distinção a que pode chegar um pato: puseram-lhe aquela marca, para que todos os homens e animais- o reconheçam, isto é, para que não se perca. Vamos! Não dobrem os dedos! Um pato bem-educado anda sempre com os dedos bem esticados, como fazem seus pais...Assim! Agora curvem o pescoço e digam: Cuac!
Obedeceram os patinhos, mas os outros patos olhavam para eles e diziam, com a maior insolência:
- Ora vejam só! Como se já não houvesse aqui gente de sobra, ainda vem mais esses, para atravancar o hotel! Mas...que é aquilo? Que sujeitinho mais feio! Não ! Isso é demais, e não havemos de tolerá-lo!
E um pato atirou-se sobre o pobre patinho feio, dando-lhe uma bicada no pescoço.
- Isso não! - gritou a mãe pata. - Não lhe toques!Não faz mal a ninguém!
- Sim, mas é muito grande, e muito esquisito- replicou o pato atrevido. - É justo que seja castigado.
Interveio então o pato velho, o que tinha a fita na perna:
- Uma bonita ninhada...Todos são bonitos, a não ser aquele - mas esse é mesmo muito feio...Ela devia incubá-lo de novo!
-Isso não é possível, Alteza- disse a mãe do patinho. - Ele não tem beleza, mesmo; mas é muito bom menino, e nada tão bem como ou outros- nada até melhor que qualquer deles. Creio que com o tempo há de tornar-se mais bonitinho, e ficará do tamanho dos outros...É que permaneceu tanto tempo na casca que não saiu bem conformado.
E, alisando as penas do patinho e acariciando-lhe o pescoço, continuou:
- Além disso, é um varão, e nos homens a beleza é o de menos. É já muito forte, e saberá abrir caminho na vida.
- Os outros patinhos são muitos graciosos- disse o velho pato. - Enfim, como quer que seja, estás em casa aqui, e podes fazer o que te parecer.
Os patinhos moviam-se à vontade, mas o pobre do patinho que saíra por último do ovo e era tão feio, só recebia bicadas, puxões e maus tratos, tanto dos outros patos como das galinhas. E todos diziam:
- É muito grande!
E o peru, que, por ter nascido de esporas se considerava já um imperador, estufou, como a vela de um barco impelido pelo vento, e atacou-o, gritando "Glu, glu, glu!" Estava rubro de cólera. O pobre patinho não sabia para onde fugir, não achava onde se esconder; e padecia muito, porque sua fealdade só lhe atraía o ódio do pátio inteiro.
Assim foi no primeiro dia; e a situação só foi piorando nos seguintes. O infeliz patinho era vítima da perseguição unânime dos voláteis do pátio, e nem seus irmãos o poupavam: tratavam-no com o maior desprezo e diziam-lhe:
- Por que não te apanha o gato, espantalho?
E os patos o beliscavam, as galinhas lhe davam bicadas, e a menina que trazia a ração ao aviário o enxotava a pontapés.
Foi então que o patinho ergueu o voo e passou por cima da cerca, espantando os passarinhos que estavam pousados nos arbustos.
- Assustaram-se de me ver, porque sou tão feio! - pensou o patinho.
Fechou os olhos e continuou voando em direção ao grande brejo, onde viviam os patos silvestres. Descansou ali toda a noite, porque estava fatigado e abatido do longo voo.
Ao amanhecer, descobriram os patos silvestres o novo companheiro.
- De que espécie és tu? - perguntaram.
Mas o pequerrucho virava-se para todos os lados, fazendo saudações, enquanto os outros diziam:
- Arre! Como és feio! Enfim...isso não nos importa, contando que não te cases com alguma da família.
Coitadinho! Casar ! A única coisa a que aspirava era um pouso, para dormir tranquilo entre os juncos e um pouco de água lodosa para beber.
Passados alguns dias apareceram dois gansos silvestres. Não fazia muito tempo que tinham saído do ninho, por isso eram muito insolentes. E um deles disse logo:
- Escuta, camarada: és tão feio que estou gostando de ti! Queres acompanhar-nos, e ser como nós uma ave de arribação? No outro banhado, que não fica longe, vivem algumas gansas muito amáveis e simpáticas. São todas solteira; é pois uma oportunidade que tens de achar um bom partido, mesmo assim feio como és.
Nisto se ouviu o espaço retumbar: " Pum!Pum!" Dois tiros fizeram tremer o ar e os dois gansos caíram mortos no pantanal, cuja água ficou vermelha de sangue. E outra vez: "Pum! Pum!" E um bando de patos silvestres ergueu-se dos caniçais. E soou mais outro tiro! Era uma grande caçada. os caçadores estava à espreita, ao redor do charco; alguns se escarapitaram nas árvores que se erguiam acima dos juncos. Dos salgueiros subia um fumo azulado, que se espalhava como uma nuvem por todo o pantanal. Atiraram-se à água os cães de caça- chape, chape, chape! - movendo os juncos e caniços para todos os lados, naquele lodaçal. E que susto não passou o pobre patinho! Tratou de esconder a cabeça debaixo de uma asa, mas naquele instante surgiu um canzarrão medonho, de língua de fora e de dentes arreganhados. Com os olhos a deitar faíscas foi-se aproximando do patinho farejou-o, e- chape, chape! - foi embora sem lhe fazer mal algum.
- Graças a Deus! - suspirou o animalzinho. - Sou tão feio que nem os cães me querem morder!
E ficou ali, quieto, enquanto os tiros atroavam os juncais e os grãos de chumbo espadanavam no ar. Por fim, já bem tarde, voltou a paz ao banhado, mas o pobre patinho não ousava mover-se dali. Foi somente horas depois que se animou a dar uma olhadela em roda para examinar os arredores; abandonou então o brejo, voando o mais depressa que pode. Atravessou campos e pastagens sob uma ventania tão forte, que lhe dificultava o voo.
Já ao escurecer chegou a uma cabana toda estragada, que somente se mantinha em pé por não saber de que lado havia de cair. O vento era tão forte que o patinho teve de se encolher todo para poder resistir. Notou então que faltava uma dobradiça na porta do casebre, e que por isso ficava ela afastada do umbral, deixando uma abertura que lhe podia dar passagem: não esperou convite para entrar.
Morava na choça uma mulher, que tinha uma galinha e um gato. O gato, a que ela chamava" Filhinho", sabia arquear o lombo e ronronar; também sabia deitar faíscas, mas para isso era preciso que lhe esfregassem o lombo a contrapelo. A galinha tinha as pernas muito curtas, por isso se chamava Dona Nanica. punha ovos excelentes, e a mulher queria-lhe como a uma filha.
Assim que amanheceu foi notada a presença do intruso; pôs-se o gato a ronronar, e a galinha a cacarejar.
- Mas que é isso? - perguntou a mulher, olhando para todos os lados.
E como já não via muito bem, julgou que o patinho era um pato grande, que se extraviara.
- Que sorte! - disse ela. - Agora terei ovos de pata! Porque espero que não seja pato, não. Veremos.
Passaram-se três semanas e não aparecia ovo algum. O gato era o dono da casa, e a galinha, a dona. E quando ela falava, dizia sempre: "Não e o resto" - porque supunha que eles ambos eram a metade do mundo, e a melhor metade. O patinho pensou que podia ter opinião diferente, mas a galinha nem o deixou falar:
- Sabes por ovos? - perguntou-lhe.
- Não.
- Pois então é melhor que cales o bico!
Achou o gato que também devia indagar:
- Sabes arquear o lombo, e ronronar, e deitar chispas?
- Não.
- Pois então não deves expor a tua opinião, quando falam as pessoas sensatas.
Foi-se o patinho, intimidado, para um canto; mas quando a luz so sol iluminou a choça, e o ar fresco a invadiu, em torrentes, sentiu tamanho desejo de nadar que não teve remédio senão confessá-lo à galinha.
- Mas que ideia tens! - disse Dona Nanica. - É por não teres nada que fazer que te vem essas coisas à cabeça. Trata de por ovos, ou de arquear o lombo, e verás como já te passam essas fantasias.
- Mas é tão agradável a gente atirara-se à água! - disse o patinho- Submergir nela a cabeça e mergulhar até o fundo...
- Ah! Sim...Que grande prazer! Acho que perdeste o juízo, é o que é! Pergunta ao gato, que é o ente mais razoável que conheço; pergunta-lhe se gosta de se atirar à água e ir até o fundo: já não falo de mim...Pergunta à nossa ama,, a velha: ninguém no mundo lhe ganha em experiência. Julgas que ela tem o menor desejo de nadar, e descer ao fundo da lagoa?
- Não me compreendes- disse o patinho.
- Não te compreendo? Então quem há de te compreender? Acho que não te vais supor mais sábio que o gato e a velha- para não falar em mim. Não sejas vaidoso, rapaz, e agradece o bem que te fazem. Não estás em uma casa bem abrigada, entre pessoas de quem podes aprender alguma coisa? Mas, é claro: não passas de um paroleiro, e nem dá gosto conversar contigo. Pois quer creias, quer não , falo para o teu bem. Isso que te digo são coisas desagradáveis, é certo: mas lembre-se de que é justamente pela franqueza e sinceridade que se conhecem os amigos. Trata pois de aprender a por ovos, ou a curvar o lombo e deitar chispas!
- Penso que irei correr mundo- disse o patinho.
- Sim, não deixes de ir- replicou a galinha. - Não percas tempo!
E lá se foi o patinho. Nadou quanto quis, e mergulhou até não poder mais; mas todas as criaturas se afastavam dele, ao ver quanto era feio.
Chegou o outono. As folhas das árvores foram amarelando, e secaram; apanhou-as o vento, levando-as em redemoinho, e fazendo-as dançar no ar. o frio era agora intenso. As nuvens, carregadas de neve e de granizo, passavam baixas; e o corvos, pousados nas cercas, grasnavam de frio. foram tempos maus para o coitado do patinho!
Uma tarde, quando ia o sol descendo no ocaso, cercado de esplendor, saiu dos matagais um bando de aves; eram grandes e magníficas, de brancura deslumbrante; e tinham o pescoço longo e muito gracioso. O patinho nunca vira coisa tão bela! Eram cisnes. Soltaram um grito estranho, e, batendo as asas, grandes e vistosas, ergueram o voo: afastavam-se daquela região fria, em busca de terras mais quentes, de lagos mais vastos. voavam a tamanha altura, que o patinho feio quase ficou tonto, de tanto olhar para ele. Dava voltas na água, como uma piorra, de pescoço estirado; e deu um grito tão forte, que ele próprio se assustou. Oh! Jamais se esqueceria daquelas aves tão belas e tão felizes! E quando as perdeu de vista, mergulhou até o fundo; ao voltar à tona, estava fora de si. Não sabia que aves eram aquelas, nem para onde iam; mas amava-as como nunca havia amado. não as invejava: como poderia pensar em possuir tanta beleza? Sendo tão feio, por feliz se daria se os patos o tivessem tolerado na sua companhia!
O inverno era cada vez mais rigoroso, e o patinho tinha de estar sempre nadando, para que a água não se gelasse de todo. Cada noite, porém, ia ficando menor o espaço em que nadava. E chegou a um ponto que o pobre animalzinho tinha de mover sempre uma patinha, para não ficar preso no círculo de gelo; até que, prostrado de fadiga, uma noite se sentiu seguro.
Um camponês que passava, de manhã cedo, viu-o naquela situação e, chegando-se a ele, quebrou o gelo a pontapés, e levou o patinho para casa. As crianças queriam brincar com ele; mas, receando que o maltratassem, o coitadinho fugiu,muito assustado, e caiu sobre a bilha de leite, entornando-a; e todo o leite se derramou.
A mulher do camponês ficou muito irritada e pôs-se a gritar, batendo com as mãos; e então o patinho foi cair em uma tina de manteiga, e, logo em seguida , deu consigo em um grande saco de farinha. A cena era cômica, na verdade! Perseguia-o a mulher de um lado para outro, brandindo uma tenaz e esganiçando-se, enquanto as crianças corriam, tropeçando umas nas outras, no anseio de apanhá-lo. E riam, e gritavam! Por felicidade estava aberta a porta, e o pobre animalzinho pode escapar; escondeu-se entre umas moitas cobertas de neve, e ali ficou exausto.
Longa e muito triste seria a narração de todos os trabalhos, de todas as misérias que o patinho feio padeceu naquele inverno cruel. Vamos encontrá-lo agora no campo, escondido entre os caniços; começava o sol a aquecer, a calhandra cantava e já a primavera se abria em flores.
Um dia, desdobrando as asas, notou o patinho que elas fendiam o ar com mais força, levando-o pelos ares, com uma rapidez extraordinária, e enorme distância. E, sem saber como, achou-se em um jardim magnífico, cheio de macieira em flor; o ar recendia o perfume dos lilases, cujos ramos floridos se debruçavam na água dos lagos tranquilos. Que lindo era aquele lugar, cheio de sombras frescas e agradáveis! Nisto saem de umas moitas três belos cisnes, ruflando as asas e nadando suave e rapidamente.
- Eu quero voar com aquelas aves maravilhosas! Sem dúvida me matarão, se me atrever perto delas..mas que me importa! Antes quero que me matem elas, do que ser maltratado pelos patos, bicado pelas galinhas, repelido a pontapés pela rapariga que cuida do galinheiro...Antes isso do que viver morto de fome no inverno!
E, voando para água, nadou ao encontro dos belos cisnes alvos, que se aproximaram dele agitando as asas.
- Podem matar-me! - disse o coitadinho, baixando a cabeça à espera da morte.
Mas nisso- que havia ele de ver na água cristalina?Viu sua própria imagem: não era mais uma ave pardacenta, grosseira e feia e sem graça. Não: era um cisne!
Não importa nascer em um ninho de patos, quando ovo é de cisne!
Todos os tormentos que tinha passado contribuíam agora para a sua felicidade- agora, que podia avaliar a ventura que o esperava ao contemplar a esplendente beleza que o cercava. Os cisnes grandes nadavam a seu lado e acariciavam-no com o bico.
Nisto chegaram ao jardim algumas criança, que atiraram migalhas de pão e grãos de milho à agua. E um menino exclamou:
- Um cisne novo! Um cisne novo!
E outro gritou, contentíssimo:
- É mesmo! Outro cisne recém-chegado!
E pulavam de alegria, batendo palmas; e correram a dar notícia aos pais. Voltaram, trazendo pão e bolinhos para obsequiá-lo. E todos diziam:
- O novo é o mais bonito! Tão novinho e tão lindo!
E os cisnes velhos moviam a cabeça, reconhecendo-lhe a beleza.
Sentiu-se o patinho envergonhado, e, sem saber o que havia de fazer, escondeu a cabeça, entre as asas: era muito, muito feliz; contudo, não se orgulhava disse, não. Recordou toda a humilhação, todo o desprezo que tinha sofrido; fora tão perseguido, e era agora proclamada por todos a mais bela das aves! Até os lilases estenderam os ramos floridos dentro dágua quando ele passou, e o sol enviou-lhe um raio brando e agradável.
Então ruflou as asas, alçou o colo gracioso, e soltou um grito de alegria, que lhe subiu das profundezas do coração:
- Como havia eu de sonhar com tamanha felicidade, quando era ao Patinho Feio!
FIM
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