sábado, 19 de setembro de 2015

O GANSO DE OURO - CONTOS DE GRIMM

Uma vez havia um homem que tinha três filhos. Ao mais moço chamavam "Boboca"e todos o desprezavam e se divertiam à sua custa. Um dia o filho mais velho foi ao mato cortar lenha. Antes de partir, a mãe deu-lhe gostoso bolo de ovos e uma garrafa de vinho, para que não passasse fome nem sede. No interior do bosque encontrou um homenzinho de cabelos brancos, muito velho, que lhe deu bom dia e disse:
    - Dá-me um pedaço de bolo  e um gole  de vinho que levas aí contigo; estou com muita fome e sede.
     O rapaz, que não era bobo, responde:
    Se eu der o meu bolo e o meu vinho, nada  me sobrará. Vai, segue teu caminho!
    E, deixando o velho parado, foi adiante. Logo depois começou a derrubar uma árvore, mas, sem demora, deu um golpe em falso e o machado lhe atingiu um braço. Teve, então, de regressar à casa para que lhe pusessem uma atadura e pagou assim o seu procedimento com o velhinho.
    A seguir, o segundo filho partiu para o mato e a  mãe deu-lhe, também, bolo de ovos e uma garrafa de vinho. Encontrou, igualmente, o velho, que lhe pediu um pedaço de bolo e um gole de vinho. A exemplo de irmão, também ele respondeu:
     - Aquilo que  eu te desse, iria faltar a mim; segue teu caminho!
    Deixou o velho parado e afastou-se. Mas o castigo não tardou: mal dera uns golpes de machado na árvore, atingiu uma das pernas e teve de ser levado para casa.
    Manifestou-se, então, o Boboca:
    - Pai, permite que eu vá ao mato cortar lenha.
    - Teus irmãos se feriram- retrucou o pai.- Não queiras tu agora meter-se em coisas que não entendes.
    O Boboca, no entanto,pediu com tanta insistência que , afinal, seu pai lhe falou:////////
     - Vai, então; aprenderás à tua própria custa.
        A mãe deu-lhe um bolo feito com água e cozido na cinza e uma garrafa de vinho azedo. Quando chegou ao mato, encontrou , igualmente, o velhinho, que o saudou, dizendo:
   - Dá-me um pedaço do teu bolo e um gole do da tua garrafa. Estou com muita fome e sede.
     Respondeu-lhe o Boboca:
   - Tenho , apenas, um bolo cozido nas cinzas e vinho azedo, mas, se te agrada, podemos sentar e comer.
     E sentaram-se. Quando, porém, o rapaz tirou seu bolo da sacola , eis que se havia transformado em fina torta de ovos e o vinho azedo num bom vinho. Comeram e beberam à vontade e depois disse o homenzinho:
   Como tens bom coração e gostas de repartir o que é teu, vou dar-te uma boa sorte. Estás vendo aquela árvore velha ali? Corta-a e encontrarás algo nas suas raízes.
   Logo depois o velhinho se despediu.
    O  Boboca foi até a árvore e cortou-a; feito isso, viu entre as raízes um ganso cujas penas eram de ouro puro. O rapaz pegou a ave e com ela se dirigiu para uma estalagem onde pretendia passar a noite. O dono tinha três filhas, que, ao verem o ganso, sentiram enorme curiosidade e o desejo de possuir algumas penas daquela ave rara. A mais velha pensou: "há de surgir uma oportunidade em que possa arrancar-lhe uma pena"e, quando o Boboca  saiu do quarto, ela pegou o ganso pelas asas. Mas suas mãos ficaram presas na ave. Pouco depois veio a segunda, sem outro pensamento que não o de apoderar-se de uma pena de ouro. Mal tocara a irmã, ficou presa a ela. Por fim surgiu a terceira com as mesmíssimas intenções. Aí as outras lhe gritaram, avisando:
    - Afasta-te, pelo amor de Deus, afasta-te!
     A moça porém, não compreendeu por que motivo  deveria afastar-se e pensou: "se elas estão ali, também eu poderei estar!
   Correu, assim , para junto delas e, mal tocou numa, já não pode mais soltar-se. Assim tiveram as três de passar a noite presas ao ganso.
   Na manhã seguinte , O Boboca, colocando a ave em baixo do braço, saiu da estalagem sem ligar para as moças, que se viram obrigadas a caminhar atrás dele. No meio do campo, encontraram o padre; este, ao ver a procissão, exclamou:
     - Suas descaradas, não se envergonham de correr  dessa maneira atrás de um jovem? É decente uma coisa dessas?
   E pegou a mão livre da mais moça, para impedi-la de continuar seguindo o rapaz. Entretanto, mal a tocou não conseguiu mais soltar-se e teve , ele próprio, de participar da comitiva. Pouco depois o sacristão, que passava, viu o senhor padre a seguir, de perto, as três moças. Espantado, gritou-lhe:
    - Ei, senhor cura, aonde vai tão depressa? não se esqueça que hoje ainda temos um batizado!
   Correu atrás dele, segurou-o pela manga e... ficou igualmente preso. Quando os cinco iam assim caminhando em fila, passaram dois camponeses que vinham da lavoura de enxada ao ombro. O padre, ao vê-los, pediu que soltassem a ele e ao sacristão. Mal, porém, tocaram no último, ficaram colados e passaram a se, então, sete os que corriam atrás do Boboca e seu ganso.
    Em seguida chegaram a uma cidade cujo rei tinha uma filha tão séria que ninguém conseguia fazer com que ela risse. Por isso o rei prometeu que a daria em casamento aquele que fosse capaz de provocar-lhe o riso. O Boboca, quando soube do caso, apresentou-se com todo o seu séquito diante da princesa que, ao ver aquelas sete pessoas correndo, sem para, uma atrás da outra, riu tanto que não podia mais conter-se. O rapaz, então, reclamou-a para sua esposa. Mas o rei, que não se agradara dele para genro, fez uma série de objçoes, dizendo que antes deveria trazer-lhe um homem capaz de beber todo vinho da adega do palácio. . O jovem lembrou-se do homenzinho de cabelos brancos que, na certa, poderia auxilia-lo, e dirigiu-se ao bosque. No lugar em que derrubara a árvore viu um homem sentado, com a fisionomia muito triste. O Boboca, perguntou o motivo do seu pesar e o outro lhe respondeu:
    - Tenho sede que não consigo saciar. Água fria não me faz bem e já tomei um barril de vinho. O que é, porém, uma gota sobre a pedra ardente?
     - Posso te ajudar-te -disse o Boboca. - Vem comigo e terás bebida a não querer mais.
    Conduziu-o à adega do rei e o homem bebeu, bebeu até lhe doerem as cadeiras e, antes de findar o dia, tinha esvaziado todos os tonéis.
   O jovem reclamou, novamente , a sua noiva. Mas o rei, aborrecido antes o pensar que um rapaz a quem todo mundo chamava de Boboca iria desposar sua filha, impôs novas condições. Antes  devia encontrar um homem capaz de comer uma montanha de pão. O Boboca apresentou-se, logo, a ir ao bosque.Lá encontrou, no mesmo lugar, um homem que apertava a barriga com um cinto e lhe disse , com uma cara muito aborrecida.
     - Acabo de comer uma fornada de pão. Mas que vale isso quando se tem uma fome como a minha? Meu estômago continua vazio e preciso apertar o cinto para não morrer de fome.
    Contente ao ouvir aquilo, o Boboca disse-lhe:
    - Vem comigo e irás até te fartar!
     Levou-o à corte  Este mandara recolher toda a farinha do reino e fazer dela uma gigantesca montanha de pão. O homem do mato pôs-se à sua frente, começou a comer e, dentro de um dia, a montanha inteira havia desaparecido. O Boboca, então, reclamou, pela terceira vez   a sua noiva, mas o rei, procurando outro pretexto, exigiu um barco capaz de andar por terra e por água.
   - Assim que chegares navegando nele- disse-lhe - minha filha será tua esposa
    Foi-se o Boboca diretamente para o bosque  e ali encontrou o velhinho com o qual compartilhara seu bolo.
   - Fui eu que comi e bebi por tua causa e te darei, também o barco- disse ele.- Faço tudo isso porque foste generoso comigo.
    E deu-lhe  o barco exigido.  Quando o rei avistou, já não pode mais negar-se e lhe entregou sua filha . O casamento foi celebrado e, após a morte do rei, o Boboca herdou o reino e durante muitos anos viveu feliz  com sua esposa. FIM

























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