segunda-feira, 13 de julho de 2015

AS TRÊS FOLHAS DA SERPENTE - CONTOS DE GRIMM

                             
 Era uma vez um homem tão pobre que não podia mais sustentar seu único filho. Este, então, lhe disse: - Querido pai, reconheço que estou sendo uma carga muito pesada para o senhor. É bom que eu saia a correr mundo e ver se me sustento sozinho.
  O pai deu-lhe a benção e, tristemente, se despediu do filho.
   Naquela época estava em guerra o soberano de um reino poderoso. O rapaz alistou-se em seu exército e saiu para os campos de batalha. Ao chegar diante do inimigo, houve uma luta feroz em que o perigo era grande e chovia tanta bala que seus companheiros iam tombando a seu lado. Quando também o general sucumbiu, os restantes desanimaram e puseram-se em fuga. O rapaz, porém, postou-se à frente deles, dizendo:
   - Não vamos consentir numa derrota!
   Diante disso, os outros resolveram segui-lo; e ele, lançando-se à luta, venceu o inimigo. O rei, ao tomar conhecimento de que devia a vitória somente a ele, prestou-lhe honrarias públicas, deu-lhe grandes riquezas e nomeou-o ministro do reino.
   O soberano possuía uma filha que era belíssima, mas um tanto caprichosa. A jovem fizera o voto de jamais aceitar, como esposo e senhor, a quem não prometesse, solenemente- caso ela viesse a morrer primeiro - deixar-se enterrar, vivo, na mesma sepultura. " Se me ama verdadeiramente -dizia ela- de que lhe serve então a vida?"
   De sua parte, comprometia-se a fazer o mesmo se o marido morresse antes. Essa estranha promessa afugentara, até então, todos  os pretendentes. O rapaz, porém, impressionado com a beleza da moça, não hesitou um só instante e a pediu em casamento.
   - Sabes da promessa que terás de fazer?- perguntou-lhe o rei.
   - Se eu sobreviver-lhe, devo baixar com ela à sepultura; mas o meu amor é tão grande que não me importa o perigo.
    O rei consentiu no casamento, que foi celebrado com grande pompa.
  Durante algum tempo os jovens viveram felizes e contentes, até que um dia a princesa adoeceu gravemente e nenhum médico a pode salvar. Quando ela morreu, o jovem, lembrando-se da promessa que fizera, horrorizou-se com o pensamento de ser sepultado em vida. Mas não havia escapatória; o rei tinha mandado guardar todas as portas e era impossível fugir ao horrível destino. No dia em que levaram o corpo da princesa à cripta real, também ele foi conduzido para lá. A seguir, a porta foi fechada e aferrolhada.
   Junto ao caixão havia uma mesa e, sobre ela, quatro velas, quatro pães e quatro garrafas de vinho. Assim que essas provisões terminassem, ele morreria de fome e sede.
    Cheio de tristeza e de dor, comia todos os dias um só pedacinho de pão e bebia em só gole do vinho; no entanto, bem sabia que a morte se aproximava cada vez mais. Certa vez, estava ele ali, de olhos fixos na parede, quando viu sair de um canto uma serpente, que deslizava em direção ao cadáver. E como pensasse que pretendia devorá-lo, puxou da espada e exclamou:
  - Enquanto eu for vivo, não lhe tocarás!
   Com alguns golpes, partiu a cobra em três partes. Passado algum tempo, outra serpente surgiu, mas, ao ver sua companheira morta e aos pedaços, deu volta. Pouco depois reapareceu, trazendo na boca três folhas verdes. Apanhou os três pedaços da outra cobra e, juntando-os devidamente, colocou uma das folhas em cada ferida. Imediatamente as partes se uniram, a serpente moveu-se e, tendo recuperado a vida, retirou-se com a companheira. As folhas ficaram no chão e o infeliz, que a tudo assistira, teve a ideia de que a força milagrosa das folhas, que tinham devolvido a vida à serpente, talvez fizesse o mesmo com as pessoas.
    Recolheu, pois, as folhas; colocou uma delas na boca da morta e as outras duas sobre as suas pálpebras. Mal terminou de fazer isso, o sangue começou a circular nas veias da princesa, restituindo a cor aquele rosto pálido. A morta respirou e, abrindo os olhos, disse:
    - Meus Deus, onde estou?
   - Estás comigo, querida! - respondeu ele e contou tudo o que acontecera e como lhe restituíra a vida.
    Deu-lhe, a seguir, um pouco de vinho e pão e, tendo ela recuperado as forças, levantou-se e foram ambos até a porta. Ali bateram e gritaram tão alto que os guardas os ouviram e informaram ao rei. Este veio à catacumba e, encontrando o casal cheio de vida, alegrou-se com eles por terem escapado à morte. O jovem príncipe apanhou as três folhas da serpente e, dando-as a seu criado, disse-lhe:
   - Guarda-as com todo carinho e traze-as sempre contigo. Quem sabe se algum dia não iremos necessitar delas!
     Mas aconteceu que houve uma grande transformação na esposa ressuscitada. Todo o amor que dedicara ao marido parecia ter desaparecido de seu coração.
    Tempos depois o príncipe resolveu fazer uma viagem, por mar, para visitarem seu velho pai, e os esposos embarcaram num navio. Ali, então, a princesa esqueceu o grande amor e fidelidade que seu marido demonstrara, salvando-lhe a vida. Apaixonou-se pelo capitão do navio. E, um dia, quando o príncipe estava dormindo, ela chamou o homem, segurou o marido pela cabeça e, obrigando o outro a segurá-lo pelos pés, ambos o jogaram ao mar. Consumado o crime, ela disse:
    - Regressemos, agora; vamos dizer que ele morreu durante a viagem. Eu te elogiarei tanto a meu pai que ele acabará me casando contigo e te fará herdeiro da coroa.
   O criado fiel, porém, que a tudo assistira, baixou ao mar um dos botezinhos do navio e, sem que ninguém visse, remou até o lugar  onde seu amo caíra na água, deixando que os traidores seguissem seu caminho.
   Retirou o corpo do mar e, com auxilio das três folhas da serpente, as quais sempre trazia consigo, restitui-lhe a vida, colocando-as sobre os olhos e a boca do afogado.
     Os dois, então, puseram-se a remar dia e noite, com todas as forças. E o bote andou com tal rapidez que chegaram à presença do rei ainda antes dos outros. Admirado de os ver chegar sozinhos, perguntou-lhes o que sucedera. E, quando soube da perversidade de sua filha, disse:
   - Não posso acreditar que ela tenha procedido tão mal, mas a verdade logo será descoberta.
   Mandou que entrassem para uma sala secreta e que não se deixassem ver por ninguém.
   Pouco depois, o navio chegou e a mulher perversa apresentou-se diante do pai, com a fisionomia muito triste. Este perguntou-lhe:
   - Por que voltas sozinhas? Onde está teu marido?
   - Ah, meu pai querido! - respondeu ela.- Eu volto com o coração cheio de dor. Meu marido adoeceu repentinamente e morreu durante a viagem. Se não fosse o bom capitão, eu também teria passado muito mal. Ele assistiu à sua morte e poderá contar-lhe tudo.
   Então o rei disse:
   - Vou ressuscitar o morto! - E abriu a sala, mandando sair os dois homens.
   A mulher, ao ver o marido, ficou como se fosse atingida por um raio e, caindo de joelhos, implorou misericórdia. Mas o rei sentenciou;
   - Não haverá perdão. Ele estava disposto a morrer contigo e te restituiu a vida; tu, porém, o assassinaste durante o sono e vais receber a paga que te cabe.
    Embarcaram-na junto com o seu cúmplice em um navio furado, que levaram até alto mar, onde, pouco depois, foram tragados pelas águas. Fim

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