Era uma vez.... os Irmãos Grimm. Que forma eles? Nada mais, nada menos que contadores de histórias. Foi assim que o seu nome chegou até nós, embora o mais velho seja considerado o introdutor do método histórico no estudo da gramática e o fundador da filologia germânica, com sua edição crítica de textos arcaicos. Professores da Universidade de Goettingen, Jacob, nascido em 1785, e Wilhelm, em 1786, viram-se ambos destituídos em consequência de mudanças políticas da época. Começaram então a percorrer a Alemanha, recolhendo as histórias que viviam na tradição oral. No prefácio de sua primeira coletânea, aludem eles à mulher de um criador de gado, que guardava na memória todas as velhas histórias, repetindo-as invariavelmente com as mesmas palavras e cujo retrato foi publicado na mesma edição(1812). Contudo, revela o filho de Wilhelm que muitas histórias, como de Joãozinho e Mariazinha, uma das primeiras a se tornar famosa, foram contadas a seu pai pela namorada deste, Dorotéia, e que, após se casarem, continuou sendo uma das fontes informativas de seu curioso marido. Como se vê, tanto como gostavam de contá-las, eram os Irmãos Grimm uns incansáveis ouvidores de histórias. Essas histórias constavam, desde lendas cheias de poesia como a dos Doze Apóstolos, de caricaturas de tipos encontradiços na vida real, como a do ranzinza mestre Sola, que nem no Céu achava nada bom, até simples anedotas, casos, facécias, histórias de bichos, ou apólogos morais e religiosos; mas, antes de mais nada, esses estranhos contos, de uma imprevista fantasia, como o de "Um Olhinho, Dois Olhinhos, Três Olhinhos", e outros, que não tem outra razão de ser senão o mistério dos sonhos infantis; ou " O Sapo Encantado", de tamanho sabor folclórico, e tantas outras, que saíram a correr mundo.
Propriamente falando, essas histórias já andava a correr mundo, na boca das velhas amas e das avózinhas. Estas não fizeram mais que dar o que os seus pequenos ouvintes lhe pediam. Era o caso de se perguntar quem era mesmo que inventava as histórias. Os Irmãos Grimm, por sua vez, com uma fidelidade muito anterior à época em que foi inventada a palavra "folclore" ou " populário". (digamos entre parênteses, mais compreensível internacionalmente, criada por Apolinário Porto Alegre e adotada por Simões Lopes Neto) colheram da boca de mulheres e crianças umas duzentas dessas histórias. Essa carinhosa pesquisa se estendeu por treze anos, enquanto comparavam e decantavam as diferentes versões, dando-lhes a necessária unidade de estilo.
As histórias assim ouvidas e tão habilmente recontada ( coube a Wilhelm a redação definitiva de uma edição completa em três volumes , 1819) saíram à luz a partir de 1812, sob o título de Histórias da Criança e do lar- título este que bem explica a origem delas, dizendo por quem, para quem e onde foram contadas. É claro que essas histórias, na sua viagem ao redor de mundo, foram sofrendo aqui e ali certas adaptações ao meio ambiente dos pequenos ouvintes, embora todas se passem no País dos Sonhos.
Os contos que estou transcrevendo são de livros muito antigos que ganhei de meu querido pai. Quando percebi que eles estavam ficando velhos e amarelados, fiquei com medo de perdê-los. Resolvi então salvá-los para sempre, digitando letra por letra e me envolvendo em cada história. Obrigada pai e mãe, amo vocês! E um obrigada às novas tecnologias que me permitirão salvar meus livros e dar a outras pessoas a oportunidade de se emocionarem com Os Contos de Grimn e Andersen como eu me emocionei.
segunda-feira, 29 de junho de 2015
VERDURINHA - CONTOS DE GRIMM
Era uma vez um homem e uma mulher que viviam sós e tristes por não terem filhos. Um dia, a mulher teve a esperança que o bom Deus iria afinal satisfazer o seu maior desejo. A casa onde viviam tinha, na parede dos fundos, uma pequena janela de onde se avistava um jardim maravilhoso, cheio de lindas flores e plantas. Era cercado por um alto muro e ninguém se atrevia a entrar, pois pertencia a uma feiticeira muito poderosa, de quem todos tinham medo.
Certa ocasião a mulher, parada à janela, olhando o jardim, avistou um canteiro com as mais belas hortaliças, tão frescas e verdes que teve um grande desejo de as comer.
Certa ocasião a mulher, parada à janela, olhando o jardim, avistou um canteiro com as mais belas hortaliças, tão frescas e verdes que teve um grande desejo de as comer.
À medida que os dias iam passando, seu desejo aumentava e, como ela sabia ser impossível consegui-las, foi empalidecendo e definhando a olhos vistos. O marido, notando aquilo, assustou-se e perguntou:
- Querida, o que se passa contigo?
- Ah!- respondeu ela- se eu não comer daquelas verduras que crescem no jardim, atrás da nossa casa, na certa morrerei.
O homem, que amava sua mulher, pensou: "Em vez de deixar que ela morra, hei de conseguir as verduras, custe o que custar."
Quando anoiteceu, saltou o muro do jardim da feiticeira, arrancou depressa um punhado de verduras e as levou à esposa. Esta logo preparou uma salada e comeu-a com verdadeiro gosto; e tanto lhe agradou o prato que no dia seguinte sentiu um desejo três vezes maior. Para que ela ficasse em paz, o marido deveria ir mais uma vez ao jardim. Ao anoitecer, o homem repetiu a façanha; mal, porém, desceu do muro, levou um susto enorme, pois de súbito a bruxa surgiu à sua frente.
- Como te atreves - disse ela, com olhar furioso- a entrar como um ladrão no meu jardim e roubar as minhas verduras? Hás de pagar bem caro!
- Ai! Tenha dó de mim! - implorou o homem.- Só fiz isso por necessidade; Minha mulher avistou da janela as suas verduras e tanto as desejou que morreria se não as comesse.
A feiticeira deixou-se abrandar e assim lhe falou:
- Se é como dizes, permitirei que leves tanto quanto quiseres; só imponho uma condição: terás de me dar a criança que tua mulher trouxer ao mundo. Será bem tratada e cuidarei dela como se fosse a sua mãe.
Amedrontado, o homem concordou com tudo e, quando nasceu a criança, uma menina, a feiticeira logo se apresentou. Deu-lhe o nome de Verdurinha e levou-a consigo.----
Verdurinha era a criança mais linda que o sol já vira. Ao completar doze anos, a feiticeira a encerrou em uma torre no meio de um bosque, a qual não tinha porta nem escada, mas apenas uma janelinha bem ao alto.
Quando a feiticeira queria entrar, postava-se ao pé da torre e gritava:
- Verdurinha, Verdurinha!
- Solta essa tua trancinha!
"Trancinha" era um modo de dizer, pois a moça tinha os cabelos longos, finos e louros como se fossem tecidos de ouro. Quando ouvia a voz da feiticeira, soltava as tranças, prendia-as em volta de um gancho da janela e os cabelos, do comprimento de cem palmos, iam tocar no solo. Por elas a bruxa subia ao alto da torre.
E aconteceu que um dia o filho do rei, andando a cavalo pelo bosque, passou junto à torre. Dali partia uma canção tão maravilhosa que ele parou a escutá-la. Era verdurinha que, em sua solidão, se entretinha cantando. O príncipe quis subir até onde ela estava e procurou uma porta na torre; como, no entanto, não achou nenhuma, voltou ao palácio. Mas o canto lhe tocara de tal maneira o coração que todos os dias ele ia ao bosque e se punha a escutar. Certa vez, estando assim parado atrás de uma árvore, viu que uma feiticeira se aproximava e a ouviu chamar:
- Verdurinha, Verdurinha!
- Solta essa tua trancinha!
Verdurinha soltou suas tranças e a bruxa subiu até o alto da torre.
" Se é esta a escada por onde se sobe, - pensou o príncipe- também eu tentarei a minha sorte." E no dia seguinte, quando começou a escurecer, dirigiu-se à torre e chamou:
- Verdurinha, Verdurinha!
- Solta essa tua trancinha!
Em seguida as tranças foram jogadas para baixo e o príncipe subiu por elas.
No primeiro momento, Verdurinha assustou-se ao ver um homem à sua frente, pois ela nunca tinha visto um homem em toda a sua vida. Mas o príncipe começou a falar-lhe amavelmente, dizendo que suas canções haviam impressionado de tal modo o seu coração que não descansara enquanto não a tinha visto em pessoa. Verdurinha então perdeu o medo e, quando o príncipe perguntou se o aceitaria como esposo e ela viu que era moço e bonito, pensou: "Este há de gostar mais de mim do que a velha" e, pondo sua mão na dele, respondeu:
- Com muito prazer irei contigo, mas não sei como sair daqui. Sempre que vieres, traze uma meada de seda e eu irei tecendo uma escada. Quando estiver pronta, descerei por ela e me levarás contigo no teu cavalo.
Combinaram que até lá ele a visitaria todas as noites, porque de dia a velha era quem ia à torre. A feiticeira nada havia percebido até o dia em que Verdurinha lhe perguntou:
- Diga-me, D. Gothel, por que será que faço um esforço muito maior para puxar a senhora do que o jovem príncipe?
- Ah, desgraçada! - exclamou a bruxa. - Que acabo de ouvir? Pensei que te havia isolado do mundo inteiro e mesmo assim me enganaste!
Furiosa, pegou as lindas tranças de Verdurinha, enrolou-as na mão esquerda, apanhou uma tesoura com a direita e, num zás, cortou-as, atirando os lindos cabelos ao chão. E foi tão maldosa que conduziu a pobre Verdurinha a um deserto, onde teve de viver na maior tristeza e miséria.
- No mesmo dia em que expulsara a jovem, a feiticeira, de noite, prendeu no gancho da janela as tranças cortadas. Quando o príncipe apareceu e chamou:
- Verdurinha, Verdurinha!
Solta essa tua trancinha!
A bruxa soltou os cabelos e o filho de rei subiu por eles. Mas, em vez de encontrar Verdurinha, encontrou a feiticeira, que o recebeu com uns olhos fuzilando de ódio e maldade.
- Ah! gritou ela- vieste buscar tua amada, mas o belo pássaro não está mais na gaiola, nem tornará a cantar. O gato o comeu, e a ti te arrancará os olhos. Verdurinha não será tua, nunca tornarás a vê-la.
O príncipe, fora de si, de dor e desespero, atirou-se da torre. Salvou a vida, mas os espinhos, entre os quais caiu, lhe arranharam as vistas. Daí em diante passou a vagar, cego, pelo bosque; só comia raízes e frutos silvestres e não fazia outra coisa senão lamentar a perda da sua amada esposa. Vagou assim, alguns anos, até que um dia foi dar no deserto onde vivia Verdurinha, miseravelmente, com seus dois filhos gêmeos, um menino e uma menina. Ouvindo uma voz que lhe pareceu familiar, ele se aproximou; Verdurinha o reconheceu e logo se jogou, chorando, a seus braços. Duas de suas lágrimas foram umedecer os olhos do marido e no mesmo instante ele recuperou a visão, passando a enxergar como antes. O príncipe os conduziu ao seu reino, onde foi recebido com grande alegria e todos viveram, ainda por muito tempo, felizes e satisfeitos.FIM
- Ah!- respondeu ela- se eu não comer daquelas verduras que crescem no jardim, atrás da nossa casa, na certa morrerei.
O homem, que amava sua mulher, pensou: "Em vez de deixar que ela morra, hei de conseguir as verduras, custe o que custar."
Quando anoiteceu, saltou o muro do jardim da feiticeira, arrancou depressa um punhado de verduras e as levou à esposa. Esta logo preparou uma salada e comeu-a com verdadeiro gosto; e tanto lhe agradou o prato que no dia seguinte sentiu um desejo três vezes maior. Para que ela ficasse em paz, o marido deveria ir mais uma vez ao jardim. Ao anoitecer, o homem repetiu a façanha; mal, porém, desceu do muro, levou um susto enorme, pois de súbito a bruxa surgiu à sua frente.
- Como te atreves - disse ela, com olhar furioso- a entrar como um ladrão no meu jardim e roubar as minhas verduras? Hás de pagar bem caro!
- Ai! Tenha dó de mim! - implorou o homem.- Só fiz isso por necessidade; Minha mulher avistou da janela as suas verduras e tanto as desejou que morreria se não as comesse.
A feiticeira deixou-se abrandar e assim lhe falou:
- Se é como dizes, permitirei que leves tanto quanto quiseres; só imponho uma condição: terás de me dar a criança que tua mulher trouxer ao mundo. Será bem tratada e cuidarei dela como se fosse a sua mãe.
Amedrontado, o homem concordou com tudo e, quando nasceu a criança, uma menina, a feiticeira logo se apresentou. Deu-lhe o nome de Verdurinha e levou-a consigo.----
Verdurinha era a criança mais linda que o sol já vira. Ao completar doze anos, a feiticeira a encerrou em uma torre no meio de um bosque, a qual não tinha porta nem escada, mas apenas uma janelinha bem ao alto.
Quando a feiticeira queria entrar, postava-se ao pé da torre e gritava:
- Verdurinha, Verdurinha!
- Solta essa tua trancinha!
"Trancinha" era um modo de dizer, pois a moça tinha os cabelos longos, finos e louros como se fossem tecidos de ouro. Quando ouvia a voz da feiticeira, soltava as tranças, prendia-as em volta de um gancho da janela e os cabelos, do comprimento de cem palmos, iam tocar no solo. Por elas a bruxa subia ao alto da torre.
E aconteceu que um dia o filho do rei, andando a cavalo pelo bosque, passou junto à torre. Dali partia uma canção tão maravilhosa que ele parou a escutá-la. Era verdurinha que, em sua solidão, se entretinha cantando. O príncipe quis subir até onde ela estava e procurou uma porta na torre; como, no entanto, não achou nenhuma, voltou ao palácio. Mas o canto lhe tocara de tal maneira o coração que todos os dias ele ia ao bosque e se punha a escutar. Certa vez, estando assim parado atrás de uma árvore, viu que uma feiticeira se aproximava e a ouviu chamar:
- Verdurinha, Verdurinha!
- Solta essa tua trancinha!
Verdurinha soltou suas tranças e a bruxa subiu até o alto da torre.
" Se é esta a escada por onde se sobe, - pensou o príncipe- também eu tentarei a minha sorte." E no dia seguinte, quando começou a escurecer, dirigiu-se à torre e chamou:
- Verdurinha, Verdurinha!
- Solta essa tua trancinha!
Em seguida as tranças foram jogadas para baixo e o príncipe subiu por elas.
No primeiro momento, Verdurinha assustou-se ao ver um homem à sua frente, pois ela nunca tinha visto um homem em toda a sua vida. Mas o príncipe começou a falar-lhe amavelmente, dizendo que suas canções haviam impressionado de tal modo o seu coração que não descansara enquanto não a tinha visto em pessoa. Verdurinha então perdeu o medo e, quando o príncipe perguntou se o aceitaria como esposo e ela viu que era moço e bonito, pensou: "Este há de gostar mais de mim do que a velha" e, pondo sua mão na dele, respondeu:
- Com muito prazer irei contigo, mas não sei como sair daqui. Sempre que vieres, traze uma meada de seda e eu irei tecendo uma escada. Quando estiver pronta, descerei por ela e me levarás contigo no teu cavalo.
Combinaram que até lá ele a visitaria todas as noites, porque de dia a velha era quem ia à torre. A feiticeira nada havia percebido até o dia em que Verdurinha lhe perguntou:
- Diga-me, D. Gothel, por que será que faço um esforço muito maior para puxar a senhora do que o jovem príncipe?
- Ah, desgraçada! - exclamou a bruxa. - Que acabo de ouvir? Pensei que te havia isolado do mundo inteiro e mesmo assim me enganaste!
Furiosa, pegou as lindas tranças de Verdurinha, enrolou-as na mão esquerda, apanhou uma tesoura com a direita e, num zás, cortou-as, atirando os lindos cabelos ao chão. E foi tão maldosa que conduziu a pobre Verdurinha a um deserto, onde teve de viver na maior tristeza e miséria.
- No mesmo dia em que expulsara a jovem, a feiticeira, de noite, prendeu no gancho da janela as tranças cortadas. Quando o príncipe apareceu e chamou:
- Verdurinha, Verdurinha!
Solta essa tua trancinha!
A bruxa soltou os cabelos e o filho de rei subiu por eles. Mas, em vez de encontrar Verdurinha, encontrou a feiticeira, que o recebeu com uns olhos fuzilando de ódio e maldade.
- Ah! gritou ela- vieste buscar tua amada, mas o belo pássaro não está mais na gaiola, nem tornará a cantar. O gato o comeu, e a ti te arrancará os olhos. Verdurinha não será tua, nunca tornarás a vê-la.
O príncipe, fora de si, de dor e desespero, atirou-se da torre. Salvou a vida, mas os espinhos, entre os quais caiu, lhe arranharam as vistas. Daí em diante passou a vagar, cego, pelo bosque; só comia raízes e frutos silvestres e não fazia outra coisa senão lamentar a perda da sua amada esposa. Vagou assim, alguns anos, até que um dia foi dar no deserto onde vivia Verdurinha, miseravelmente, com seus dois filhos gêmeos, um menino e uma menina. Ouvindo uma voz que lhe pareceu familiar, ele se aproximou; Verdurinha o reconheceu e logo se jogou, chorando, a seus braços. Duas de suas lágrimas foram umedecer os olhos do marido e no mesmo instante ele recuperou a visão, passando a enxergar como antes. O príncipe os conduziu ao seu reino, onde foi recebido com grande alegria e todos viveram, ainda por muito tempo, felizes e satisfeitos.FIM
quinta-feira, 11 de junho de 2015
OS DOZE IRMÃOS - CONTOS DE GRIMM
Os Doze Irmãos
Era uma vez um rei e uma rainha que viviam em boa paz e tinham doze filhos, todos eles varões. Um dia, o
rei disse à sua esposa:
- Se o décimo-terceiro filho que esperas for menina, os doze rapazes deverão morrer, para que a herança se torne maior e o reino inteiro pertença somente a ela.
- E mandou fazer doze caixões, enchê-los com serragem e colocar em cada um deles uma pequena almofada. Depois mandou que os guardassem numa sala fechada e, dando a chave à rainha, proibiu-a de falar nisso a qualquer pessoa.
A mãe passava os dias em profunda tristeza até que certa vez, seu filho menor, que nunca se separava dela, a quem dera o nome de Benjamim, como na Bíblia, lhe perguntou:
- Por que estás tão triste, mãezinha querida?
- Ah, meu filho! - respondeu ela.- Não posso dizer-te.
Mas o menino não lhe dava sossego com suas indagações. Ela, então, abriu a porta da sala fechada e, mostrando-lhe os doze caixões cheios de serragem, disse:
- Meu querido Benjamim, teu pai mandou fazer estes caixões para ti e teus onze irmãos. Se eu trouxer ao mundo uma menina, todos vocês serão mortos e sepultados dentro deles.
E como ela chorasse enquanto falava, o filho quis consolá-la:
- Não chores, querida mãe. Nós nos salvaremos, indo embora a tempo.
- A rainha, então, ordenou-lhe:
- Vai ao bosque com teus onze irmãos e que um de vocês fique sempre de guarda em cima da árvore mais alta que encontrarem, observando a torre do palácio. Se nascer um menino, içarei uma bandeira branca e vocês todos poderão voltar. Mas, se for uma menina, hastearei uma bandeira vermelha. Nesse caso, fujam o mais depressa possível e que Deus os proteja. Todas as noites me levantarei para rezar por vocês pedindo que no inverno tenham fogo para se aquecerem e no verão não sintam calor demais.
Depois, tendo abençoado seus filhos, estes partiram para o bosque.
Um após outro ficava de guarda, sentado no carvalho mais alto, olhando para a torre. Ao fim de onze dias, chegou a vez de Benjamim, que viu içarem uma bandeira; mas não era branca e sim vermelha como sangue, avisando-os de que deveriam morrer. Quando os irmãos ouviram a notícia, ficaram cheios de raiva e disseram:
- Íamos morrer por causa de uma menina! Juremos vingança! Onde encontrarmos uma menina, o seu sangue será derramado.
A seguir embrenharam-se mais ainda pelo bosque e, no lugar mais espesso e escuro, encontraram uma cabana encantada que estava deserta.
- Vamos ficar morando aqui- disseram - Benjamim, tu que és o menor e o mais fraco, ficarás cuidando da casa enquanto nós iremos procurar alimento,
E saíram a caçar lebres, veados, pombas e tudo o que havia para comer. Mais tarde Benjamim preparava a comida, para saciar a fome dos irmãos. Assim viveram juntos durante dez anos, e o tempo não lhes pareceu longo.
Enquanto isso, nesse meio tempo, a menina que a rainha dera à luz, havia crescido; era linda e de bom coração. Trazia na testa uma estrela dourada. Certo dia em que se acostumava lavar roupa no palácio, ela viu doze camisas de homem e perguntou à sua mãe:
A quem pertencem essas doze camisas? São pequenas demais para serem de meu pai.
A rainha repondeu-lhe com o coração angustiado:
- Querida filha, elas pertencem a teus doze irmãos.
- E onde estão meus doze irmãos? Nunca ouvi falar neles.
- Só Deus sabe onde estão. Andam errando pelo mundo afora.
E conduzindo sua filha até a sala fechada, abriu a porta e mostrou-lhe os doze caixões, cheios de serragem e com as almofadas.
- Estes caixões- disse-lhe- eram destinados a teus irmãos, mas eles fugiram para o bosque antes de nasceres.- E passou a contar tudo o que havia acontecido. A menina, então, consolou-a:
Não chores, querida mãe! Vou sair à procura de meus irmãos.
Apanhou as doze camisas e, pondo-se a caminho, foi diretamente para o interor do vasto bosque. Andou o dia inteiro e, ao anoitecer, chegou à casinha encantada. Entrou e ali encontrou um rapazinho, que lhe perguntou:
- De onde vens e para onde vais?
- Encantou-se com sua beleza, seu régio vestido e com a estrela que brilhava em sua fronte.
- Sou uma princesa- respondeu ela- e ando à procura de meus doze irmãos. Estou disposta a caminhar sob o céu azul até encontrá-los.
Mostrou-lhe então, as doze camisas e Benjamim, reconhecendo que era sua irmã, disse:
- Sou Benjamim, teu irmão mais moço.
A menina começou a chorar de alegria e ele também; os dois se abraçaram e beijaram com grande afeto. Depois o rapaz falou:
- Querida irmã, existe, ainda um impedimento. Havíamos combinado matar qualquer menina que encontrássemos, porque fomos obrigados a abandonar nosso reino por causa de uma manina.
Ao que ela respondeu:
Morrerei com gosto se assim puder salvar meus irmãos!
- Não, não! - retrucou Benjamim- Não morrerás!Oculta-te debaixo deste tonel até chegarem os onze irmãos, que irei entender-me com eles.
A menina assim fez.
Quando anoiteceu, os demais regressaram à casa e sentaram-se à mesa. Enquanto comiam, perguntaram a Benjamim:
- Quais são as novidades?
- Vocês não sabem de alguma?
- Não- responderam eles.
- Estiveram no bosque e eu, que fiquei em casa, sei mais do que vocês- comentou o rapaz.
-Pois conta-nos! - exclamaram eles.
- Prometem-me não matar a primeira menina que encontrarem?
- Sim-responderam todos- havemos de poupá-la; mas conta-nos o que sabes.
E Benjamim contou:
- Nossa irmã está aqui.
- Levantou o tonel e a princesinha surgiu de baixo dele, linda e delicada, com sua vestimenta régia e a estrela dourada na fronte. Houve grande alegria entre todos e os irmãos a abraçaram e beijaram com ternura.
A menina ficava em casa com Benjamim para ajudá-lo nos afazeres domésticos. Os outros saíam ao bosque para caçar corças e pombas, a fim de terem o que comer; depois Benjamim e a irmã preparavam os pratos. Ela procurava lenha, ervas e punha as panelas ao fogo para que a comida estivesse pronta quando os onze regressassem. Trazia a casinha em ordem, a roupa de cama bem branca e limpa e os irmãos estavam satisfeitos com ela. Viviam, assim, em grande união e harmonia.
Certa vez, os dois que ficavam em casa prepararam um prato muito saboroso e, reunidos todos, sentaram-se à mesa, comendo e bebendo com grande prazer. Havia, porém, um pequeno jardim na casa encantada e nele cresciam doze lírios. A menina, querendo fazer uma surpresa a seus irmãos, cortou as doze flores para dar um a cada um deles após o almoço. Entretanto, mal acabara de cortá-laa, os doze irmãos se transformaram em doze corvos que saíram voando sobre o bosque e, ao mesmo tempo, a casa e o jardim desapareceram. A pobre menina ficou sozinha na mata escura e, ao voltar-se para olhar em redor, viu uma velha a seu lado. Esta lhe falou:
- Que fizeste, minha filha? Por que não deixaste no seu lugar as doze flores? Eram teus irmãos. que, agora, foram transformados, para sempre em corvos.
A menina respondeu chorando:
- Não existe algum meio de salvá-los?
- Não - disse a velha- não há senão um único meio, mas tão difícil que com ele não poderás libertar teus irmãos. terias de passar sete anos muda, sem falar e sem rir. Uma só palavra tornaria inútil todo o teu sacrifício, ainda que faltasse apenas uma hora para findarem os sete anos. Pronunciada essa única palavra, os teus irmãos morreriam.
Confiante em seu amor, a menina pensou: "Estou certa de que salvarei meus irmãos". Procurou uma árvore bem alta, subiu nela e ali ficou, tecendo, sem pronunciar uma palavra e sem rir jamias.
Sucedeu, porém, que um rei, caçando, entrou no bosque. Trazia consigo um grande galgo, que correu até a árvore onde morava a princesinha e ali se pôs a ladrar. O rei aproximou-se e viu a linda menina com a estrela dourada na fronte. Maravilhou-se tanto com sua formosura que lhe perguntou se seria sua esposa. Ela não respondeu uma só palavra; fez, apenas, um leve sinal afirmativo com a cabeça. O rei, então, subiu na árvore, tomou a princesa em seus braços e, montando com ela no cavalo, levou-a ao palácio. Ali celebraram o casamento com grande pompa e regozijo, mas a noiva não falou nem riu uma só vez.
Ao fim de alguns anos em que viveram felizes, a mãe do rei, que era uma mulher malvada, começou a falar da jovem rainha, dizendo a seu filho:
É uma mendiga vulgar que trouxeste para casa. Sabe lá que malvadeza não estará ela maquinando em segredo! Se é muda e não pode falar, poderia ao menos rir, mas quem nunca ri não tem a consciência limpa.
A princípio o rei não quis dar-lhe ouvidos, mas tanto a velha insistiu e de tantas maldades a acusou que, finalmente, o rei se deixou convencer e a condenou à morte.
Acenderam uma fogueira bem grande no pátio, onde a rainha deveria morrer queimada. O rei estava parado numa janela que ficava ao alto e assistia, chorando, à execução, porque ainda a amava muito, E quando já estava atada ao poste e as chamas começaram a lamber-lhe o vestido, escoou-se o último segundo dos sete anos de sua penitência. No mesmo instante, ouviu-se um grande ruído de asas no ar, e apareceram doze corvos que pousaram no chão.Nem bem o haviam tocado, transformaram-se nos doze irmãos, salvos pelos sacrifício da princesa. Apressaram-se logo a apagar o fogo, libertando sua irmã, e a abraçaram e beijaram carinhosamente. E ela, que então pode abrir a boca e falar, contou ao rei por que motivo estivera muda todo o tempo e por que nunca havia rido. O rei alegrou-se muito ao ver que sua esposa era inocente e todos eles passaram a viver juntos, em boa paz. A sogra perversa foi forçada a comparecer ante um tribunal e, depois, metida dentro de um barril cheio de azeite fervente. E assim morreu.
FIM
Visite meu canal no you tube : Silvana Carvalho
Um beijo
Um abraço
e um aperto de mão.
Era uma vez um rei e uma rainha que viviam em boa paz e tinham doze filhos, todos eles varões. Um dia, o
rei disse à sua esposa:
- Se o décimo-terceiro filho que esperas for menina, os doze rapazes deverão morrer, para que a herança se torne maior e o reino inteiro pertença somente a ela.
- E mandou fazer doze caixões, enchê-los com serragem e colocar em cada um deles uma pequena almofada. Depois mandou que os guardassem numa sala fechada e, dando a chave à rainha, proibiu-a de falar nisso a qualquer pessoa.
A mãe passava os dias em profunda tristeza até que certa vez, seu filho menor, que nunca se separava dela, a quem dera o nome de Benjamim, como na Bíblia, lhe perguntou:
- Por que estás tão triste, mãezinha querida?
- Ah, meu filho! - respondeu ela.- Não posso dizer-te.
Mas o menino não lhe dava sossego com suas indagações. Ela, então, abriu a porta da sala fechada e, mostrando-lhe os doze caixões cheios de serragem, disse:
- Meu querido Benjamim, teu pai mandou fazer estes caixões para ti e teus onze irmãos. Se eu trouxer ao mundo uma menina, todos vocês serão mortos e sepultados dentro deles.
E como ela chorasse enquanto falava, o filho quis consolá-la:
- Não chores, querida mãe. Nós nos salvaremos, indo embora a tempo.
- A rainha, então, ordenou-lhe:
- Vai ao bosque com teus onze irmãos e que um de vocês fique sempre de guarda em cima da árvore mais alta que encontrarem, observando a torre do palácio. Se nascer um menino, içarei uma bandeira branca e vocês todos poderão voltar. Mas, se for uma menina, hastearei uma bandeira vermelha. Nesse caso, fujam o mais depressa possível e que Deus os proteja. Todas as noites me levantarei para rezar por vocês pedindo que no inverno tenham fogo para se aquecerem e no verão não sintam calor demais.
Depois, tendo abençoado seus filhos, estes partiram para o bosque.
Um após outro ficava de guarda, sentado no carvalho mais alto, olhando para a torre. Ao fim de onze dias, chegou a vez de Benjamim, que viu içarem uma bandeira; mas não era branca e sim vermelha como sangue, avisando-os de que deveriam morrer. Quando os irmãos ouviram a notícia, ficaram cheios de raiva e disseram:
- Íamos morrer por causa de uma menina! Juremos vingança! Onde encontrarmos uma menina, o seu sangue será derramado.
A seguir embrenharam-se mais ainda pelo bosque e, no lugar mais espesso e escuro, encontraram uma cabana encantada que estava deserta.
- Vamos ficar morando aqui- disseram - Benjamim, tu que és o menor e o mais fraco, ficarás cuidando da casa enquanto nós iremos procurar alimento,
E saíram a caçar lebres, veados, pombas e tudo o que havia para comer. Mais tarde Benjamim preparava a comida, para saciar a fome dos irmãos. Assim viveram juntos durante dez anos, e o tempo não lhes pareceu longo.
Enquanto isso, nesse meio tempo, a menina que a rainha dera à luz, havia crescido; era linda e de bom coração. Trazia na testa uma estrela dourada. Certo dia em que se acostumava lavar roupa no palácio, ela viu doze camisas de homem e perguntou à sua mãe:
A quem pertencem essas doze camisas? São pequenas demais para serem de meu pai.
A rainha repondeu-lhe com o coração angustiado:
- Querida filha, elas pertencem a teus doze irmãos.
- E onde estão meus doze irmãos? Nunca ouvi falar neles.
- Só Deus sabe onde estão. Andam errando pelo mundo afora.
E conduzindo sua filha até a sala fechada, abriu a porta e mostrou-lhe os doze caixões, cheios de serragem e com as almofadas.
- Estes caixões- disse-lhe- eram destinados a teus irmãos, mas eles fugiram para o bosque antes de nasceres.- E passou a contar tudo o que havia acontecido. A menina, então, consolou-a:
Não chores, querida mãe! Vou sair à procura de meus irmãos.
Apanhou as doze camisas e, pondo-se a caminho, foi diretamente para o interor do vasto bosque. Andou o dia inteiro e, ao anoitecer, chegou à casinha encantada. Entrou e ali encontrou um rapazinho, que lhe perguntou:
- De onde vens e para onde vais?
- Encantou-se com sua beleza, seu régio vestido e com a estrela que brilhava em sua fronte.
- Sou uma princesa- respondeu ela- e ando à procura de meus doze irmãos. Estou disposta a caminhar sob o céu azul até encontrá-los.
Mostrou-lhe então, as doze camisas e Benjamim, reconhecendo que era sua irmã, disse:
- Sou Benjamim, teu irmão mais moço.
A menina começou a chorar de alegria e ele também; os dois se abraçaram e beijaram com grande afeto. Depois o rapaz falou:
- Querida irmã, existe, ainda um impedimento. Havíamos combinado matar qualquer menina que encontrássemos, porque fomos obrigados a abandonar nosso reino por causa de uma manina.
Ao que ela respondeu:
Morrerei com gosto se assim puder salvar meus irmãos!
- Não, não! - retrucou Benjamim- Não morrerás!Oculta-te debaixo deste tonel até chegarem os onze irmãos, que irei entender-me com eles.
A menina assim fez.
Quando anoiteceu, os demais regressaram à casa e sentaram-se à mesa. Enquanto comiam, perguntaram a Benjamim:
- Quais são as novidades?
- Vocês não sabem de alguma?
- Não- responderam eles.
- Estiveram no bosque e eu, que fiquei em casa, sei mais do que vocês- comentou o rapaz.
-Pois conta-nos! - exclamaram eles.
- Prometem-me não matar a primeira menina que encontrarem?
- Sim-responderam todos- havemos de poupá-la; mas conta-nos o que sabes.
E Benjamim contou:
- Nossa irmã está aqui.
- Levantou o tonel e a princesinha surgiu de baixo dele, linda e delicada, com sua vestimenta régia e a estrela dourada na fronte. Houve grande alegria entre todos e os irmãos a abraçaram e beijaram com ternura.
A menina ficava em casa com Benjamim para ajudá-lo nos afazeres domésticos. Os outros saíam ao bosque para caçar corças e pombas, a fim de terem o que comer; depois Benjamim e a irmã preparavam os pratos. Ela procurava lenha, ervas e punha as panelas ao fogo para que a comida estivesse pronta quando os onze regressassem. Trazia a casinha em ordem, a roupa de cama bem branca e limpa e os irmãos estavam satisfeitos com ela. Viviam, assim, em grande união e harmonia.
Certa vez, os dois que ficavam em casa prepararam um prato muito saboroso e, reunidos todos, sentaram-se à mesa, comendo e bebendo com grande prazer. Havia, porém, um pequeno jardim na casa encantada e nele cresciam doze lírios. A menina, querendo fazer uma surpresa a seus irmãos, cortou as doze flores para dar um a cada um deles após o almoço. Entretanto, mal acabara de cortá-laa, os doze irmãos se transformaram em doze corvos que saíram voando sobre o bosque e, ao mesmo tempo, a casa e o jardim desapareceram. A pobre menina ficou sozinha na mata escura e, ao voltar-se para olhar em redor, viu uma velha a seu lado. Esta lhe falou:
- Que fizeste, minha filha? Por que não deixaste no seu lugar as doze flores? Eram teus irmãos. que, agora, foram transformados, para sempre em corvos.
A menina respondeu chorando:
- Não existe algum meio de salvá-los?
- Não - disse a velha- não há senão um único meio, mas tão difícil que com ele não poderás libertar teus irmãos. terias de passar sete anos muda, sem falar e sem rir. Uma só palavra tornaria inútil todo o teu sacrifício, ainda que faltasse apenas uma hora para findarem os sete anos. Pronunciada essa única palavra, os teus irmãos morreriam.
Confiante em seu amor, a menina pensou: "Estou certa de que salvarei meus irmãos". Procurou uma árvore bem alta, subiu nela e ali ficou, tecendo, sem pronunciar uma palavra e sem rir jamias.
Sucedeu, porém, que um rei, caçando, entrou no bosque. Trazia consigo um grande galgo, que correu até a árvore onde morava a princesinha e ali se pôs a ladrar. O rei aproximou-se e viu a linda menina com a estrela dourada na fronte. Maravilhou-se tanto com sua formosura que lhe perguntou se seria sua esposa. Ela não respondeu uma só palavra; fez, apenas, um leve sinal afirmativo com a cabeça. O rei, então, subiu na árvore, tomou a princesa em seus braços e, montando com ela no cavalo, levou-a ao palácio. Ali celebraram o casamento com grande pompa e regozijo, mas a noiva não falou nem riu uma só vez.
Ao fim de alguns anos em que viveram felizes, a mãe do rei, que era uma mulher malvada, começou a falar da jovem rainha, dizendo a seu filho:
É uma mendiga vulgar que trouxeste para casa. Sabe lá que malvadeza não estará ela maquinando em segredo! Se é muda e não pode falar, poderia ao menos rir, mas quem nunca ri não tem a consciência limpa.
A princípio o rei não quis dar-lhe ouvidos, mas tanto a velha insistiu e de tantas maldades a acusou que, finalmente, o rei se deixou convencer e a condenou à morte.
Acenderam uma fogueira bem grande no pátio, onde a rainha deveria morrer queimada. O rei estava parado numa janela que ficava ao alto e assistia, chorando, à execução, porque ainda a amava muito, E quando já estava atada ao poste e as chamas começaram a lamber-lhe o vestido, escoou-se o último segundo dos sete anos de sua penitência. No mesmo instante, ouviu-se um grande ruído de asas no ar, e apareceram doze corvos que pousaram no chão.Nem bem o haviam tocado, transformaram-se nos doze irmãos, salvos pelos sacrifício da princesa. Apressaram-se logo a apagar o fogo, libertando sua irmã, e a abraçaram e beijaram carinhosamente. E ela, que então pode abrir a boca e falar, contou ao rei por que motivo estivera muda todo o tempo e por que nunca havia rido. O rei alegrou-se muito ao ver que sua esposa era inocente e todos eles passaram a viver juntos, em boa paz. A sogra perversa foi forçada a comparecer ante um tribunal e, depois, metida dentro de um barril cheio de azeite fervente. E assim morreu.
FIM
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Um beijo
Um abraço
e um aperto de mão.
quinta-feira, 4 de junho de 2015
O FIEL JOÃO - CONTOS DE GRIMM
Era uma vez um velho rei que, sentindo-se enfermo, refletiu: "Encontro-me, sem dúvida, no leito da morte." E ordenou: - Tragam-me o fiel João! Era este o seu criado favorito e era assim chamado porque durante toda a vida fora fiel a seu amo. Chegando aos pés da cama, o rei lhe falou:
- Meu fidelíssimo João, sinto que a morte se aproxima e nada mais me preocupa agora a não ser meu filho. É ainda muito jovem e nem sempre sabe como portar-se. Promete-me instruí-lo em tudo de que necessite saber e que serás para ele como um segundo pai; caso contrário, não fecharei meus olhos em paz.
- Prometo não abandoná-lo, - respondeu o fiel João. Vou servi-lo com fidelidade, ainda que isso me custe a vida.
- Então morrerei tranquilo. - E, prosseguindo, disse o velho monarca; - Após a minha morte, tu lhe mostrarás o castelo inteiro, todos os aposentos, salões, subterrâneos e todos os tesouros que ali estão, exceto a última sala da longa galeria, onde se encontra o quadro com o retrato da Princesa do Telhado de Ouro. Se o meu filho chega a vê-lo, sentirá por ela um amor tão profundo que perderá os sentidos e, por sua causa, irá expor-se a graves perigos. Deves preservá-lo disso.
Tendo o criado fiel, mais uma vez, apertado a mão do rei, este calou-se, reclinou a cabeça no travesseiro e exalou o último suspiro,
Sepultado o velho soberano, João contou ao jovem rei a promessa que fizera a seu pai no leito de morte e acrescentou:
- Cumprirei a minha palavra e te serei fiel como fui a teu pai, embora me custe a vida.
Findo o luto, dirigiu-se ao rei e lhe disse:
- Chegou a hora de veres tua herança; vou mostrar-te o castelo de teu pai.
E andou com ele por todo o palácio, acima e abaixo, mostrando-lhe os tesouros e as salas magníficas. Mas conservou fechada aquela em que se encontrava o quadro perigoso, já que este era visto ao abrir-se a porta. Sua perfeição era tal que a princesa parecia estar respirando e a gente não acreditava que pudesse haver coisa mais bela no mundo inteiro.
Mas o jovem rei, percebendo que o fiel João passava sempre por uma das portas sem abri-la, indagou:
- Por que não abres essa porta?
- Porque nesse aposento existe algo que te amedrontaria, - retrucou o criado.
Dirigiu-se à porta e começou a forçá-la; mas o fiel João deteve-o, dizendo:
- Antes de teu pai morrer, prometi-lhe que não verias o que está neste quarto; poderá ser tua desgraça e a minha.
- Ao contrário- respondeu o jovem- esta proibição é que será minha ruína. Não descansarei dia e noite se não vir, com meus próprios olhos, o que há aí dentro. - E daqui não saio antes de me abrires a porta.
João compreendeu que era inútil opor-se e, com o coração pesado e muitos suspiros, retirou a chave do molho grande. Aberta a porta, entrou primeiro, tentando encobrir o quadro com seu próprio corpo para que o rei não visse. Mas que adiantou? O jovem ergueu-se na ponta dos pés e olhou por cima dos seus ombros.
Assim que viu o retrato da princesa, resplandescente de ouro e pedras preciosas, caiu ao chão sem sentidos. O fiel João levantou-o e, enquanto o levava nos braços para a cama, pensou angustiado: "A desgraça aconteceu! Meu Deus, que será agora?
Deu-lhe uns goles de vinho, para fazê-lo voltar a si. Quando o jovem rei conseguiu falar novamente, suas primeiras palavras foram:
- De quem é aquele retrato tão lindo?
- É da Princesa do Telhado de Ouro, - respondeu o fiel João.
- Meu amor por ela é tão grande - continuou o rei - que, se todas as folhas das árvores fossem línguas, mesmo assim não seriam capazes de expressá-lo! Darei a minha vida para conquistá-la e tu, que és meu criado fiel, terás de ajudar-me.
Durante muito tempo João ficou meditando como isso seria possível, uma vez que só o fato de chegar à presença da princesa já era dificílimo. Finalmente, descobriu um meio e disse ao rei;
- Tudo o que cerca a princesa é de ouro: mesas, cadeiras, bacias, taças, tigelas, enfim, todos os pertences de uma casa. Tua fortuna consta de 5 toneladas de ouro. Manda distribuir uma tonelada aos ourives do reino para que a transformem na mais diversas classes de vasos e objetos, em toda a espécie de pássaros, animais selvagens e bichos fabulosos. Com essas peças, nós nos poremos a caminho para tentar a sorte, pois a princesa se agradará delas.
O rei, então, mandou chamar todos os ourives do país. Estes se puseram a trabalhar dia e noite até que aprontaram os mais maravilhosos objetos. Depois de transportado tudo aquilo para um navio, o fiel João e o rei vestiram roupas de mercadores, com o propósito de se tornarem irreconhecíveis. Logo após se fizeram ao mar e navegaram até a cidade onde morava a Princesa do Telhado de Ouro.
O fiel João pediu ao rei que permanecesse no barco e esperasse a sua volta.
- Talvez - disse ele- eu consiga trazer a princesa. Trata, pois, de deixar tudo em ordem; manda por à vista as peças de ouro e enfeitar o navio todo.
A seguir, reuniu certa quantidade daqueles objetos, colocou-os no cinturão, desembarcou e encaminhou-se diretamente para o palácio real. Entretanto no pátio, viu uma linda jovem ocupada em encher dois baldes de ouro em um poço. A moça, ao voltar-se para levar a água, notou o homem e perguntou quem era.
Sou um mercador,- respondeu este e, abrindo o cinturão, mostrou o que continha.
- Que maravilha!- exclamou a jovem. Pôs o balde no chão e passou a examinar as peças, uma por uma.- A princesa precisa vê-los, -continuou- ela aprecia os objetos de ouro e com certeza vai comprar tudo.
Levou o homem pela mão ao interior do palácio, pois era a camareira. A princesa, quando viu a mercadoria, alegrou-se imensamente e disse:
- É um trabalho tão perfeito que vou comprar tudo!
O fiel João, porém, esclareceu:
- Sou, apenas, o criado de um comerciante muito rico e o que tenho aqui nada significa comparado ao que meu amo guarda em seu navio; é o que há de mais artístico e precioso trabalhado em ouro.
Imediatamente a princesa quis que lhe trouxessem tudo , mas João foi logo dizendo:
A quantidade é tão grande que seria preciso muitos dias e mais salas do que existem no vosso palácio.
Essas palavras aumentaram a curiosidade e a cobiça da jovem.
- Leva-me até o navio. Pretendo ir, pessoalmente, ver os tesouros do teu amo.
Satisfeito, João conduziu a princesa ao barco. E o rei, ao vê-la, achou-a ainda mais bela em pessoa do que no retrato. E seu coração pulsou com tanta violência que parecia quer saltar-lhe do peito. A princesinha subiu na embarcação e o rei a acompanhou ao seu interior. O criado, então, aproximando-se do piloto, deu-lhe ordem de partida.
- Faça içar todas as velas para que o navio ande tão depressa como pássaro nos ares.
Enquanto isso, o rei mostrava à princesa os pratos de ouro, cada um isoladamente; as bacias, taças, tigelas, pássaros, animais selvagens e lendários. Passaram-se, assim, muitas horas e a jovem absorta em olhar tudo, não notou, na sua alegria, que o navio estava em movimento. Depois de ter olhado o último objeto, agradeceu ao comerciante, pretendendo regressar ao palácio. Quando, porém, subiu ao convés, percebeu que estava bem longe da terra, navegando em alto mar.
- Ai de mim! - exclamou, cheia de susto.- Fui enganada! Raptaram-me e estou em poder de um comerciante. Mil vezes a morte!
Mas o rei, pegando-lhe a mão, disse:
- Não sou comerciante, sou um rei e a minha origem não é inferior à tua. Se te raptei, usando de astúcia, foi porque te amo a mais não poder. A primeira vez que vi teu retrato, perdi os sentidos.
A Princesa do Telhado de Ouro, ouvindo essas palavras, sentiu-se conformada e seu coração não se mostrou ingrato, de modo que consentiu em ser sua esposa.
Enquanto navegavam, o fiel João, sentado à proa do navio, tocava um instrumento. De repente viu no ar três corvos que se aproximavam. Parou a música e ficou a escutar o que eles conversavam, pois entendia sua linguagem. Dizia um deles:
- Vejam! Ele está levando para seu castelo a Princesa do Telhado de Ouro.
- Sim- respondeu o segundo- mas ainda não lhe pertence.
- Disse o terceiro:
- Como não? Se está aí no barco!
- De que lhe adianta? Quando chegarem à terra, um cavalo alazão virá correndo a seu encontro; o rei vai querer montá-lo e o animal saíra a galope e desaparecerá com ele pelos ares. Assim, jamais voltará a ver a princesa.
- Disse o segundo:
- E não há um meio de salvá-lo?
- Oh, sim. Se outra pessoa montar rapidamente e, com uma pistola que esta no coldre, matar o cavalo, o rei se salvará. Mas quem sabe disso? E se alguém souber e lhe contar, há de transformar-se em pedra:
E o segundo continuou falando:
- Sei mais ainda. Mesmo que o cavalo seja morto, o rei não ficará com sua noiva. Quando chegarem juntos ao palácio, encontrarão uma camisa de bodas numa bandeja, que parecia tecida em ouro e prata mas não passa de enxofre e breu. Se vestir, ficará queimado até os ossos.
Perguntou o terceiro;
- E não há meio de salvá-lo?
- Oh, sim! - retrucou o segundo.- Se alguém pegar, de luvas, a camisa e a atirar ao fogo para que se queime, o rei estará a salvo. Mas de que adianta? A pessoa que souber disso e contar, há de transformar-se em pedra, da cintura até o coração.
E o terceiro prosseguiu dizendo:
- Pois eu ainda sei mais. Embora a camisa seja queimada, o rei não terá sua noiva. Quando começar o baile depois do casamento e a jovem rainha estiver dançando, ficará pálida de repente e cairá ao chão morta. Se alguém não a levantar e sorver três gotas de sangue do seu seio direito, cuspindo-as em seguida, ela morrerá. Entretanto, quem souber disso e contar, há de transformar-se em pedra desde a sola dos pés até a cabeça.
Depois de terem falado assim, os corvos continuaram seu voo e o fiel João, que tudo entendera, daí por diante se foi tornando silencioso e triste. Se ocultasse o que ouvira, desgraçaria o seu amo e, se falasse, pagaria com a própria vida. Depois de muito pensar decidiu-se: " Salvarei meu amo, ainda que isso me custe a vida!"
Quando chegaram à terra e desembarcaram, aconteceu aquilo que o corvo havia anunciado. Um magnífico alazão aproximou-se a galope.
- Ótimo!- exclamou o rei- Este cavalo me levará a meu castelo.
Dispo-se a montá-lo, mas o fiel João, antecipando-se, saltou sobre o animal, tirou a arma do coldre e matou o cavalo de um tiro.
Vendo isso, os outros criados, que não gostavam dele, começaram a gritar:
- Que horror! Matar este belo animal que deveria levar o rei a seu castelo!
O rei no entanto, lhes disse:
- Calem-se! Ele é o mais fiel dos meus criados e quem sabe por que razão procedeu assim!
A seguir, dirigiram-se ao palácio. Lá estava, numa das salas, a bandeja com a camisa de bodas. Parecia toda de ouro e prata. O jovem rei quis apanhá-la, mas o fiel João, pegando-a com um par de luvas, jogou-a, rapidamente, no fogão, onde foi consumida pelas chamas. Os demais criados recomeçaram a resmungar, dizendo:
Vejam; agora queimou a camisa de bodas do rei!
O soberano, porém, observou:
- Quem sabe por que agiu assim? Deixem-no! Ele é o mais fiel dos meus criados!
- O casamento foi celebrado e começou o baile. A noiva saiu dançando e o fiel João não a perdia de vista, observando-lhe o rosto. De repente, ela empalideceu e caiu ao chão como morta. João saiu correndo, ergueu numa cama. A seguir, ajoelhando-se perto dela, sorveu-lhe três gotas de sangue do seio direito, cuspindo-as em seguida. Pouco depois a jovem começou a respirar novamente e recuperar os sentidos. O rei, porém, que a tudo assistira e ignorava as razões por que o fiel criado agira daquela maneira, gritou encolerizado:
- Joguem-no ao cárcere!
Na manhã seguinte, João foi condenado à morte e levado à forca. Quando já se encontrava no patíbulo, disse:
Todo condenado tem o direito de falar antes de morrer. Cabe-me, também, esse direito?
- Sim- respondeu o rei.
Aí, então, o servo fiel começou a falar:
Fui condenado injustamente, pois sempre te fui fiel.
E passou a contar a conversa dos corvos, que ouvira durante a viagem e como, para salvar seu amo, fora obrigado a agir daquela maneira. O rei, então, exclamou:
Oh, meu fidelíssimo João! Perdoa-me! Tirem -no, imediatamente, daí!
João, porém ao pronunciar a última palavra, caíra ao chão, transformando numa estátua de pedra.
O rei e a rainha comoveram-se profundamente e o soberano falou:
- Se pudesse devolver-te a vida, meu fiel João!
- Ai de mim! Como retribuí mal a sua grande fidelidade! - E, mandando carregar a estátua de pedra, ordenou que a colocassem em seu quarto, junto ao leito. Cada vez que a contemplava, não podia conter as lágrimas de dizia:
- Se pudesse devolver-te a vida, meu fidelíssimo João!
Passado algum tempo, a rainha deu a luz dois gêmeos, que foram crescendo e eram a alegria dos pais. Certa vez, quando a rainha se encontrava na igreja e as duas crianças brincavam perto do pai, este olhou, de novo, cheio de amargura, para a estátua de pedra, suspirou e disse:
- Oh, se eu pudesse devolver-te a vida, meu fidelíssimo João!
E eis que, de repente, a estátua começou a falar:
- Sim, podes devolver-me a vida se fores capaz de sacrificar o que te é mais caro.
- O rei respondeu logo:
- Tudo que possuo neste mundo eu sacrificarei por ti.
- Bem- prosseguiu a estátua- se com tuas próprias mãos cortares a cabeça de teus filhos e passares o seu sangue no meu corpo, recuperarei a vida.
O rei estremeceu ao ouvir que deveria, ele mesmo matar seus filhos queridos, mas, lembrando-se da grande fidelidade de João, que por ele morrera, desembainhou a espada e cortou a cabeça aos dois meninos. Depois passou o sangue delas na pedra, que logo se animou, e o criado fiel reapareceu à sua frente, vivo e são. Dirigiu-se ao rei, dizendo:
- Tua lealdade será recompensada.
- Apanhou as cabeças das crianças e, colocando-as nos respectivos corpos, untou os ferimentos com o sangue delas. No mesmo instante os meninos reviveram e, saltando, felizes, continuaram a brincar como se nada lhes houvesse acontecido.
O rei alegrou-se imensamente e, ao ver que a rainha se aproximava, escondeu o fiel João e as crianças dentro de um armário bem grande. Quando ela entrou na sala, perguntou-lhe:
- Rezaste na igreja?
- Sim- respondeu ela- Mas estive pensando, o tempo todo, no fiel João, que sacrificou a vida por nós.
- Disse -lhe, então, o rei:
- Querida, poderemos fazê-lo viver novamente, mas isso nos custará a vida de nossos dois filhos.
A rainha empalideceu e sentiu uma forte dor no coração. Entretanto, disse:
- Devemos-lhe isso, pela grande lealdade que ele nos devotou.
- Vendo que a rainha pensava como ele, o rei foi ao armário e fez sair de dentro as duas crianças e o fiel João. Depois exclamou:
- Graças a Deus, ele está salvo e o nossos filhos também!
- E contou-lhe o que havia acontecido. Desde então viveram juntos e felizes até a morte.
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