quinta-feira, 30 de junho de 2016

MESTRE SOLA - CONTOS DE GRIMM

               Mestre Sola, era um homem baixinho, magro e irrequieto. Seu rosto pálido, de nariz arrebitado, era cheio de marcas de bexiga. Tinha cabelos grisalhos e duros e seus olhos pequenos e vivos não paravam um momento. Tudo percebia, tudo criticava, sabia tudo melhor que ninguém e sempre estava com a razão. Andando pela rua, movia os braços como se fossem remos. Uma vez, acertou em cheio no balde de água que uma jovem vinha carregando. E assim o balde, saltando pelos ares, derramou seu conteúdo em cima dele.
    - Idiota! - gritou para a moça, enquanto sacudia a água das roupas. - Não viste que eu vinha atrás de ti?
    Seu ofício era o de sapateiro e, quando trabalhava, puxava o fio com tal violência que metia a agulha nas costelas daquele que não se mantivesse a regular distância. Nenhum aprendiz ficava mais de um mês em sua casa, pois ele tinha sempre alguma coisa a criticar, por mais perfeito que estivesse o trabalho! Ora os pontos não eram parelhos, ora um sapato era maior ou em salto menor do que o outro; ou, então, o couro não fora suficientemente batido.
    - Espera - costumava dizer ao aprendiz- que ja te ensino como se bate sola! - E, apanhando uma tira de couro, aplicava-lhe umas boas lambadas.
    A todos chamava de preguiçosos. Mas ele mesmo bem pouco trabalhava, pois não era capaz de ficar quieto nem um quarto de hora. Se sua mulher levantava de madrugada e acendia o fogo, saltava ele da cama e corria, descalço, à cozinha.
    - Queres pegar fogo na casa? - gritava . - Parece que vais assar um boi inteiro! Ou estás pensando que a lenha não me custa dinheiro?
    Se as criadas se punham a rir e a conversar, lá ia ele e berrava:
    - Aí estão essas gralhas grasnando em vez de trabalhar! E que faz esse sabão na água? Um desperdício escandaloso e, além do mais, é uma vagabundagem que não tem tamanho! Não esfregam direito a roupa para não estragar as mãos!
    Em sua indignação, saía correndo e tropeçava num balde cheio de água suja que inundava aa cozinha inteira.
   Se construíam uma casa nova, corria à janela para observar.
    - Lá estão eles empregando lajes para fazer as paredes! Um material que nunca acaba de secar! Nessa casa ninguém terá saúde. E vejam só como colocam mal as pedras do alicerce. A argamassa também não vale nada . Deviam pôr cimento e não areia. Ainda hei de ver essa casa cair na cabeça dos moradores.
    Sentava-se e dava uns pontos, mas, em seguida, levantava-se de um salto e, enquanto tirava o avental de coufo, gritava:
    - Preciso falar sério com essa gente!
   Numa ocasião dessas, foi aos operários e se pôs a berrar:
   - Que é isso? Para que serve o prumo? Pensam que assim as vigas ficarão retas? Um dia tudo isso virá abaixo!
    Depois arrancando o formão da mão de um operário, começou a ensinar-lhe o seu manejo. Nisto, ao ver um carro que se aproximava, carregado de terra, soltou o formão e correu ao camponês que caminhava ao lado.
    - Estás louco? - disse-lhe. - Quem atrela cavalos tão novos a um carro assim carregado? Os pobres animais cairão mortos quando menos esperares.
    O camponês não lhe deu reposta e Mestre Sola voltou, furioso, para sua oficina.
   Quando se dispunha a trabalhar , de novo, o aprendiz entregou-lhe um sapato.
   - Que é isso? - gritou. - Não te disse que não cortasses os sapatos tão grandes? Quem irá comprar um sapato que só tem sola? Exijo que minhas ordens sejam cumpridas ao pé da letra!
    - Mestre, - respondeu o aprendiz, - sem dúvida o senhor tem razão ao dizer que o sapato não está bem feito; mas quem o cortou e começou a costurá-lo foi o senhor mesmo. Quando, há pouco, o senhor se levantou tão depressa, ele caiu da mesa, e  nada fiz senão erguê-lo. O que acontece é que, para os senhor, nem um anjo do céu trabalharia direito.
    Ora, na noite seguinte, Mestre Sola sonhou que havia morrido e se encontrava a caminho do céu. Ao chegar, bateu fortemente, à porta.
   -É de admirar - disse- que não tenham uma sineta. A gente esfola os dedos batendo nessa porta.
    São Pedro veio abrir, curioso por saber quem pedia entrada com tanta insistência.
    - Ah, és tu , Mestre Sola?! - falou. - Eu te deixarei entrar, mas aconselho-te a abandonares o costume de criticar tudo e a não censurares o que vais ver no céu; do contrário, não te sairás bem.
    - Podia ter poupado o conselho, meu santo, - replicou o Meste Sola. - Sei conduzir-me corretamente e aqui graças a Deus, tudo é perfeito e nada há que mereça crítica, como lá embaixo.
   Entrou, pois, e começou a passear pelos vastos espaços celestes. Olhava para a direita e para esquerda, sacudindo de vez em quando a cabeça ou resmungando entre os dentes. Nisto, viu dois anjos que carregavam uma trave; era a que um indivíduo havia tido no seu olho enquanto procurava o argueiro no olho do vizinho. Reparou, no entanto, que os anjos carregavam a trave ao comprido, mas obliquamente. "Já se viu maior desatino?"- pensou o Mestre Sola. Contudo, calou o bico e tranquilizou-se completamente o pensamento: " No fundo é indiferente que levem a trave como queiram, desde que possam passar. E, de fato, vejo que não batem contra nada."
     Logo depois, viu outros dois anjos que deitavam água de uma fonte num tonel.  Ao mesmo tempo se deu conta de que o tonel estava furado e a água saía por todos os lados. Faziam cair chuva sobre a terra.
   - Com mil demônios!- explodiu Mestre Sola, mas dominando-se, pensou: "Talvez seja um passatempo. Se alguém acha graça nisso, que se diverta com essas coisas inúteis, principalmente aqui no Céu, onde, pelo que pude notar, todos andam vadiando."
    Foi adiante e viu um carro atolado num buraco muito fundo.
  - Não é de admirar, - disse para o homem que estava ao lado. - Que ideia pôr tanta carga nele" Que leva aí?
   - Boa intenções, - respondeu o outro. - Com elas não pude encontrar o caminho certo. Mas consegui arrastar o carro até aqui e sei que não me deixarão na entalada.
    Realmente, pouco depois chegou um anjo e atrelou dois cavalos.
   - Muito bem! - disse Mestre Sola. - Mas dois cavalos não tiram o carro daí; deverão se, no mínimo, quatro.
    E veio outro anjo com mais dois cavaloas. Não os atrelou, porém, adiante e sim atrás do carro. Aquilo foi demais para Mestre Sola.
    - Pateta! - berrou, sem poder conter-se. - Que fazes? Já se viu, desde que o mundo é mundo, desatolar um carro dessa maneira? Esses sabichões, em sua vaidade, pretendem saber tudo melhor que os outros.
    E teria continuado a falar se um habitantes do Céu, que ali chegara, não o tivesse apanhado pela gola, expulsando-o com força irresistível da mansão celestial. Do lado de fora, o nosso mestre olhou, mais uma vez, para trás. Viu, então, que quatro cavalos com asas estavam erguendo o carro,
    Nesse momento, Mestre Sola despertou.
    - É verdade que no Ceú tudo é um pouco diferente da terra, - disse para si mesmo - e por isso é preciso desculpar alguma coisa. Mas quem consegue assistir, com calma, que se atrelem cavalos adiante e as mesmo tempo atrás de um carro? Tinham asas, é certo. Mas quem poderia imaginar uma coisa dessas? Além disso, é uma burrice muito grande prender um par de asas a animais que já tem quatro pernas para andar. Devo agora levantar-me, pois do contrário, farão tudo errado nesta casa.  É uma verdadeira sorte que eu não tenha morrido de verdade! FIM
 

segunda-feira, 27 de junho de 2016

OS MENSAGEIROS DA MORTE - CONTOS DE GRIMM

   Certa vez - há muito e muitos anos- andava  um gigante passeando pela estrada real. De repente apareceu diante dele um homem desconhecido que lhe gritou:
   - Alto! Nem um passo mais!
   - Como?! - exclamou o gigante. - Um tiquinho de gente como tu, a quem posso esmagar entre os dedos, pretende impedir-me o caminho? Quem és, para te atreveres a me falar desse  jeito?
   - Sou a morte, - replicou o outro. - A mim ninguém resiste e também tu tens de obedecer às minhas ordens.
   Mas o gigante resistiu e começou a lutar com a morte. Foi um combate longo e violento, do qual o gigante saiu vencedor. Deu tal golpe em seu adversário que o fez cair junto a uma rocha. A seguir, o gigante continuou seu caminho, deixando a morte vencida e tão cansada que quase morreu.
   - Que irá acontecer - disse ela- se fico estendida neste canto? Ninguém mais morrerá no mundo e, em pouco tempo, não vai haver lugar para tanta gente.
   Nisto, passou por ali um jovem cheio de saúde que cantarolava uma alegre canção e olhava, satisfeito, ao redor. Vendo aquele homem caído, quase desmaiado, aproximou-se, amparou-o e deu-lhe de beber de seu cantil; depois aguardou que se refizesse.
   - Saber quem sou e a quem ajudaste? - perguntou o desconhecido, levantando-se.
   - Não, respondeu o jovem, - não te conheço.
    - Sou a morte, - disse o outro. - Não poupo a ninguém e nem contigo posso fazer uma exceção. Mas, para veres que sou grata, prometo que não te levarei inesperadamente. Vou mandar-te, antes os meus mensageiros, que te avisarão.
   - Bem, - respondeu o jovem, - sempre é uma vantagem saber quando vens; assim, até lá, fico livre de ti.
    Partiu alegre e satisfeito e, daí em diante, passou a viver despreocupado. Entretanto, a mocidade e a saúde não duraram muito.
   Logo as enfermidades e as dores começaram a amargurar seus dias e a roubar-lhe o sono à noite.
   - Não morri ainda, - dizia ele para si mesmo,- pois a morte me enviará seus mensageiros. Só quero que esses maus dias de doença passem de uma vez por todas!
    Quando se sentiu restabelecido, voltou a viver  sua vida alegre e sem preocupações. Mas, certo dia, alguém lhe deu uma batidinha no ombro. E, ao voltar-se, ele viu a morte, que lhe falou:
   - Segue-me, chegou a hora em que deves despedir-te do mundo.
   - Como? - protestou o homem. - Vais faltar com a tua palavra? Não prometeste que mandarias teus mensageiros antes de vires me buscar? Não vi nenhum deles.
    - Cala-te!- replicou a morte. - Que mais fiz eu senão mandar-te meus mensageiros, um após outro? Não veio a febre que te atacou e prostrou na cama? As tonturas não te atordoaram? O reumatismo não atormentou todos os teus membros? Não sentiste que tu zumbiam os ouvidos? A vista não te escureceu? E, além disso tudo, meu irmão, o Sono, não te fez pensar  em mim, noite após noite? Quando dormias não era como se já estivesse morto?
    O homem não soube o que responder e, resiganando-se acompanhou a morte. FIM

JOÃO FORTE - CONTOS DE GRIMM

       Era uma vez um homem e uma mulher que tinham um único filho e viviam completamente sós num vale afastado. Certo dia a mãe saiu em busca de lenha e levou  consigo o pequeno João que tinha apenas dois anos de idade. Estavam na primavera e, como o menino corria de um lado para outro, entretido com as flores, a mulher, sem querer, foi penetrando cada vez mais na floresta. De repente,  surgiram dois bandidos, prenderam a mãe e o menino e os levaram para o pior lugar da mata, onde ninguém se animava a ir. A pobre mulher implorou aos bandidos que a soltassem, mas o coração deles era duro como pedra. permaneceram surdos às suas súplicas e lamentações e a obrigaram a seguir caminho. Após duas horas de marcha penosa entre arbustos e espinhos, chegaram a uma rocha onde havia uma porta. Os homens bateram e ela se abriu. Andaram por um longo corredor escuro e finalmente encontraram-se numa caverna espaçosa, iluminada pelas chamas de uma fogueira. Nas paredes havia espadas, sabres e outras armas assustadoras, que brilhavam à luz do fogo. Ao centro, ao redor de uma mesa, outros quatro bandidos estavam jogando e, num lugar mais elevado da caverna, achava-se o capitão. Este, ao ver a mulher, dirigiu-se a ela e lhe disse que não se preocupasse e nada temesse; não lhe fariam mal algum. Teria, unicamente, de cuidar dos afazeres domésticos e, se mantivesse as coisas em ordem, nada lhe aconteceria. Depois deram-lhe comida e lhe indicaram uma cama, onde pode acomodar-se com seu filhinho.
    A mulher vivei muitos anos com os ladrões, e João cresceu, tornando-se alto e forte. Sua mãe lhe contava histórias e lhe ensinava a ler, utilizando-se de um velho livro que encontrou na caverna. Quando João atingiu os nove anos, cortou um galho de pinheiro e dele fez um cacete, bem resistente, que escondeu atrás da cama. Depois foi à sua mãe e perguntou:
   - Mãezinha querida, quem é meu pai? Eu quero e devo saber quem é ele.
    Mas a mulher não lhe quis dizer nada, pois sabia muito bem que os bandidos o impediram de partir. Seu coração, no entanto, doía-lhe ao pensar que João nunca iria conhecer o pai. Quando, naquela noite, os ladrões voltaram de suas excursões, João apanhou seu cacete e, parando à frente do capitão, lhe disse:
     - Agora quero saber quem é meu pai se  não me disseres, eu te derrubo com uma paulada.
    O capitão começou a rir e deu tal bofetada em João que ele foi rolando até embaixo da mesa. João levantou-se, em silêncio, e pensou: " Esperarei mais um ano, e, então, voltarei a experimentar; talvez me saia melhor."
    Transcorrido o ano, foi apanhar seu cacete, limpou-lhe o pó e, examinado-o atentamente, comentou:
     - És um  bom porrete!
    À noite voltaram os salteadores e puseram-se a beber vinho, jarra após jarra, até ficarem completamente tontos. Aí o rapaz trouxe o seu cacete e, voltando a enfrentar o capitão, perguntou quem era seu pai. O homem lhe respondeu com outra bofetada tão forte que João foi parar, novamente, embaixo da mesa. Mas logo se ergueu como uma mola e pôs-se a dar com o porrete  no chefe e nos bandidos, deixando-os incapazes de mover braços e persas. A mãe, de um canto, contemplava, espantada, a coragem e a força do filho. Quando João terminou sua tarefa, foi ter com ela e lhe disse:
    - Desta vez o caso foi à deveras, mas agora desejo saber quem é meu pai.
     - Vem , meu filho querido, - respondeu-lhe a mãe, - vamos procurá-lo até encontrar.
     Tirou ao capitão a chave da porta e o menino apanhou um saco que encheu de ouro e prata e objetos de valor. Depois o colocou aos ombros e os dois abandonaram a caverna. Que surpresa para João quando, passando das trevas à luz do dia, contemplou o bosque verde com suas flores e pássaros e o sol brilhando no céu! Ficou parado, cheio de assombro. A mãe procurou o caminho e, depois de algumas horas, chegaram, felizmente, ao vale solitário e à sua casa. O pai, que estava sentado à porta, chorou de alegria ao reconhecer sua esposa e saber que João era seu filho, pois há muito tempo os considerava mortos. João, embora tivesse apenas doze anos, já era uma cabeça mais alto que seu pai.
    Os três entraram juntos na pequena casa e, logo que o menino pôs o saco em cima  de um banco, tudo começou a vir abaixo. O banco partiu-se e também o assoalho, e o pesado saco caiu no porão.
    - Deus nos acuda! - exclamou o pai. - Que é isso? Demoliste a nossa casa!
     - Não te preocupes, meu pai. - respondeu João. - Este saco contém dinheiro de sobra para construir uma casa nova.
    Pai e filho começaram logo, a levantar uma nova moradia. Compraram gado e terras e começaram a fazer negócios. João lavrara os campos e, quando ele caminhava atrás do arado e o metia no solo, os bois quase não precisavam puxar. Ao chegar a primavera, disse o jovem:
   - Pai, fica com todo o dinheiro e manda fazer para mim um bastão bem pesado, que eu pretendo viajar e conhecer o mundo.
    Pronto o bastão, o rapaz saiu da casa do seu pai e se pôs a caminho. Chegando a uma floresta cerrada e escura, ouviu, subitamente, um ruído como de alguma coisa que se estivesse partindo e estalasse. Olhou em redor e enxergou um pinheiro que, do pé à copa, estava torcido como uma corda. Levantando mais os olhos, viu um sujeito muito alto acomodado sobra a árvore  e torcendo-a como se fosse um vime.
    - Ei! - gritou João.- Que estás fazendo aí em cima?
    - Ontem juntei umas lenhas- respondeu o outro - e faço agora uma corda para atá-las.
    "Este me agrada" - pensou João -" tem bastante força" - e lhe disse:
   - Deixa isso e vem comigo.
    O homem, então, desceu. Era uma cabeça mais alto que João, que por sua vez nada tinha de baixo.
   - Daqui por diante te chamarás Torce-pinho, - disse-lhe o rapaz.
    Partiram os dois e, passado algum tempo, ouviram golpes tão fortes que o solo chegava a tremer. Pouco depois estavam diante de uma rocha, enorme, de onde um gigante arrancava grandes blocos, batendo na pedra com o punho cerrado. Quando João lhe perguntou o que pretendia fazer, ele respondeu:
     - Á noite, quando me deito no chão para dormir, aparecem ursos, lobos e outros animais que se põem a farejar ao meu redor e não me deixam descansar; por isso quero construir uma casa em que possa abrigar-me e ficar em paz.
    "Este também me serve" - pensou João e lhe disse:
    - Deixa essa casa e vem comigo. teu nome será Quebra-pedra!
   O gigante aceitou e os três juntos, puseram-se andar pela floresta e, por onde eles passavam, os animais selvagens fugiam assustados.
    Anoitecia quando chegaram a um velho castelo abandonado; entraram e deitaram-se a dormir numa das salas. Pela manhã João saiu ao jardim. O terreno não estava cuidado, mas cheio de espinhos e evas. Enquanto andava por ali, apareceu, de repente, um porco-do-mato, que investiu contra ele. João o derrubou  com um só golpe do porrete. Depois, pondo-o aos ombros, levou-o para o palácio. Lá os três meteram a caça no espeto e prepararam um churrasco saboroso que os pôs de muito bom humor. Combinaram, então, que todos os dias, por turno, dois sairiam a caçar e o terceiro ficaria em casa preparando, para cada um, sete quilos de carne. no primeiro dia tocou a Torce-pinho ficar, enquanto João e Quebra-pedra saíam à caça.
   Torce-pinho estava ocupado preparando a refeição, quando apareceu, de repente, um anãozinho velho e enrugado que lhe pediu carne.
    - Fora daqui, malandro! - respondeu ele. - Não precisas de carne.
    Qual não foi o seu espanto ao ver que aquele minúsculo e insignificante anão pulou nele e começou a da-lhe socos com tanta força que o derrubou sem lhe dar tempo de se defender! E tanto apanhou que chegou a perder o fôlego. O anãozinho não lhe deu tréguas até haver descarregado toda a sua raiva. Quando seus dois companheiros regressaram, Torce-pinho nada lhes disse a respeito do anão nem da surra que levara. Pensou: " Quando lhes tocar a vez é bom que fiquem, também, conhecendo aquele demônio."
    No dia seguinte era Quebra-Pedra quem ficava em casa e a ele sucedeu o mesmo que a Torce-pinho. Levou uma tremenda surra por não querer dar carne ao anão. Quando os dois chegaram da caça. Torce-pinho notou que Quebra-pedra havia recebido a sua parte. Mas calaram-se, pensado: "Deixemos que João também prove dessa sopa!"
    No próximo dia, João ficou em casa trabalhando na cozinha como lhe era devido e, quando se preparava para escumar a caldeira, apresentou-se o anão e, sem mais nem menos, pediu um pedaço de carne. João pensou: "É um pobre infeliz! Vou dar-lhe algo da minha parte para não ter que reduzir a dos outros" e lhe alcançou um pedaço. Depois de haver comido, o anão pediu mais e o bondoso jovem lhe serviu outro naco de carne, dizendo-lhe que se desse por satisfeito com aquilo. Mas o homenzinho pediu carne pela terceira vez.
    - Está abusando! - respondeu João, e não lhe deu nada.
    Diante disso, o maldoso anão pretendeu tratá-lo como a Torce- pinho e Quebra-pedra, mas a coisa lhe saiu às avessas. Sem  o menor  esforço João lhe aplicou umas bofetadas que o fizeram rolar escada abaixo. João pretendeu agarrá-lo, mas caiu ao chão de todo o comprimento e, ao levantar-se, viu que o anão já estava longe. Seguiu-o pela floresta e pode observar que se metera na caverna de um rochedo. João marcou bem o lugar e regressou ao palácio. Ao anoitece, quando seus dois companheiros chegaram, surpreenderam-se por vê-lo tão alegre. João contou o que acontecera e então eles, por sua vez, relataram o que lhes havia sucedido. João riu muito e lhes disse:
    - Bem feito para voçês! Por que foram tão mesquinhos com a carne? De qualquer maneira, é uma vergonha apanharem de um anão.
    A seguir, muniram-se de um cesto e de uma corda e foram até a caverna onde se havia metido o homenzinho. Empunhando o seu cacete, João entrou no cesto e os outros o fizeram descer. Já no fundo, viu uma porta e, quando a abriu, enxergou uma linda moça, mas tão linda mesmo que não é possível descrevê-la. Ao lado dela , o anão olhava para o rapaz com uma  expressão azeda. A jovem achava-se acorrentada e em seu rosto refletia-se tanta tristeza que João se compadeceu dela e disse para si mesmo: " Tens de libertá-la das garras deste anão maldoso" e, aplicando-lhe um golpe certeiro, deixou-o estendido,  morto, no chão. Imediatamente as corrente caíram do corpo da jovem.
    Ela, então, contou-lhe que era uma princesa, filha de um rei, e que um conde mau  a havia raptado de sua pátria e encerrado naquela caverna, como vingança por ela o ter recusado como esposo. O conde a tinha posto sob a guarda daquele anão, que a submetera a toda espécie de torturas.
    A seguir, João a fez entrar no cesto e gritou aos dois que o puxassem. Depois o cesto baixou de novo, mas o rapaz não confiou em seus companheiros, pensando: " Já uma vez se mostraram falsos comigo quando se calaram a respeito do anão. Quem sabe o que não estarão tramando agora? " E, para tirar a prova, pôs apenas o cacete no cesto. Foi a sua sorte, pois na metade do caminho eles soltaram a carga. Se João estivesse no cesto, teria morrido na queda. Mas agora, por mais vivo que estivesse, não atinava como sair dali e, por mais que pensasse, não achava solução para o problema.
   - É triste- pensava- ser obrigado a morrer de fome e sede.
    Andando de um lado para outro, voltou a entrar na cela onde estivera a moça e notou no dedo do anão um anel que refulgia. Apoderou-se dele e, pouco depois, ao dar-lhe volta no dedo, percebeu de repente um rumor de asas sobre a sua cabeça. Olhou para cima e viu uns pequenos gênios aéreos, que o saudaram como a seu amo e perguntaram o que lhes ordenava. Por um momento João ficou mudo de assombro. No instante seguinte, porém, ordenou-lhes que o transportassem à superfície. Obedeceram imediatamente.
    Mas, uma vez em cima, não viu ninguém e, quando chegou ao castelo, também o encontrou deserto. Torce-pinho e Quebra-pedra tinham fugido, levando a formosa princesa. João deu meia volta ao anel e apresentaram-se, novamente, os gênios do ar. Estes lhe disseram que seus companheiros se achavam em alto mar. João correu até a praia e descobriu, ao longe, um barco ocupado por seus desleais amigos. Num acesso de de fúria, atirou-se à água com seu pesado cacete e pôs-se a nadar. Mas madeira, pesadíssima, o puxou para baixo e por pouco já ia se afogando. Ainda em tempo, deu volta ao anel e, no mesmo instante, vieram os gênios e o transportaram ao barco com a rapidez do raio. Empunhando o porrete, deu aos dois pérfidos companheiros o merecido castigo e os atirou ao mar. Depois manejando os remos, voltou à costa com a bela princesa, que havia passado por um grande susto e a quem libertara pela segunda vez. Levou-a de volta aos seus pais e depois casou-se com ela. E todos se alegraram muito.  FIM

domingo, 26 de junho de 2016

DINHEIRO CAÍDO DO CÉU- CONTOS DE GRIMM

      Era uma vez uma menina que ficou sem pai nem mãe. E ficou também tão pobre que não tinha um cantinho onde viver nem uma caminha onde dormir. Só lhe restava a roupa do corpo e um pedaço de pão que lhe dera uma alma caridosa.
   Mas a menina era de bom coração e tinha muita fé. Vendo-se sozinha e sem nada, saiu pelo caminho, depositando toda a sua confiança em Deus Nosso Senhor. Logo encontrou um pobre, que lhe disse:
    - Tenho tanta fome! Não podias dar-me alguma coisa para comer?
    Ela entregou-lhe todo o pão que lhe restava, dizendo:
    - Que Deus te abençoe! - e continuou seu caminho.
    Mas adiante encontrou uma criança que lhe falou chorando:
   - Tenho tanto frio! Não podias dar-me alguma coisa para me cobrir a cabeça?
   A menina tirou seu gorro e o entregou à pequenina.
   Tendo andando mais um pouco, outra menina veio ao seu encontro. Estava sem blusa e tiritava de frio. Logo a nossa menina deu-lhe a sua. Adiante, ainda, outra lhe pediu a saia e ela lha deu, também. Finalmente, quando já estava escuro, chegou a um bosque. Ali, apareceu mais uma menina, que lhe pediu a camisinha. A piedosa jovem pensou: "É noite escura e ninguém me vê. Bem posso dispensar minha camisa!" Tirou-a e ofereceu-a à pequena.
    Quando estava assim completamente despida, eis que, de repente, começaram a cair estrelas do céu. E as estrelas se transformaram em rebrilhantes moedas de ouro. E, embora houvesse dado sua camisinha, viu-se, subitamente, com outra, de finíssimo linho. A menina recolheu nela as moedas e ficou rica para toda vida. FIM

HENRIQUE, O PREGUIÇOSO - CONTOS DE GRIMM

  Henrique era um preguiçoso. Embora nada mais tivesse a fazer senão levar sua cabra, todos os dias, ao pasto, quando findava sua tarefa dizia, suspirando:
     É um trabalho muito pesado ter de levar esta cabra, entra ano, sai ano, para o campo; e isso até tarde. Se, ao menos, a gente pudesse deitar e dormir. Mas, não; é preciso ficar de olho aberto para que o animal não cause dano às plantas novas, não salte as cercas para se meter nas hortas ou, enfim, que não fuja. Como é possível ter paz e desfrutar a vida dessa maneira!
   Sentou-se e concentrou seus pensamentos em busca de um meio para largar aquela carga tão pesada. Passou muito tempo sem encontrar uma solução até que, de repente, lhe veio uma ideia luminosa.
    - Já sei! - exclamou. - Casarei com a gorda Catarina. Também ela tem uma cabra e poderá levá-la a pastar junto com a minha. Assim não andarei mais esfalfado.
    Henrique levantou-se e, pondo em movimento suas pernas cansadas, atravessou a rua - já que defronte viviam os pais da gorda Catarina - para pedir a mão da moça. Os velhos não hesitaram muito. " Igual com igual faz bom par", - pensaram, - e deram seu consentimento. A gorda Catarina casou-se, pois, com Henrique e passou a levar as duas cabras  ao pasto. Ele viva feliz, sem nenhum trabalho a não ser descansar de sua própria preguiça. Lá de vez em quando acompanhava a esposa ao campo e comentava:
    - Só faço isso para que na volta o descanso me seja mais agradável. Do contrário, perde-se o gosto pelo repouso.
    Mas a gorda Catarina não era menos preguiçosa que o marido.
    - Henrique, meu bem, - disse-lhe um dia, - por que haveremos de nos amargar a vida sem necessidade, e desperdiçar os melhores anos de nossa juventude! Não seria melhor dar ao vizinho as duas cabras, que todas as manhãs nos interrompem o sono com seus balidos, em troca de uma colmeia? Poríamos a colmeia atrás da casa, num lugar de sol, e já não teriámos de nos preocupar mais com ela. As abelhas não precisam ser vigiadas nem levadas ao campo. Elas saem a voar e por si mesmas, acham o caminho de volta. Armazenam seu mel sem que isso nos dê o menor trabalho.
   - Falaste como uma mulher inteligente, - respondeu Henrique, - Faremos isso em seguida. Ademais, o mel é mais saboroso e nutritivo que o leite de cabra e se conserva mais tempo.
     O vizinho deu, de bom grato, uma colmeia em troca das duas cabras. As abelhas voavam, incansáveis, desde a madrugada até a noite, enchendo  a colmeia de mel. Assim,  ao chegar o outono. Henrique pode colher uma jarra cheia.
    Guardaram a jarra sobre uma prateleira na parede de seu dormitório,e, temendo que alguém pudesse roubá-la ou que os ratões subissem até ela, Catarina procurou uma vara bem forte e a colocou junto à cama, ao alcance da mãos, para não ter de levantar-se do leito. dessa forma afugentava os visitantes inoportunos.
    Henrique, o preguiçoso, não saía da cama antes do meio-dia.
    - Quem madruga - costumava dizer- dissipa sua fortuna.
    Certa manhã, achando-se deitado, a descansar de um longo sono, disse à sua esposa:
    - As mulheres gostam de doce e tu estás a petiscar o mel a toda hora. Antes que comas tudo sozinha, será, melhor que compremos com ele um ganso e uns gansinhos.
    - Mas é preciso, primeiro, termos um filho que os cuide,- respondeu Catarina.  - Achas que vou me dar ao trabalho de criar os gansinhos, consumindo forças sem necessidade?
    - E imaginas que o rapaz cuidará dos gansos? Hoje em dia os meninos já não obedecem. Fazem apenas sua própria vontade, porque se julgam mais inteligentes que os pais. assim como aquele a quem mandaram procurar uma vaca perdida e que, em vez disso, foi correr atrás de ovos de passarinhos.
     - Oh! - retrucou Catarina - o meu se sairá mal se não obedecer. Pegarei uma vara e lhe sovarei o lombo.- E, como demonstração, apanhou a vara que tinha a seu lado para espantar os ratos e gritou:   - Queres ver como? Eu o surrarei assim: deu um golpe no ar, mas teve a infelicidade de atingir a jarra de mel. Esta bateu contra a parede e caiu ao chão, em pedaços. Todo o mel escorreu pelo assoalho.
    - Aí tens nosso ganso e os gansinhos, - disse Henrique - e já ninguém terá de cuidar deles. De qualquer modo foi uma grande sorte a jarra não me ter caído na cabeça. Temos muita razão para estarmos satisfeitos!
     E, vendo que num dos cacos ficara um pouco de mel, estendeu o braço para apanhá-lo dizendo, alegremente:
    - Este restinho, minha mulher, vamos saborear juntos e depois descansaremos do susto. Não importa que a gente se levante um pouco mais tarde que de costume . O dia ainda é muito longo.
    - Sim, - respondeu Catarina, - sempre se chega a tempo. Sabes? Certa ocasião convidaram o caracol para um casamento e ele se pôs a caminho; mas, em vez de chegar para as bodas, chegou para o batismo. Em frente à casa, tendo tropeçado na cerca, ele exclamou, muito compenetrado:
    - Bem dizem que a pressa não é aconselhável!  FIM

O que é esfalfado: 1) Sugado, cansado, esgotado,
 O que é balido: Som que as ovelhas emitem: be-e-e-e-e-e-e.



O ESQUIFE DE VIDRO - CONTOS DE GRIMM

   Ninguém diga que um pobre alfaiate não consegue ir longe na vida, em alcançar grandes honras. Basta encontrar a oportunidade e, principalmente, ter sorte.
   Certo dia, um alfaiatezinho, gentil e hábil, partiu a correr mundo. Chegou a uma floresta muito grande, tão grande que ele acabou perdendo o rumo. Veio a noite e o pobre não teve outro remédio senão procurar abrigo naquela horrível solidão. Teria encontrado um bom leito na relva macia, mas o medo das feras não o deixava tranquilo. E ele afinal resolveu trepar numa árvore para passar a noite ali. Escolheu um carvalho bem alto e subiu até a copa, dando graças ao bom Deus por ter levado consigo o ferro de engomar, pois, se não fosse o peso deste, o vento que soprava, forte, sobre a ramagem das árvore, o teria varrido dali.
    Depois de passar várias horas na escuridão , não sem sentir uns arrepios de medo, ele avistou, a pouca distância, o brilho de uma luz. Supondo tratar-se de alguma casa, que lhe daria melhor abrigo que o dos galhos de uma árvore, desceu, cuidadosamente, e dirigiu-se para o lugar de onde vinha a claridade. Assim, foi dar a uma choupana construída de caniços trançados. Bateu, corajosamente, à porta que logo foi aberta. E, à luz de uma lâmpada, viu um velhinho de cabelos brancos, que usava uma roupa feita de retalhos de várias cores.
    - Quem és, e o que desejas? - indagou o velho, com voz estridente.
    - Sou um pobre alfaiate, - respondeu ele, - a quem a noite surpreendeu no bosque. Peço, encarecidamente, que me dês abrigo em tua cabana até amanhã
    -  Segue teu caminho, - replicou o velho, de mau humor, - Não quero nada com vagabundos. Procura acomodação noutro lugar.
    Dito isso, quis fechar a porta, mas o alfaiatezinho o segurou pela roupa e pediu com tanta insistência que o velhinho - que no fundo não era tão mau como parecia - se deixou convencer e o acolheu na cabana. Deu-lhe de comer e depois lhe preparou uma boa cama.
   O alfaiate, muito cansado, não precisou que o ninassem: adormeceu profundamente até a manhã  seguinte e continuaria dormindo se não fosse um barulho infernal que atravessava as paredes leves
da choça. Com uma coragem que não tivera até então, ele levantou-se de um salto, vestiu-se a toda pressa e foi para fora. Ali viu, bem perto da cabana, um enorme touro negro e um magnífico cervo que se haviam engalfinhado em luta tremenda. Atacavam-se com tal fúria que o solo estremecia sob suas patas e o ar vibrava com os seus berros. Durante muito tempo, não foi possível saber a qual deles caberia a vitória. Até que, de repente, o cervo enfiou os chifres no corpo do seu adversário, que caiu por terra, soltando um medonho urro. A  seguir, o cervo acabou, de matá-lo.
    O alfaiate, que assistira, surpreso, à luta, permaneceu imóvel quando o cervo veio correndo em sua direção, sem dar-lhe tempo de fugir. Apanhou-o com seus chifres enormes e, antes que o nosso homenzinho se houvesse dado conta, levou-o em desenfreada corrida pelo campo afora, por montes e vales, prados e bosques. O alfaiate agarrou-se, firmemente, às pontas dos chifres  e abandonou-se à sua sorte. Tinha a impressão de que estava voando. Afinal, o cervo parou em frente a uma parede de rocha e suavemente soltou o alfaiate no chão. este, mais morto do que vivo, levou algum tempo refazendo-se. Quando ele já estava ,a té certo ponto, em boa forma, o cervo, que ficara parado a seu lado, investiu com tanta fúria contra uma porta que havia na rocha que ela se abriu. Pela abertura saíram labaredas de fogo, seguidas de um denso vapor, que ocultaram o cervo a seus olhos. O alfaiate não sabia o que fazer nem para onde dirigir-se, a fim de escapar àquele deserto e voltar para a companhia dos outros homens. Enquanto estava assim indeciso, ouviu uma voz  que lhe dizia:
   - Entra sem medo, não sofrerás  mal algum!
   O homem hesitou um pouco mas como se fosse levado por uma força misteriosa, avançou, obedecendo à voz. Atravessando uma porta de ferro, chegou a uma vasta sala. o teto, as paredes e o chão eram de pedras quadradas, polidas. Em cada pedra estava gravado um sinal que ele não conseguia decifrar. Assombrado, pôs-se a contemplar tudo e já ia sair quando ouviu,  novamente, a vez que lhe dizia:
   - Sobe na pedra grande que há no centro da sala e terás uma grande ventura.
   Sua coragem já havia aumentado tanto que ele não hesitou em seguir as instruções. A pedra começou a ceder sob seus pés, descendo lentamente. Quando ela parou, o alfaiate, olhando em redor, viu que se encontrava noutra sala de dimensões iguais à primeira. Mas ali havia mais coisas dignas de deixar a gente pasmada. nas paredes havia buracos, em forma de nichos, que continham vasilhas de vidro transparente, cheias de essências coloridas ou de uma fumaça azulada. No chão, colocadas uma em frente à outra, havia duas grande e longas caixas de  vidro. Aproximando-se curioso de uma delas, ele pode ver em seu interior um belo edifício, semelhante a um palácio, cercado de dependências, estrebarias e celeiros. Era tudo em miniatura, mas feito com delicadeza e perfeição, como se fosse obra de um  grande artista.
    Com certeza teria continuado, indefinidamente, a contemplar aquela raridade se a voz não se fizesse ouvir de novo, convidando-o a olhar a outra caixa de vidro. Imaginem qual não foi o seu assombro ao ver nela uma jovem de extraordinária beleza. Parecia adormecida. Sua longa cabeleira loira a envolvia como um manto precioso. Tinha os olhos fechados, mas a cor rosada do seu rosto e uma fita que se movia ao compasso de sua respiração não deixavam dúvida de que estava viva. O alfaiate ficou a contemplá-la, com o coração palpitando. Súbito, ela abriu os olhos e, ao ver o rapaz, estremeceu de alegria.
    - Céus! - exclamou ela. - Chegou a hora da minha libertação! Depressa, depressa, ajuda-me a sair desta prisão de vidro. Se puxares o ferrolho do esquife , ficarei livre.
    O alfaiate obedeceu sem hesitar e ela, em seguida, levantou a tampa de vidro. Saiu, rapidamente, do caixão e correu a um canto da sala, onde se cobriu com um manto. Depois, chamou o jovem para junto de si e, sentando-se sobre uma pedra, beijou-o em sinal de gratidão, e lhe disse:
   - Meu salvador, por quem tanto tempo estive esperando! O bom Deus e enviou para pôr fim aos meus sofrimentos. No mesmo dia em que termina minha desgraça, principia a tua boa sorte. És o esposo que o Céu me destinou e, amado por mim. viverás cheio de alegria, dono de muitos tesouros terrestres. Senta-te e escuta as minhas desventuras.
    Sou a filha de um conde abastado. Meus pais morreram quando eu ainda era menina e, em seu testamento, me confiaram à tutela do meu irmão mais velho, que cuidou de minha educação. Nós nos estimávamos muito e nossos gostos e pensamentos eram os mesmos. Assim sendo, tomamos a resolução de nunca casarmos e viver em companhia um do outro até o fim de nossos dias. Sempre havia visitantes em nossa casa. Vizinhos e amigos vinham seguidamente e a todos dávamos esplêndida hospedagem.
     Certa noite, chegou um estrangeiro, a cavalo, ao nosso castelo e pediu alojamento para dormir, pois não podia continuar até o povoado próximo. Atendemos a seu pedido com a costumeira cortesia e, durante ao jantar , ele nos distraiu com interessantes histórias e aventuras da sua vida. Meu irmão se agradou tanto dele que lhe pediu ficasse mais alguns dias. Ele acabou concordando após algumas objeções. Levantamo-nos da mesa tarde da noite: indicamos um quarto ao forasteiro e eu, sentindo-me cansada, apressei-me em ir deitar-me. Mal havia adormecido, fui acordada pelos sons de suave música. Não sabendo de onde vinham, quis chamar minha camareira, que dormia no quarto ao lado. Mas, com grande assombro, notei que não saía nenhum som da minha garganta; parecia que um terrível pesadelo me roubara a voz. Nisto, à luz da lâmpada, vi entrar o forasteiro em meu quarto, apesar de estar fechado, solidamente, com porta dupla. Aproximando-se, disse-me ele que , por meio da magia, na qual era mestre, havia produzido aquela música para despertar-me e vinha agora, ele mesmo, oferecer-me seu coração e sua mão. Minha repulsa pelas suas artes mágicas foi tão grande que nem me dignei a responder-lhe. por algum tempo ele permaneceu imóvel, de pé, sem dúvida esperando uma resposta favorável. Mas, ao ver que eu teimava em ficar calada, declarou furioso, que haveria de vingar-se e que encontraria um meio de castigar minha altivez.
    Fiquei muito inquieta durante o resto daquela noite e só pude adormecer pela madrugada. Ao despertar, corri em busca do meu irmão para contar-lhe o sucedido, mas não o encontrei. O criado disse-me que, ao amanhecer, ele saíra  a caçar com o forasteiro.
   Cheia de sombrios pensamentos, vesti-me a toda pressa, mandei encilhar meu cavalo e saí , na companhia de um criado apenas, mas tendo o cuidado de levar uma arma. Tomei o rumo da floresta. De repente o cavalo de meu criado tropeçou, quebrando uma perna, e o homem não pode mais seguir-me. Prossegui meu caminho sem me deter. Pouco depois vi o forasteiro, que se dirigia a mim, conduzindo um belo cervo atado a uma corda. perguntei-lhe onde estava meu irmão e como se apoderara daquele cervo. Ao mesmo tempo , notei que corriam lágrimas dos olhos do animal cativo. Em vez de responder-me, o homem começou a rir. Isso provocou em mim um ódio que não  pude dominar. Puxei a pistola e atirei contra o homem. Mas a bala, ricocheteando, veio atingir a cabeça de meu cavalo. Este caiu ao chão e o forasteiro murmurou umas palavras mágicas, que me fizeram perder os sentidos.
   Quando voltei a mim, estava neste  subterrâneo, fechada num esquife de vidro. O bruxo tornou a se apresentar e me comunicou que meu irmão fora transformado em cervo; meu palácio, com todas as suas dependências, reduzido a uma miniatura e fechado na outra caixa de vidro. Meus criados haviam sido convertidos em fumaça e aprisionados em frascos de cristal. Entretanto, se eu concordasse em ser sua esposa, nada  mais fácil para ele retomar tudo ao estado antigo! Bastaria abrir os frascos e as urnas e tudo o mais retomariam  sua forma natural. Como da vez passada, não lhe dei resposta. E ele, então, desapareceu, deixando-me prisioneira e mergulhada em sono profundo. Entre os sonhos que eu costumava ter, havia um que me consolava: aparecia sempre um jovem para libertar-me. E, hoje, quando abri os olhos e te avistei, soube que meu sonho se havia transformado em realidade. Ajuda-me, agora, a fazer as outras coisas que me foram indicada. Primeiro, devemos colocar a caixa de vidro que contém o meu palácio sobre aquela pedra grande.
    Logo que a caixa de vidro tocou a superfície da pedra, começou a elevar-se, juntamente com a moça e o jovem. Passou pela abertura do teto e de lá foi fácil sair para o ar livre. a moça abriu a tampa e logo o palácio, as casa e dependências começaram a crescer, rapidamente, formando uma cena maravilhosa de se ver. A seguir, voltaram à caverna subterrânea e deixaram que a pedra carregasse para cima todos os frascos cheios de essências e vapores. Mal a moça os havia destampado, saiu deles uma fumaça azulada, que se transformou em seus criado e servidores. Sua alegria chegou ao máximo quando o irmão que, como cervo, matara o feiticeiro na figura do touro, se apresentou em sua forma humana, saindo do bosque. Naquele mesmo dia a moça, cumprindo  a promessa, casou-se com o venturoso alfaiate. FIM

quarta-feira, 22 de junho de 2016

OS VINTÉNS ROUBADOS - CONTOS DE GRIMM

   Certa vez estava um casal sentado à  mesa, comendo, em companhia de seus filhos, quando se apresentou um bom amigo da casa, a quem não viam há muito tempo. Convidaram-no para almoçar. Às doze em ponto, o visitante viu a porta abrir-se e entrar uma criança, muito pálida, toda vestida de branco. Não olhava para  lado algum e, sem dar uma palavra, encaminhou-se para um quarto próximo, de onde saiu pouco depois, tão silenciosamente como havia entrado. No segundo e terceiro dia a cena se repetiu e o visitante , que ali ficara de hóspede, resolveu perguntar ao dono da casa de quem era aquela bonita criança que, sempre ao meio-dia, entrava na sala.
    - Não vejo ninguém, - respondeu o homem, - assim não sei dizer de quem se trata.
    No dia seguinte, quando a criança tornou a entrar na sala, o visitante a mostrou a toda a família, mas ninguém viu nada. O homem, então, aproximou-se da porta do quarto e, entreabrindo-a, olhou para dentro. Ali viu o menino sentado no assoalho, procurando, afobadamente, alguma coisa entre a juntura das tábuas. Mas, ao perceber que o visitante a olhava, a criança desapareceu.
     O homem contou à família o que acabara de presenciar e descreveu a criança detalhadamente. Aí, então, a dona da casa reconheceu quem era e exclamou:
    - Ah, é o meu pobre filhinho; ele morreu há quatro semanas!
    Levantaram as tábuas e encontraram dois vinténs que, um dia, a mãe havia entregue ao pequeno para que os desse a um mendigo. O menino, porém, pensara: "Vou comprar um doce com esse dinheiro" e o guardou, escondendo-o numa fenda do assoalho. Por isso, agora não encontrava paz em seu túmulo. E cada meio-dia ia à sua casa à procura dos vinténs. os pais deram as moedas a um pobre e, desse dia em diante, a criança nunca mais foi vista. FIM

BRANCA DE NEVE E ROSA RUBRA - CONTOS DE GRIMM

  Uma viúva pobre morava numa pequena cabana solitária. Em frente havia um jardim com duas roseiras. Uma dava rosas brancas e a outra dava todas vermelhas. Tinha a viúva duas filhas que se pareciam com as roseiras: uma delas se chamava Branca de Neve e a outra Rosa Rubra. Ambas eram tão boas e piedosas, tão ativas e incansáveis que seria difícil encontrar outras iguais no mundo. Branca de Neve era mais quietinha e dócil que a irmã. Rosa Rubra gostava de correr e saltar pelos campos, apanhar flores e ovos de passarinhos, enquanto Branca de Neve preferia estar em casa com sua mãe, ajudando-a ou lendo para ela, quando não havia outro trabalho a fazer. As duas meninas se queriam tanto que saíam sempre de mãos dadas, e quando Branca de Neve dizia:
   - Jamais nos separaremos, - Rosa Rubra respondia:
    - Nunca, enquanto vivermos.
    E a mãe acrescentava:
   - O que uma tiver, repartirá com a outra.
   Muitas vezes andavam sozinhas pelo bosque, colhendo frutas silvestres, mas nenhum animal lhes causava dano. Aproximavam-se delas, confiantes. O coelho vinha comer uma folha de couve em suas mãos; a gazela pastava a seu lado; o cervo passava por elas, saltando alegremente, e os pássaros continuavam pousados nos galhos, cantando tudo o que sabiam.
   Nunca lhes aconteceu o menor acidente. Se a noite as surpreendia no mato, deitavam-se juntas a  dormir sobre a relva até de manhã. Sua mãe o sabia e não se inquietava. Certa vez em que haviam dormido no bosque e o sol as despertara, viram um belo menino, de vestes brancas, rebrilhantes, sentado junto a elas. Levantou-se e dirigiu-lhes um olhar de carinho. Depois, sem dizer palavra, desapareceu no mato. Quando as garotinhas olharam em redor, viram que haviam dormido bem perto de um precipício, onde teriam caído, sem dúvida, se tivessem dado mais uns passos na escuridão. Sua mãe lhes disse que certamente fora o anjo que vigia as boas crianças.
    Branca de Neve e Rosa Rubra mantinham a cabana da mãe tão limpa que era um gosto vê-la. No verão, Rosinha cuidava da casa e, todas as manhãs , antes de sua mãe despertar, lhe punha um ramo de flores ao lado da cama, onde havia sempre uma rosa de cada roseira. No inverno, Branca de Neve acendia o fogo e pendurava a chaleira no gancho sobre as chama. E a chaleira, que era de cobre, reluzia como ouro puro, tão polida estava. Ao anoitecer, quando caíam os flocos de neve, a mãe dizia:
    Branca de Neve, cerra o ferrolho.
  E sentavam-se as três junto ao fogão. A mãe punha os óculos e lia histórias para elas, num livro grande. As meninas ouviam enquanto fiavam ativamente. A seu lado, no chão, estava deitado um cordeirinho. E atrás, num poleiro, pousava uma pombinha branca com a cabeça embaixo da asa.
   Certa noite em que estavam as três assim reunidas, bateram à porta.
   - Abre depressa, Rosa Rubra; há de ser um viajante que procura abrigo, - disse a mãe.
   Rosa Rubra levantou-se e puxou o ferrolho da porta, pensando ser algum pobre homem, mas...era um urso, que meteu sua enorme cabeça negra pela abertura . A menina soltou um grito e recuou, de um salto; o cordeirinho se pôs a balar, a pomba a bater as asas e Branca de Neve foi esconder-se atrás da saia da mãe.
    O urso, porém, começou falar:
    - Não tenham medo que não lhes farei mal algum. estou quase morto de frio e só desejo aquecer-me um pouquinho.
   - Pobre urso! - exclamou a mãe, - deita-te junto ao fogo, mas toma cuidado para não queimares o pelo. - E, levantando a voz: - Branca de Neve, Rosa Rubra, venham! O urso não fará mal a vocês!
   As meninas se aproximaram pouco a pouco, o cordeirinho e a pomba também e logo todos perderam o medo.
   Disse o urso:
    - Meninas, tirem-me a neve que tenho no pelo.
    E elas trouxeram a vassoura e varreram-lhe o pelo até ficar limpo. Enquanto isto, ele, estendido ao lado do fogo, grunhia satisfeito.
   Não demorou que as meninas se acostumassem com a animal e acabaram fazendo mil diabruras à custa do desajeitado hóspede. Puxavam-lhe o pelo, metiam os pezinhos no seu corpo, rolavam-no de um lado para outro ou então batiam nele com uma varinha. E, se ele então grunhia, elas começavam a rir. O urso sujeitou-se a tudo de boa vontade; só quando a coisa passava um pouco das medidas, exclamava:
    Branca e Rosinha, é bom parar
   ou ao seu noivo irão matar!
  Quando chegou a hora de dormir e todos foram acomodar-se, a mãe disso ao urso:
   - Fica, em nome de Deus, aí perto do fogão; assim estarás resguardado do frio e do mau tempo.
   Ao amanhecer, as meninas lhe abriram a porta e ele saiu trotando pela neve e desapareceu no bosque. Daí em diante o urso voltava todas as noites à mesma hora. Deitava-se junto ao fogo e deixava que as duas garotinhas se divertissem  com ele quanto queriam. Chegaram a acostumar-se tanto ao animal que já não fechavam mais a porta até que o seu negro amigo tivesse chegado.
    Quando veio a primavera e lá fora tudo começou a brotar, disse o urso, um dia de manhã, a Branca de Neve:
   - Devo partir e não posso voltar durante todo o verão.
    - Para onde vais, querido urso? - indagou a menina.
    - Ao bosque, vigiar meu tesouro e protegê-lo dos maus anões. No inverno, quando a terra está congelada, não podem sair de suas cavernas nem abrir caminho até em cima. mas, logo que o sol derrete a neve e aquece a terra, eles sobem à superfície, para roubar. Tudo o que cai em suas  mãos, ou que se encontra em suas cavernas, não volta tão facilmente à luz do dia.
     Branca de neve sentiu grande pesar com a despedida. Quando abriu a porta, o urso, ao passar, ficou preso no trinco, que lhe cortou um pouco a pele. Naquele momento, Branca de Neve julgou entrever um brilho dourado, mas não teve certeza. O urso afastou-se rapidamente e desapareceu entre as árvore.
    Algum tempo depois, a mãe mandou as meninas ao mato buscar lenha. Encontraram uma árvore grande, caída e, junto ao tronco, em meio da grama, viram algo que saltava de um lado para outro, sem que pudessem distinguir o que era. Ao se aproximaram, notaram uma anãozinho de rosto velho, enrugado, com a barba comprida, branca como a neve. a ponta da barba estava presa numa fenda da árvore. O anão saltava como um cãozinho atado a uma corda, sem saber como soltar-se. Cravando nas meninas seus olhinhos vermelhos e flamejantes, gritou:
    - Por que estão aí paradas? Não podem vir  ajudar-me?
   - Que andaste fazendo, anãozinho? - perguntou Rosa Rubra.
    - Sua boba curiosa! - replicou o anão. - Quis partir o tronco para ter lenha miúda na cozinha. As achas grandes logo queimam o pouquinho de comida de que gente como nós necessita. Não somos, como vocês, pessoas grosseiras e insaciáveis, que engolem quantidades enormes. Eu já tinha metido a cunha na árvore e tudo teria saído muito bem. Mas a maldita madeira era lisa demais e saltou para fora quando eu menos esperava. A fenda fechou-se tão rapidamente que eu nem pude retirar a tempo a minha bela barba branca. Ela ficou presa e eu não posso sair daqui. Mas isso é motivo para rir? Suas idiotas de cara de pau! Cruzes, como vocês são feias!
    As meninas se esforçaram o mais que puderam, mas não houve meio de conseguirem tirar a barba; estava presa demais.
    - Vou trazer mais gente,- sugeriu Rosa Rubra.
    - Estão loucas? - resmungou o anão. Para que mais gente?
 Para mim, vocês duas já são demais. Não sabem de nada melhor?
   - Não te impacientes, - disse Branca de Neve, - vou dar um jeito.
    Tirou a tesourinha do bolso e cortou a ponta da barba. Assim que o anão se viu livre, agarrou um saco cheio de ouro que havia deixado ente as raízes da árvore e, puxando-o para fora, murmurou:
   - Grosseiras! Cortarem desse jeito a minha bela barba! Que diabo as carregue!
   Pôs o saco às costas e saiu andando, sem olhar mais para as duas meninas.
    Pouco tempo depois, Branca de Neve e Rosa Rubra quiseram preparar um prato de peixe. Saíram, então, para pescar e, chegando perto do rio, viram que algo, semelhante a um gafanhoto grande, ia pulando em direção à margem, como se quisesse atirar-se na água. Aproximaram-se, correndo, e deram com anão.
    - Aonde vais? - indagou Rosa Rubra. - Pretendes lançar-te ao rio?
    - Não sou tão imbecil! - gritou o anão. - Não vês que o maldito peixe está me arrastando?
    O homenzinho estivera a pescar, mas, infelizmente, o vento lhe a havia enredado a barba na linha. Logo depois, um peixe grande mordeu  a isca e a débil criatura não teve forças para puxá-lo. Assim, em vez disso, era o peixe que arrastava o anãozinho para a água. Agarrava-se, é verdade, em capins e bambus, mas isso pouco lhe adiantava, era forçado a seguir os movimentos do peixe, com perigo de se ver puxado para dentro do rio. As meninas chegaram a tempo. pegaram o anão e tentaram soltar sua barba, mas em vão; a barba e linha estavam emaranhadas fortemente uma na outra. não houve outro meio senão recorrer, novamente, à tesoura e cortar mais um pedacinho da barba. Ao vê-lo, o anãozinho gritou:
    - Estúpidas! Que maneira é essa de estragar o rosto de uma pessoa? Não bastou haverem cortado no outro dia uma boa ponta da minha barba para que agora me tirem a mais bela parte? Assim nem posso me apresentar à minha gente! Tomara que tenham de caminhar muito e percam a sola dos sapatos!
      Apanhou um saco com pérolas que estava entre os caniços e, sem mais uma palavra, partiu, desaparecendo atrás de uma pedra.
     Alguns dias depois, a mãe mandou as duas irmãzinhas à cidade, para comprarem linha, agulhas e fitas. O caminho passava por um descampado onde, de trecho em trecho, havia enormes rochas espalhadas. Nisto, avistaram  uma ave grande que voava em círculos, lentamente. Ia descendo, junto a uma das pedras. A seguir, ouviram um grito de angústia. Correram até a pedra e viram, horrorizadas, que a águia havia apanhado o seu velho conhecido, o anão, e se aprontava para levá-lo pelos ares. As bondosas meninas logo agarraram o homenzinho com todas as suas forças e tanto lutaram com a águia até  que ela afinal soltou a sua presa.
     Já refeito do susto, o anão gritou com sua voz estridente:
    - Não podiam ter sido mais delicadas? Tanto puxaram o meu belo casaquinho que ele agora ficou todo rasgado e esburacado. Umas imprestáveis e desajeitadas, é o que vocês são!
     E, apanhando um saco com pedras preciosas, meteu-se em sua caverna entre as rochas. As garotas, acostumadas à sua ingratidão, prosseguiram caminho e fizeram as compras na cidade. De volta, ao passarem de novo pelo descampado, descobriram o anão, que tinha espalhado, num lugar mais limpo, o tesouro do saco, certo de que a uma hora tão avançada ninguém passaria por ali. O sol poente lançava seus raios sobre as pedras brilhantes e estas cintilavam tão maravilhosamente em todas as cores que as pequenas se detiveram para contemplá-las.
     - Por que estão parada aí, de boca aberta? - gritou o anão, e seu rosto acinzentado tornou-se vermelho de raiva. Dispunha-se a continuar com seus desaforos quando se ouviu um grunhido forte e um urso apareceu, vindo do bosque. Aterrorizado, o anão tratou de fugir, mas o animal o alcançou antes que pudesse meter-se em seu esconderijo. Aí, então, ele se pôs a suplicar, aflito:
    - Querido ursinho, poupa-me a vida e eu te darei todo o meu tesouro. Olha estas pedras preciosas que estão no chão! Não me matas! De que te serviria uma criatura tão pequena e frágil como eu? Nem me sentirias entre os dentes.É melhor que comas essas duas meninas aí; elas, sim, serão um bom bocado, gordas como pombinhas novas. Podes comê-las e que te façam bom proveito!
    O urso não deu importância às suas palavras e, com uma só patada, deitou por terra o malvado anãozinho, que não se meteu mais.
     As meninas saíram correndo, mas o urso chamou-as.
    - Branca de Neve, Rosa Rubra, não tinham medo; esperem que eu vou com vocês!
    Elas reconheceram sua voz e pararam e, quando ele as alcançou, caiu-lhe, de repente, o pelo de urso do corpo  e apareceu diante delas um belo jovem de vestes de ouro.
    - Sou um príncipe, - disse ele. - Este perverso anão me havia enfeitiçado, roubando-me meus tesouros e condenando-me a errar pelo mato em figura de urso selvagem, até que eu me libertasse com a sua morte. Agora recebeu o castigo merecido.
     Branca de Neve casou-se com o príncipe e Rosa Rubra também não perdeu nada, porque casou com o irmão do príncipe. eles repartiram o grande  tesouro que o anão havia acumulado em sua caverna. A velha mãe viveu ainda muitos anos, tranquila e feliz, junto  às filhas. Levou consigo as duas roseiras; plantou-as diante de sua janela e elas continuaram dando, ano após ano, as mais belas rosas brancas e vermelhas deste mundo. FIM




terça-feira, 21 de junho de 2016

O PEQUENO PASTOR - CONTOS DE GRIMM

    Era uma vez um pastorzinho que se tornou famoso pelas respostas que sabia dar a todas as perguntas. Sua fama chegou aos ouvidos do rei. Não acreditando no que lhe contavam do pastorzinho, ele mandou chamá-lo à sua presença e disse-lhe:
    - Se fores capaz de responder a três perguntas minhas, viverás no meu palácio, tratado como se fosse meu próprio filho.
   - Quais são elas, senhor rei?
   - A primeira: Quantas gotas de água há no mar?
    E o pastorzinho lhe respondeu:
   - Senhor rei, mande primeiro fazer parar todos os rios da terra. Assim não entrará no mar uma só gota de água que eu não haja contado antes. Eu lhe direi, então, quantas gotas de água há no oceano.
    - Agora a segunda pergunta, - prosseguiu o rei. Quantas estrelas há no céu?
    - Deem-me um pedaço  grande de papel em branco, - pediu o menino. E depois traçou nele, com uma pena, tantos pontinhos e tão juntos que mal se distinguiam uns dos outros. Era impossível contá-los, pois quem parasse a olhá-los ficava a vista embaralhada.
    O menino continuou: - Há no céu tantas estrelas quantos pontinhos neste papel. Depois de contar pontinho por pontinho, todos ficarão sabendo o número de estrelas.
   Ninguém foi capaz de tal coisa e o rei fez então a terceira pergunta:
   - Quantos segundos tem a eternidade?
    - Na Pomerânia - respondeu o pastorzinho - há uma montanha de diamante de uma légua de altura e outra légua de largura. De cem em cem anos, um passarinho voa até la para afiar nela seu bico. Quando ele houver desgastado assim toda a montanha, aí então terá transcorrido o primeiro segundo da eternidade.
    Diante disto, o rei exclamou:
   - Respondeste às três perguntas como um sábio. De agora em diante viverás em meu palácio e te considerarei como filho.
FIM

Lembrete, com carinho!

 O blog foi criado a partir de uma necessidade inerente a todo ser humano; aprender. Este aprendizado acontece no momento em que você pega um livro de histórias ou uma poesia, qualquer livro , e inicia a leitura. Você vive o aqui e agora , e acalma a mente. Mas em especial tenho uma situação bem pessoal e sentimental. Os contos que estou transcrevendo , são livros muito antigos que ganhei de meu querido pai ,quando eu era bem pequena, eu li alguns contos . Mas o meu inconsciente me cobrava mais atitude , e quando vi meus livros ficando velhos amarelos fiquei com medo de perde-los. Então resolvi salvá-los para sempre, digitando letra por letra , e  me envolvendo com os contos. Obrigada Pai e mãe! Amo vocês! Obrigada às novas tecnologias que me permitirão salvar meus livros! E com a possibilidade de muitas pessoas lerem e se envolverem com os Contos de Griim e Andersen!

Traduzido por Google tradutor
The blog was created from a need inherent in every human being; learn. This learning takes place when you take a book of stories or poetry, any book and start reading. You live here and now, and calms the mind. But in particular I have a very personal and sentimental situation. The stories I'm transcribing, are very old books I got from my dear father when I was very young, I read some short stories. But my unconscious was charging me more attitude, and when I saw my turning yellow old books I was afraid to lose them. So I decided to save them forever, typing letter by letter, and involving me with tales. Thank you father and mother! Love you! Thanks to new technologies that will allow me to save my books! And with the possibility of many people read and engage with the Tales of Andersen and Griim!

domingo, 19 de junho de 2016

OS TRÊS PREGUIÇOSOS - CONTOS DE GRIMM

Um rei tinha três filhos. Queria a todos eles com o mesmo carinho e por causa disso não sabia a quem deixar o trono. estando enfermo e sentindo que a morte se aproximava, chamou os três a seu leito e lhes disse:
    - Meus queridos filhos, estive pensando numa coisa que agora vou dizer: aquele dos três que for o mais preguiçoso, será o rei depois da minha morte.
    Disse, então, o mais velho:
   - Pai, nesse caso, o reino é meu. Sou tão preguiçoso que, quando me deito para dormir, deixo de fechar os olhos ainda que me caia uma barata em cima deles.
    Falou o segundo:
   - Pai, o reino é meu. sou tão preguiçoso que, quando estou junto ao fogo para aquecer-me, prefiro deixar queimar os calcanhares, só para não retirar as pernas.
    E o terceiro:
   - Pai, o reino é meu. Sou tão preguiçoso que, se fossem me enforcar e, já com a corda no pescoço, alguém me desse uma faca afiada para cortá-la eu deixaria que me enforcassem só para não ter de erguer até a corda.
   Ouvindo isso, o rei falou:
   - Tu levaste a preguiça à perfeição. O reino será teu.
 FIM

O MONTE MÁGICO - CONTOS DE GRIMM

 Era uma vez dois irmãos, um rico e outro pobre. o rico não dava nada ao pobre e este vivia miseravelmente, vendendo cereais. Muitas vezes o negócio ia  tão mal que ele não tinha pão para dar à esposa e filhos.
   Certa ocasião, em que passava pelo bosque com seu carrinho, notou, a um lado,  um grande monte sem vegetação, que não havia visto antes e focou a contemplá-lo, pasmado. De repente viu que se aproximavam doze homens. Pensando que eram bandidos, escondeu seu carrinho de mão entre os arbustos. Depois subiu a uma árvore para ver no que ia dar aquilo.
    Os doze homens se aproximaram do monte e começaram a gritar:
    - Monte Mágico, Monte Zizó, abre-te!
    Imediatamente o monte abriu-se ao meio. Os doze penetraram em seu interior e ele tornou-se a fechar-se. Passado algum tempo, abriu-se de novo, dando passagem aos homens , que saíram com pesados sacos aos ombros. Quando todos estavam do lado de fora, gritaram:
    - Monte Zizó, Monte Zizó, fecha-te!
    No mesmo instante, o monte fechou-se sem que ficasse sinal de nenhuma entrada. Em seguida os doze se afastaram.
    Assim que os viu desaparecer, desceu da árvore, curioso por verificar o que se ocultava dentro do
monte. Foi até ele e gritou:
    - Monte Zizó, Monte Zizó, abre-te!
     E o monte abriu-se diante dele. Entrou e viu que o interior era uma caverna, enorme, cheia de prata e ouro, com muitas pérola e pedras preciosas amontoadas como se fossem cereais. Por fim, resolveu encher os bolsos de ouro, mas não tocou nas pérolas e pedras preciosas. Depois de sair gritou, também:
    - Monte Zizó, Monte Zizó, fecha-te!
    O monte fechou-se e ele foi para casa, empurrando seu carrinho. Daí por diante não teve mais preocupações e com o ouro pode comprar não só pão para sua esposa e filhos como, também, vinho. Levavam uma vida honrada e feliz, dando esmola aos pobres e fazendo o bem a todos. quando o dinheiro terminou, ele foi falar com o irmão e pediu emprestado um alqueire. Depois encaminhou-se ao monte em busca de ouro. Como antes, não tocou nos tesouros mais valiosos. Quando, pela terceira vez, necessitou de dinheiro, pediu, também, emprestada a medida a seu irmão. O rico há muito tempo andava invejoso de vê-lo naquela abundância e da vida folgada que levava, mas não podia compreender de onde lhe vinha a riqueza nem para que pedia o alqueire. Então, muito astuciosamente, passou breu no fundo da medida e, quando o outro a devolveu, ele encontrou uma moeda de ouro que ali ficara presa . Imediatamente procurou o irmão e perguntou:
    - Que mediste com o alqueire?
    - Trigo e cevada, - respondeu o outro.
     Mostrando-lhe, então, a moeda de ouro, o rico ameaçou denunciá-lo à policia, caso não lhe dissesse a verdade. Ante a ameaça, o irmão contou como tudo havia sucedido. o rico mandou logo aprontar o seu carro e, sem perda de tempo, foi até o monte, com a intenção de aproveitar melhor a oportunidade e carregar com grandes tesouros. Lá chegado, gritou:
   - Monte Zizó, Monte Zizó, abre-te!
    O monte abriu-se e ele entrou. Diante dos seus olhos apareceram tesouros e mais tesouros. E, por muito tempo, esteve indeciso com a escolha. Por fim, resolveu carregar tantas pedras preciosas quantas caberiam no seu carro, Quis levar a carga para fora, mas seu espírito estava tão confuso com o achado do tesouro que ele se esqueceu do nome do monte e gritou:
   - Monte Zózimo, Monte Zózimo, abre-te!
    Mas como este não era o nome certo, o monte permaneceu imóvel, sem se abrir. O homem principiou  a ficar com medo e, quanto mais se esforçava por lembrar, mais seus pensamentos se confundiam, de nada lhe adiantando todas riqueza de que se havia apoderado. Ao anoitecer, a montanha abriu-se subitamente e entraram os doze bandidos. Vendo-o, começaram a rir e disseram:
   - Aí, malandro! Acabamos te apanhando! Pensaste que não havíamos notado tua presença, aqui, por duas vezes? Não conseguimos te apanhar antes, mas desta não escaparás.
    - Não fui eu, foi meu irmão! - gritou o rico.
    No entanto, por mais que suplicasse, pedindo que ao menos  lhe poupassem a vida, os bandidos o degolaram. FIM

   

O BURRINHO - CONTOS DE GRIMM

    Havia certa vez um rei e uma rainha muito ricos. Tinham tudo o que podiam desejar. Só não tinham filhos. A rainha queixava-se noite e dia:
    - Sou como um deserto, onde não cresce nenhuma planta.
    Finalmente Deus satisfez seus desejos. mas quando a criança veio ao mundo, não tinha o aspecto de um ser humano, Mas o de um burrinho. Desesperada, a mãe rompeu em lágrima e gritos, exclamando que preferia ter ficado sem filhos a dar à luz um burro. Mandou atirá-lo ao rio, para que os peixes o devorassem. O rei, porém, interveio:
    - Já que Deus assim o quis, ele será meu filho e herdeiro; após minha morte, subirá ao trono e usará a coroa real.
   Criaram, pois o burrinho. Ele foi crescendo. E assim também iam crescendo as orelhas: altas e retinhas que eram uma beleza. Além disso, tinha gênio alegre, saltava e brincava por toda parte. logo demonstrou uma especial afeição pela música. Chegou a procurar um mestre famoso, a quem foi logo dizendo:
    - Ensina-me a tua arte, pois quero tocar alaúde tão bem como tu.
    - Ah, meu pequeno senhor! - suspirou o músico.
- Vai ser difícil. Vossos dedos são impróprios e, além disso, muito grandes. Temo que as cordas não aguentem.
    Mas de nada serviram suas evasivas. O burrinho manteve-se firme no que decidira. Estudou com vontade e aplicação. Até que por fim tocava o instrumento tão bem como seu mestre.
    Um dia o príncipe saiu a passeio. E assim , andando à toa, chegou junto de uma fonte. Ao olhar-se nas águas viu sua figura de burro e, em vista disso, ficou tão triste que resolveu correr mundo, levando apenas em sua companhia um amigo fiel. Depois de andar muito tempo sem rumo, chegaram a um país governado por um velho rei que só tinha uma única filha, belíssima. O burrinho disse a seu companheiro:
    - Ficaremos aqui - e, batendo no portão, gritou:- Há hospedes aqui fora. Abram e deixem-nos entrar.
     Como ninguém o atendeu, sentou-se e pôs-se a tocar o alaúde com as patas dianteiras. Vendo aquilo, o porteiro arregalou os olhos e correu ao rei para dizer-lhe:
   - Do lado de fora do portão há um burrinho tocando alaúde tão bem como um grande mestre.
    - Deixa entrar o músico. - ordenou o rei.
     Mas ao verem que se apresentava um burro, os presentes soltaram, estrondosas gargalhadas. Decidiram que o animalzinho deveria sentar-se com os criados para comer. Mas ele protestou:
    - Não sou um burrinho comum de estrebaria; sou nobre.
    - Não, - replicou ele. - Quero sentar-me junto ao rei.
    Este começou a rir e disse, bem- humorado:
    - Pois faça-se como pedes, burrinho. Fica a meu lado. - Em seguida perguntou: - Burrinho, que tal achas a minha filha?
     O burrinho voltou a cabeça para olhá-la e,  fazendo um gesto de aprovação, respondeu:
   - É tão linda como jamais vi outra igual!
   - Então podes sentar-te a seu lado, se quiseres.
   - Como muito gosto! - exclamou o burrinho, e sentou-se ao lado da princesa. Comeu e bebeu, comportando-se com finura e correção.
   Tendo já passado algum tempo na Corte daquele rei pensou: " De que me adiante tudo isso? Tenho de voltar para minha casa" e, triste e cabisbaixo, foi ao soberano para despedir-se. Mas o rei, que já havia criado por ele um grande afeto, disse-lhe:
    - Que há, meu burrinho? Pareces azedo como vinagre. Fica comigo e te darei o que pedires. Queres ouro?
    - Não, - respondeu o burrinho, sacudindo a cabeça.
   - Queres joias?
    - Não.
    - Queres a metade do meu reino?
   - Oh, não!
   - Ah, se eu pudesse adivinhar o que te deixaria contente! - exclamou o rei. - Quem sabe queres casar com a minha filha?
   - Oh, sim! - respondeu o burrinho. - Isto sim, me agradaria.
    Em seguida ficou alegre e disposto, pois era aquele o seu maior desejo.
    Celebrou-se, então, uma esplêndida festa de casamento. E quando os noivos foram conduzidos aos seus aposentos, o rei, querendo saber se o burrinho se comportava com gentileza e correção, ordenou a um criado que se escondesse no quarto. Quando os recém-casados estavam no dormitório, o noivo correu o ferrolho da porta, olhou em redor e,  assegurando-se de  que estavam a sós, tirou, de repente, a pele de burro, transformando-se num belo jovem de porte real.
   - Agora estás vendo quem sou - disse ele à princesa - e vês também, que não sou indigno de ti.
    A noiva ficou muito alegre e beijou-o com ternura. Mas, ao chegar a manhã, o rapaz se levantou e pôs novamente, a pele de burro, de modo que ninguém pode suspeitar quem se ocultava embaixo dela. Não tardou em apresentar-se ao rei.
   - Vejam só! - exclamou este. - O burrinho já se levantou e está muito contente da vida. Mas tu - prosseguiu, dirigindo-se à sua filha - deves estar bem triste por não teres um marido igual aos outros.
    - Oh, não, meu pai! - respondeu ela. - Amo-o tanto como se fosse o mais belo dos homens e lhe serei fiel durante toda a vida.
     O rei ficou surpreso, mas o criado, que se havia escondido, lhe desvendou o mistério.
    - Não pode ser verdade! - exclamou o rei.
    - Pois fique acordado na próxima noite e veja com seus próprios olhos. E dou-lhe um bom conselho, Senhor Rei: tire-lhe a pele e jogue-a ao fogo. Assim será obrigado a apresentar-se na sua forma verdadeira.
    - É um bom conselho, - concordou o rei.
    À noite, quando estavam dormindo, entrou, de mansinho, no quarto e, ao aproximar-se da cama, pode ver, à luz do luar, um belo jovem adormecido. Apele de burro estava estendida no chão. Apanhou-a e saiu. Em seguida mandou acender uma fogueira bem grande e nela jogou a pele. Dali não se afastou até que estivesse completamente queimada e reduzida a cinzas. Querendo ver o que faria o príncipe ao despertar, passou toda a noite de vigia, com ouvido atento. Ao clarear do dia, o jovem saltou da cama para meter-se na pele de burro, mas, não podendo encontrá-la em parte alguma, assustou-se e exclamou tristemente:
     - Agora só me resta fugir!
    Mas, quando ia saindo, apresentou-se o rei, que lhe disse:
    - Meu filho, aonde vais com tanta pressa? Fica aqui; és um homem tão bem apessoado  que não desejo perder-te. Eu te darei a metade do meu reino e, quando morrer, herdarás o resto.
    - Pois que o que teve um bom princípio tenha, também, um bom fim, - respondeu o rapaz. - Ficarei convosco.
     E o velho rei deu-lhe a metade do reino. E quando, depois de um ano, morreu, deixou-lhe o restante. Além disso, ao falecer seu pai, o antigo burrinho herdou, também, o reino dele. E, deste modo, passou o resto da vida em grande opulência e poderio, com o constante amor da sua bela rainha.
 FIM



quinta-feira, 16 de junho de 2016

A RAPOSA E O CAVALO - CONTOS DE GRIMM

    Um camponês tinha um cavalo que já estava velho e não lhe podia mais prestar serviços. Por isso o homem não queria mais alimentá-lo e disse:
   - Já não me serves! Mas tenho boa vontade contigo. Se provares que ainda tens força para me trazeres aqui um leão, poderás ficar. Agora, sai do meu estábulo!
   Em seguida, enxotou-o para o campo. O cavalo saiu, tristemente, em direção ao mato, para ali abrigar-se do mau tempo. Nisto, encontrou a raposa, que lhe perguntou:
   - Por que andas tão sozinho e cabisbaixo?
   - Ai! - suspirou o cavalo. A avareza e a lealdade não moram juntas na mesma casa. Meu senhor esqueceu os serviços que lhe prestei durante anos, e, como não consigo puxar o arado tão bem como antes, não quer mais me dar comida e me expulsou de casa.
    - Assim, sem nenhuma retribuição? - indagou a raposa.
   - A retribuição foi má: disse-me que ficaria comigo se eu ainda tivesse forças suficientes para trazer-lhe um leão. Ele sabe muito bem que não sou capaz disso.
    - Pois vou ajudar-te, - retrucou a raposa. - Deita-te no chão e não te movas; finge que estás morto.
    O cavalo fez o que lhe indicara a raposa. Esta foi ao leão, cujo covil não ficava longe, e disse-lhe:
    - Ali adiante há um cavalo morto. Vem comigo e terás uma farta refeição.
     O leão a acompanhou. Quando chegaram ao local onde estava o cavalo, a raposa recomeçou a falar:
    - Aqui não terás comodidade alguma. Sabes o que mais? Vou atar-te à sua cauda; assim o poderás arrastar até o teu covil e lá o comerás com toda a calma.
    A sugestão agradou à fera, e, para que a raposa o pudesse atar à cauda do cavalo, ficou parado, bem quietinho. Mas a raposa usou o rabo do cavalo para atar fortemente as pernas traseiras do leão. E tantas laçadas e nós ela deu, que era mesmo impossível desatar.
   Terminado o trabalho, bateu no lombo do cavalo e disse-lhe:
    - Vamos! Puxa, cavalinho,puxa!
    O cavalo deu salto e saiu arrastando o leão. Este pôs-se a urrar de tal maneira que os pássaros no bosque levantaram voo, assustados. O cavalo deixou que berrasse; arrastou o bicho até a porta da casa do seu amo. O camponês, quando o viu, arrependeu-se do seu procedimento e declarou:
    - Ficarás comigo e terás todas as regalias!
    E daí por diante o cavalo teve comida à vontade até o dia em que morreu.FIM


THE FOX AND THE HORSE - GRIMM TALES


A peasant had a horse that was old and could no longer pay her services. So the man did not want to feed him and said:
   - No longer serves me! But I have good will with you. If you prove you still have strength to trazeres me a lion here, you'll stay. Now get out of my stable!
   Then shooed him into the field. The horse came out, sadly, into the woods, there to shelter from bad weather. He found the fox, who asked him:
   - Why are you so alone and crestfallen?
   - There! - Sighed the horse. The greed and loyalty do not live together in the same house. My lord forgot the services that pay you for years, and as I can not pull the plow as well as before, do not want to give me food and threw me out.
    - So, no consideration? - Asked the fox.
   - The consideration was bad: he told me that he would be with me if I still had enough strength to bring you a lion. He knows very well that I am not capable of it.
    - Well I'll help you, - replied the fox. - Lie down on the floor and not movas you; pretend you're dead.
    The horse did what you had indicated the fox. This was the lion, whose lair was not far, and said to him:
    - Over there there's a dead horse. Come with me and you will have a large meal.
     The lion followed. When they reached the place where was the horse, the fox began to speak:
    - Here you will not have any convenience. You know what? I'll tie you to your tail; so you can drag to your lair and there eat it calmly.
    The suggestion pleased the beast, and so that the fox might tie the horse's tail, stood and quietly. But the fox used the horse's tail to strongly bind the hind legs of the lion. And so many loops and we gave it, it was impossible to untie.
   Finished the job, hit on the back of the horse and told him:
    - Let's go! Pulls, horse pulls!
    The horse gave heel and left dragging the lion. This began to howl so that the birds in the forest took flight, frightened. The horse let yell; dragged the animal to his master's door. The peasant, when he saw him, he repented of his conduct and said:
    - You'll be with me and you will have all the perks!
    And then on the horse had food at will until the day that morreu.FIM
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El Zorro y el CABALLO - Cuentos

Un campesino tenía un caballo que era viejo y ya no podían pagar sus servicios. Así que el hombre no quería darle de comer y dijo:
   - Ya no me sirve! Pero tengo buena voluntad con usted. Si usted demostrar todavía tienen fuerza para trazeres un león aquí, usted va a permanecer. Ahora sal de mi establo!
   Entonces él en el campo con desgana. El caballo salió, por desgracia, en el bosque, no para protegerse del mal tiempo. Encontró el zorro, que le preguntó:
   - ¿Por qué estás tan solo y cabizbajo?
   - ¡Ay! - Suspiró el caballo. La avaricia y la lealtad no viven juntos en la misma casa. Mi señor se olvidó de los servicios que le pagan por años, y ya que no puedo tirar del arado, así como antes, no quiero que me dé comida y me echó.
    - Por lo tanto, sin tener en cuenta? - Pregunta el zorro.
   - La consideración era malo: me dijo que iba a estar conmigo si todavía tenía la fuerza suficiente para lograr que un león. Él sabe muy bien que no soy capaz de hacerlo.
    - Bueno, yo te ayudaré, - respondió el zorro. - Acuéstate en el suelo y no se MOVA; actúa como si estuvieras muerto.
    El caballo hizo lo que le había indicado el zorro. Este fue el león, cuya guarida no estaba lejos, y le dijo:
    - Por ahí hay un caballo muerto. Ven conmigo y tendrás una comida grande.
     El león siguió. Cuando llegaron al lugar donde estaba el caballo, el zorro comenzó a hablar:
    - Aquí no tendrá ningún conveniencia. ¿Sabe qué? Yo te ato a su cola; por lo que puede arrastrar a su madriguera y no comer tranquilamente.
    La sugerencia agradó la bestia, y de modo que el zorro podría atar la cola del caballo, se puso de pie y en silencio. Pero el zorro utiliza la cola del caballo de fuerza se unen las patas traseras del león. Y tantos bucles y que nos dio, era imposible de desatar.
   Terminado el trabajo, golpeó en la parte posterior del caballo y le dijo:
    - ¡Vamos! Tirones, caballo tira!
    El caballo dio vuelta y salió arrastrando el león. Esto comenzó a aullar para que los pájaros del bosque dieron a la fuga, asustado. El caballo dejó gritar; arrastrado al animal hasta la puerta de su amo. El campesino, cuando lo vio, se arrepintió de su conducta y dijo:
    - Vas a estar conmigo y tendrá todas las ventajas!
    Y luego en el caballo tenía comida a voluntad hasta el día en que morreu.FIM
El Zorro y el CABALLO - Cuentos


UM OLHINHO, DOIS OLHINHOS, TRÊS OLHINHOS - CONTOS DE GRIMM

 Era uma vez uma mulher, que tinha três filhas. A mais velha chamava-se Um olhinho, porque tinha apenas um olho ao centro da testa; a do meio, Dois Olhinhos, porque tinha dois olhos, como as outras pessoas; a mais nova, Três Olhinhos, porque tinha três, sendo que o terceiro também no meio da testa. Como Dois Olhinhos era igual a todas as pessoas, suas irmãs e sua mãe a odiavam. Diziam-lhe:
    - Com os teus dois olhos, não sobressais em nada às criaturas comuns; não pertences à nossa classe.
    E por isso a maltratavam, obrigando-a a usar vestidos velhos e só lhe davam para comer aquilo que sobrava; além disso, elas a humilhavam quanto podiam. Um dia Dois Olhinhos teve de sair ao campo para cuidar da cabra. Estava, ainda com muita fome, pois suas irmãs não lhe tinham dado quase nada para alimentar-se. Sentou-se à beira da estrada, chorando tanto que suas lágrimas pareciam vertentes a lhe inundar o rosto. Em dado momento, ergueu os olhos e viu uma mulher a  seu lado, que lhe perguntou:
     - Dois Olhinhos, por que choras?
    E a pequena respondeu:
   - Como não hei de chorar? Porque tenho dois olhos como todas as pessoas, minha mãe e minhas irmãs não me suportam; empurram-me de um canto para outro; fazem-me usar roupas velhas e só me dão para comer as sobras. Hoje me deram tão pouco que ainda estou com fome.
     A mulher, que era uma fada, disse-lhe então:
     - Não chores, mais, Dois Olhinhos. Vou ensinar-te umas palavras mágicas. Com elas não passarás mais fome. Só precisa dizer:
                                  Bala, cabritinha!
                                  Cobre-te, mesinha!
 e em seguida terás a tua frente uma mesinha posta, com os mais gostosos pratos, e poderás comer à vontade. Quando estiveres satisfeita e não necessitares mais da mesinha, dirás:
                               Bala, cabritinha!
                                Somo-te, mesinha!
e ela desaparecerá da tua frente.
    Dito isto, a fada partiu. Dois Olhinhos pensou: " Tenho de experimentar logo para ver se é verdade o que ela me disse, pois estou louca de fome. " E exclamou:
                              Bala, cabritinha!
                               Cobre-te, mesinha!    
    Mal pronunciou essas palavras, surgiu  a mesinha coberta com uma toalha branca e tendo em cima um prato e talher de prata. Havia, também, travessas , magníficas, fumegantes e ainda quentes como se mal tivessem saído da cozinha. Dois Olhinhos rezou, então, a oração mais curtinha que sabia: " Deus meu, se sempre o nosso hóspede! Amém!" Serviu-se e comeu com verdadeiro apetite. Depois de saciada, fez como a fada lhe ensinara, dizendo:
                         Bala, cabritinha!
                           Some-te, mesinha!  
  E, num instante, a mesa desapareceu com tudo o que havia em cima. " Esta é uma maneira fácil de cozinhar!"-  pensou Dois Olhinhos, sentindo-se muito feliz da vida.
     À tarde, quando voltou com a cabra, encontrou uma panelinha de barro com um pouco de comida que lhe haviam deixado as irmãs, mas Dois Olhinhos nem lhe tocou. No dia seguinte partiu, de novo, com a cabrita, sem fazer caso dos restos que lhe davam. A princípio as irmãs não prestaram atenção a isso, mas vendo que o caso se repetia, disseram:
     - Alguma coisa está acontecendo com Dois Olhinhos. Sempre deixa a comida que lhe damos, ela antes lambia até os dedos! Com certeza encontrou algo melhor.
      Para descobrir o que sucedia, combinaram que Um olhinho a acompanharia quando levasse a cabra a pastar e prestaria atenção, para ver se alguém lhe trazia comida e bebida.
     E quando Dois Olhinhos se aprontou para sair, a mais velha aproximou-se dela e lhe disse:
     - Irei ao campo contigo. Quero ver se cuidas bem da cabra e a levas a boas pastagens.
     Mas Dois Olhinhos adivinhou o pensamento da outra e, conduzindo a cabra a um campo onde crescia capim alto, disse:
     - Vem, Um Olhinho, sentemos-nos neste lugar; cantarei uma canção para ti.
    Um Olhinho, cansada de tanto caminhar e do calor do sol, sentou-se e sua irmã se pôs a cantar:
                                 UM Olhinho, velas?
                                Um Olhinho, dormes?
        Repetia sempre as mesmas palavras, até que a outra, fechando seu único olho, começou a dormir. Dois Olhinhos, vendo que sua irmã adormecera profundamente e não poderia descobri-la, disse:
                                     Bala, cabritinha!
                                      Cobre-te, mesinha!
 
      E sentou-se à mesa, comeu e bebeu até ficar satisfeita. Depois voltou a dizer:
                                 Bala, cabritinha!
                                 Some-te, mesinha!
   E tudo desapareceu no mesmo instante. Dois Olhinhos então despertou sua irmã e lhe disse:
     - Um Olhinho, vens para cuidar da cabra e te pões a dormir. O animalzinho poderia ter escapado mil vezes. Vem, voltaremos para casa.
      Puseram-se a caminho e, quando chegaram, Dois Olhinhos não tocou na comida. Mas, Um Olhinho não pode dizer à mãe o motivo por que sua irmã não queria comer. Desculpo-se, alegando que havia dormido no campo.
     No dia seguinte a mãe disse a Três Olhinhos:
    - Desta vez irás tu. Vais acompanhá-la e observar se come lá fora e se alguém lhe traz comida e bebida, pois está visto que ela anda comendo e bebendo às escondidas.
     Três Olhinhos aproximou-se de Dois Olhinhos e lhe disse:
     - Vou contigo para ver se cuidas bem da cabra e se lhe dás bastante pasto.
    Mas Dois Olhinhos logo percebeu a intenção de sua irmã e levou a cabra a um lugar onde havia capim alto e disse então:
    - Sentemo-nos aqui. Três Olhinhos, que te cantarei uma canção.
     A outra sentou-se, cansada que estava do caminho e do ardor do sol,  e Dois Olhinhos começou  s sua cantiga:
               Três Olhinhos, velas?
  Mas, em vez de continuar dizendo: " Três Olhinhos, dormes?" não se deu conta e disse:
             Dois Olhinhos, dormes?
 repetindo sempre:
              Três Olhinhos, velas?
             Dois Olhinhos, dormes?
     E Três Olhinhos fechou dois olhos e adormeceu: mas o terceiro, por causa do engano no versinho, continuou aberto. È verdade que a pequena o fechou, mas por astúcia, fingindo que dormia com ele também e , assim, abrindo-o disfarçadamente, pode  ver tudo. Quando Dois Olhinhos pensou que a irmã dormia profundamente, pronunciou sua fórmula mágica:
       Bala, cabritinha!
      Cobre-te, mesinha!
e, depois de saciar a fome e a sede, fez com que a mesa se retirasse:
         Bala, cabritinha!
       Some-te, mesinha!
    Aconteceu, porém que Três Olhinhos havia presenciado tudo. Dois Olhinhos aproximou-se dela e lhe disse:
     - Ei, Três Olhinhos, dormiste? Bela maneira de cuidar da cabra! Vem, voltemos para casa.
     Quando chegaram, Dois Olhinhos desistiu outra vez da comida e Três Olhinhos disse à mãe:
    - Agora sei por que esta orgulhosa não come. Quando está no campo diz à cabrita:
                              Bala, cabritinha!
                               Cobre-te, mesinha!
e imediatamente apareceu uma mesa diante dela com pratos saborosos, muito melhores que os que nós comemos; e quando está satisfeita diz:
                                     Bala, cabritinha!
                                    Some-te, mesinha!
 e tudo desaparece. Vi isso muito bem. Com sua canção fez com que me adormecessem dois olhos, mas por sorte fiquei com o da testa acordado.
    A invejosa mãe chamou Dois Olhinhos e lhe falou:
   - Queres passar melhor do que nós? Pois vou tirar-te essa manha.
    Apanhou a faca e cravou-a no coração da cabra, que caiu morta. Ao ver aquilo, Dois Olhinhos saiu de casa cheia de tristeza e, sentando-se no campo, começou a chorar amargamente. De súbito apresentou-se, novamente, a boa fada, que lhe disse:
      - Por que choras, Dois Olhinhos?
       - E não hei de chorar? - respondeu a pequena. - Minha mãe matou a cabrita que todos os dias, quando lhe dizia os versinhos que me ensinaste, me punha tão bem a mesa. Agora tenho de passar, outra vez, fome  e privações.
    Disse-lhe a fada:
   - Dois Olhinhos, vou te dar-te um bom conselho. Pede às tuas irmãs que te deem as tripas da cabra e enterra-as em frente à porta da tua casa. Será a tua sorte.
    A fada desapareceu e Dois Olhinhos voltou para casa e disse à irmãs:
   - Deem-me um pouco da minha cabra. Não peço nada mais; eu quero apenas as tripas.
    Aí as duas começaram a rir e lhe reponderam:
   - Se é só isso, podes ficar com elas.
    E Dois Olhinhos apanhou as tripas e à noitinha foi enterrá-las, em segredo, diante da porta, segundo o conselho da fada.
    Na manhã seguinte, quando todas despertaram e saíram  para a frente da casa, ficaram maravilhadas ao verem ali uma árvore magnífica. Suas folhas eram de prata e os frutos de ouro. Em todo o mundo não se teria encontrado coisa igual. Ninguém sabia como havia crescido ali durante a noite. Só Dois Olhinhos sabia que brotara das tripas da cabra, pois levantava-se precisamente no lugar onde ela as enterrara. Disse a mãe a Um Olhinho:
   - Trepa na árvore, minha filha, e apanha os frutos para nós.
    Um Olhinho subiu até a copa, mas, quando quis apanhar uma das maças douradas, o ramo escapou de suas mãos; e assim continuou acontecendo sempre que tentava alcançasse um fruto, por mais que ela se esforçasse. Então a mãe disse:
     - Três Olhinhos desceu e Três Olhinhos subiu, mas não teve melhor sorte; por mais que arregalasse seus três olhos, as maças de ouro continuavam lhe escapando das mãos. Finalmente, a mãe, impacientando-se, subiu , ela mesma, na árvore. Mas não teve mais sorte que suas duas  filhas. Cada vez que pretendia agarrar um dos frutos, ficava com a mão vazia. Falou, então, Dois Olhinhos:
    - Subirei eu na árvore, talvez tenha mais sorte.
    E, apesar das irmãs lhe dizerem: - Ora! Tu com teus dois olhos! - a mocinha trepou na árvore. As maças de ouro não escaparam mais; ao contrário, caíam de propósito em sua mão. E assim ela as pode colher uma por uma e, depois de encher o seu avental desceu da árvore. A mãe lhe tirou  as maças. E Um Olhinho e Três Olhinhos, em vez de a tratarem melhor, ficaram com inveja ao ver que só ela conseguia obter os frutos e começaram a maltratá-la ainda mais do que antes.
     Aconteceu que, um dia, estando todas ao pé da árvore, viram chegar um jovem cavalheiro.
    - Depressa, Dois Olhinhos! - exclamaram as irmãs. - Entra aí embaixo desse barril, para não termos que nos envergonhar de ti!
    E, rapidamente, puseram em cima dela um barril vazio que ali estava, perto da árvore. Jogaram embaixo também as maças que Dois Olhinhos acabara de apanhar. Quando o cavalheiro se aproximou, viram que era o jovem mais belo que se podia imaginar. Ele parou, admirando a magnífica árvore de ouro e prata. Dirigindo-se às duas irmãs, perguntou:
    - A quem pertence esta bela árvore? Por um de seus galhos, eu da daria o que me pedissem.
    Um Olhinho e Três Olhinhos responderam logo que a árvores lhes pertencia e que partiram um galho para dar-lhe. Uma e outra se esforçaram como doidas, mas em vão; galhos e frutos sempre lhes escapavam das mãos. Disse, então o cavalheiro:
    - É estranho que, sendo a árvore de vocês, não consigam cortar um galho dela.
    Mas as duas continuaram afirmando que ela lhes pertencia. Nisto, Dois Olhinhos fez folar para fora do barril umas quantas maças de ouro, que foram parar aos pés do cavalheiro. A jovem zangara-se ao ver que as suas irmãs não estavam falando a verdade. Quando o forasteiro enxergou as maças, perguntou, surpreso, de onde vinham elas e Um Olhinho e três Olhinhos lhe repondera, que tinham uma irmã, mas que não a apresentavam, porque tinha apenas dois olhos como as pessoas comuns. O cavalheiro porém, insistiu em vê-la e chamou:
     - Vem cá, Dois Olhinhos!
    A mocinha, recuperando a confiança, saiu debaixo do barril. E o cavalheiro, pasmado com a sua grande beleza, lhe disse:
    - Estou certo de que poderás dar-me um galho da árvore.
    - Sim, - respondeu Dois Olhinhos, - é claro que posso dar, pois a árvore é minha.
    E, subindo até a copa , facilmente quebrou um galho, com folhas de prata e frutos de ouro, e o entregou ao cavalheiro.
   - Que queres em troca. Dois Olhinhos? - perguntou o jovem.
    - Ah! - respondeu ela.  - Passo fome, sede e aflições da manhã à noite. Se o cavalheiro quisesse me tirar daqui e livrar-me disso tudo, eu me sentiria muito feliz.
    O jovem ergueu Dois Olhinhos para a garupa do cavalo e a levou ao castelo de seu pai. Deu-lhe belos vestidos e comida à vontade e, como a moça era mesmo um verdadeiro encanto, ele logo se apaixonou por ela e logo depois casaram.
    Vendo que o cavalheiro havia levado Dois Olhinhos, as duas irmãs a invejaram mais do que nunca. " De qualquer modo" - pensaram, consolando-se, - " resta-nos a árvore maravilhosa e, mesmo que a gente não possa colher seus frutos, todos os que passarem por aqui hão de parar para contemplá-la e baterão à nossa casa para expressar-nos sua admiração. Quem sabe se aí não estará a nossa sorte?"
    Mas, na manhã seguinte, a árvore havia desaparecido e, com ela, as suas esperanças. Quando no entanto Dois Olhinhos se debruçou à janela do seu quarto, viu, com grande alegria, que a árvore estava ali e que, assim, a tinha acompanhado.
     A jovem viveu feliz por muito tempo. Um dia apresentaram-se no castelo duas pobres mulheres que lhe pediram esmola. Dois Olhinhos reconheceu as suas irmãs. As duas haviam chegado a tal extremo da pobreza que mendigavam seu pão de porta em porta. Dois Olhinhos as acolheu carinhosamente; tratou-as com grande bondade e cuidou delas. Assim, ambas se arrependeram de todo coração das maldades que tinham feito para a sua irmã. FIM
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   A little eye, TWO eyes, eyes THREE - GRIMM TALES
There was once a woman who had three daughters. The oldest was called a little eye, because he had only one eye to the center of the forehead; the middle, Two Olhinhos, because he had two eyes like other people; the youngest, Three Olhinhos because he was three, and the third also in the middle of the forehead. How Two Olhinhos was equal to all people, her sisters and her mother hated her. They said to him:
    - With your two eyes, not sobressais nothing to ordinary creatures; do not belong to our class.
    And so the maltreated her, forcing her to wear old dresses and only gave him to eat what was left; Furthermore, they humbled themselves to as they could. One day Two Olhinhos had to leave the field to take care of the goat. I was still hungry, because her sisters had not given almost nothing to eat. He sat down by the roadside, crying so much that her tears seemed strands to flood his face. At one point, he looked up and saw a woman beside her, who asked him:
     - Two Olhinhos, why are you weeping?
    And the short answer:
   - How could I not cry? Because I have two eyes like all people, my mother and my sisters do not support me; push me from one corner to another; They make me wear old clothes and just give me to eat the leftovers. Today gave me so little that I am still hungry.
     The woman, who was a fairy, said to him:
     - Weep no more, Two Olhinhos. I will teach you some magic words. With them not pass hungrier. Only to say:
                                  Bala, Celina!
                                  Copper up, table!
 and then you will have your face a set table with the most delicious dishes, and you can eat at will. When you are satisfied and not necessitares over the table, say,
                               Bala, Celina!
                                Somo you, table!
and it will disappear from your face.
    That said, the fairy left. Two Olhinhos thought ". I have to just try to see if it's true what she told me, because I'm dying of hunger" and exclaimed:
                              Bala, Celina!
                               Copper up, table!
    Hardly uttered these words, did the table covered with a white towel and taking on a plate and silver flatware. There were also platters, magnificent, steaming hot and still as if evil had come out of the kitchen. Two Olhinhos prayed, then the more curtinha prayer she knew, "My God, always our guest Amen!" It is served and ate with real appetite. Once sated, did as the fairy had taught him, saying:
                         Bala, Celina!
                           Some you, table!
  And in an instant, the table disappeared with all that was over. "This is an easy way to cook!" - Two Olhinhos thought, feeling very happy life.
     In the afternoon, when he returned with the goat, she found a clay saucepan with a little food they had left her sisters, but two Olhinhos not touched. The next day he departed again, with the goat, ignoring the debris that gave him. At first the sisters paid no attention to it, but seeing that the case was repeated, they said:
     - Something is happening with Two Olhinhos. Always let the food we give it, before she licked up your fingers! Certainly found something better.
      To find out what happened, they agreed that a little eye to accompany him when took the goat to graze and pay attention to see if someone brought him food and drink.
     And when Two Olhinhos got ready to leave, the elder approached her and said:
     - I will go to the field with you. I want to see if you care and the goat and the waves to good pastures.
     But Two Olhinhos guessed the thought of another and leading the goat to a field where grass grew high, said:
     - Come A little eyes, sit us in this place; I sing a song for you.
    A little eyes, tired from walking so much and the sun's heat, sat and her sister began to sing:
                                 A little eyes, candles?
                                A little eyes, sleep?
        always repeated the same words, until the other, closing his one eye, began to sleep. Two Olhinhos, seeing that his sister deeply asleep and could not find her, said:
                                     Bala, Celina!
                                      Copper up, table!

      And he sat at the table, ate and drank until satisfied. Then he returned to say:
                                 Bala, Celina!
                                 Some you, table!
   And all disappeared at once. Two Olhinhos then woke his sister and said,
     - A little eyes, come to take care of the goat and you put you to sleep. The little animal could have escaped a thousand times. Come back home.
      They stood in their way, and when they arrived, two Olhinhos did not touch the food. But A little eyes can not tell the mother the reason why your sister did not want to eat. I apologize if, claiming that he had slept in the field.
     The next day the mother said to Three Olhinhos:
    - This time wilt thou. You'll follow it and watch it come out there and if someone brings you food and drink, it is because she's eating and drinking on the sly.
     Three Olhinhos approached Two Olhinhos and said:
     - I'm going with you to see if you care and goat and you you give enough pasture.
    Two Olhinhos but soon realized the intention of his sister and took the goat to a place where there was tall grass and then said:
    - Let's sit down here. Three Olhinhos that you sing a song.
     The other sat wearily that was the way and the sun burning, and two Olhinhos s began his ditty:
               Three Olhinhos candles?
  But rather than keep saying: "Three Olhinhos, you sleep?" He not realized and said:
             Two Olhinhos, sleep?
 always repeating:
              Three Olhinhos candles?
             Two Olhinhos, sleep?
     And Three Olhinhos closed both eyes and fell asleep: but the third, because of the mistake in verse, remained open. It is true that the small closed, but by cunning, feigning sleep with him too and thus opening it covertly, you can see everything. When Two Olhinhos thought the sister slept deeply, he pronounced his magic formula:
       Bala, Celina!
      Copper up, table!
and after satisfying hunger and thirst, he caused the table to withdraw:
         Bala, Celina!
       Some you, table!
    It happened, however, that three Olhinhos had witnessed everything. Two Olhinhos approached her and said:
     - Hey, Three Olhinhos, did you sleep? Nice way to take care of the goat! Come, let us return home.
     When they arrived, two Olhinhos again gave the food and Three Olhinhos told his mother:
    - Now I know why this proud not eat. When in the field tells the goat:
                              Bala, Celina!
                               Copper up, table!
and immediately he appeared a table in front of her with tasty dishes, much better than what we eat; and when it is satisfied it says:
                                     Bala, Celina!
                                    Some you, table!
 and everything disappears. I saw it very well. With his song he made me fall asleep two eyes, but luckily I was with the agreed tests.
    The jealous mother called Two Olhinhos and told him:
   - Want to go better than us? For I will take you this morning.
    He picked up the knife and plunged it into the heart of the goat, which fell dead. Seeing this, two Olhinhos left home full of sadness and, sitting in the field, he began to cry bitterly. Suddenly presented itself again, the good fairy, who said:
      - Why are you crying, Two Olhinhos?
       - And shall I not cry? - Replied the girl. - My mother killed the goat that every day, when you read the verses that taught me, put me so well the table. Now I have to go again, hunger and deprivation.
    I told her the fairy:
   - Two Olhinhos, I'll give you good advice. Asks your sisters that give you the goat casings and buries them in front of the door of your house. Is your luck.
    The fairy disappeared and Two Olhinhos returned home and told the sisters:
   - Give me a little of my goat. I ask nothing more; I just want the guts.
    Then the two began to laugh and you They replied:
   - If that's it, you can keep them.
    And Two Olhinhos took guts and the evening was to bury them secretly at the door, according to the counsel of the fairy.
    The next morning, when all awoke and went to the front of the house, they were astonished to see there a magnificent tree. Its leaves were silver and golden fruit. Around the world it would not have found anything like it. No one knew how he had grown there overnight. Only Two Olhinhos knew that sprouted from goat guts, as he rose at precisely the place where she had buried them. Said the mother A little eyes:
   - Climb the tree, my daughter, and pick the fruits for us.
    A little eyes went to the corner, but when he wanted to take one of the golden apples, the branch escaped from their hands; and so it kept happening when trying to reach a fruit, even though she was struggling. Then the mother said:
     - Three Olhinhos down and Three Olhinhos rose, but had no better luck; for more than arregalasse his three eyes, the golden apples kept slipping from his hands. Finally, the mother, is impatient, went up herself in the tree. But he had no more luck than his two daughters. Each time you wanted to grab a fruit, was with the empty hand. Then spoke Two Olhinhos:
    - I will climb the tree, you may have more luck.
    And, despite the sisters say to him: - Now! You with your two eyes! - The girl climbed the tree. The golden apples did not escape more; on the contrary, they fell on purpose in his hand. And so she can pick the one by one and, after filling her apron down from the tree. The mother took her apples. And A little eyes and Three Olhinhos rather than to treat better, were jealous to see that only she could get the fruit and began to mistreat her even more than before.
     It happened that one day, all of the foot of the tree, they saw a young gentleman come.
    - Quick, Two Olhinhos! - Cried the sisters. - Get in there under that barrel, so we do not be ashamed of you!
    And quickly, put it on an empty barrel that stood near the tree. They played down the apples also that two Olhinhos had to catch. When the gentleman came over, they saw that it was the most beautiful young imaginable. He paused, admiring the magnificent tree of gold and silver. Addressing the two sisters asked:
    - Who owns this beautiful tree? By one of its branches, I would of asked me what.
    A little eyes and Three Olhinhos answered as soon as the trees belonged to them and they left a branch to give you. Again and they struggled like crazy, but in vain; branches and fruits always escaped their hands. Then said the gentleman:
    - It is strange that, with the tree of you can not cut a branch of it.
    But the two kept saying it belonged to them. In this, two Olhinhos made folar out of the barrel a few golden apples, which ended up at the feet of the gentleman. Zangara up to see that his sisters were not telling the truth. When the stranger saw the apples he asked, surprised, where they came from and they A little eyes and three Olhinhos you repondera, who had a sister, but they had not, because she had only two eyes like ordinary people. The gentleman however, insisted on seeing her and called:
     - Come on, Two Olhinhos!
    The girl, regaining confidence, went under the barrel. And the gentleman, amazed with its great beauty, said:
    - I'm sure you'll give me a tree branch.
    - Yes, - he answered Two Olhinhos, - of course I can give, because the tree is mine.
    And up to the crown, easily broke a twig with leaves of silver and golden fruit, and gave the gentleman.
   - What do you want in return. Two Olhinhos? - Asked the young man.
    - Ah! - She replied. - Step hunger, thirst and afflictions from morning to night. If the gentleman wanted to get me out and get rid of it all, I feel very happy.
    The young man lifted Two Olhinhos to the rump of the horse and took her to his father's castle. He gave her beautiful dresses and food at will and, as the girl was even a real charm, he soon fell in love with her and married soon after.
    Seeing that the gentleman had taken two Olhinhos, the two sisters envied him more than ever. "Anyway" - they thought, consoling himself, - "it remains to the wonderful tree, and even if we can not reap its fruits, all that pass by here will stop to look at it and will hit our house to express to us their wonder. Who knows if there will not be our fate? "
    But the next morning, the tree was gone, and with it, their hopes. When however two Olhinhos leaned to her bedroom window, she saw with great joy that the tree was there and thus had accompanied her.
     She lived happily for a long time. One day they presented the castle two poor women who asked alms. Two Olhinhos recognized her sisters. The two had reached such extreme poverty begging their bread door to door. Two Olhinhos welcomed them warmly; He treated them with great kindness and took care of them. Thus, both repented wholeheartedly the evil they had done to his sister. END
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Un pequeño ojo, dos ojos, ojos TRES - Cuentos de Grimm

Había una vez una mujer que tenía tres hijas. El más antiguo fue llamado un pequeño ojo, porque tenía un solo ojo al centro de la frente; el medio, dos Olhinhos, porque tenía dos ojos como otras personas; el más joven, Tres Olhinhos porque él tenía tres años, y la tercera también en el medio de la frente. ¿Cómo Dos Olhinhos era igual a todas las personas, sus hermanas y su madre la odiaba. Ellos le dijeron:
    - Con sus dos ojos, no sobressais nada que criaturas ordinarias; no pertenecen a nuestra clase.
    Y por lo que el le maltrataron, obligándola a llevar vestidos viejos y sólo le dio a comer lo que quedaba; Por otra parte, se habían humillado a que pudieron. Un día dos Olhinhos tuvo que abandonar el campo para hacerse cargo de la cabra. Todavía estaba hambriento, porque sus hermanas no habían dado casi nada para comer. Se sentó al borde del camino, llorando tanto que sus lágrimas parecían hebras para inundar su rostro. En un momento dado, alzó la vista y vio a una mujer a su lado, que le preguntó:
     - Dos Olhinhos, ¿por qué lloras?
    Y la respuesta corta:
   - ¿Cómo no iba a llorar? Porque tengo dos ojos como todas las personas, mi madre y mis hermanas no me apoyan; me empuje de una esquina a otra; Me hacen usar ropa vieja y me acaba de dar de comer las sobras. Hoy me dio tan poco que aún estoy con hambre.
     La mujer, que era un hada, le dijo:
     - No llores más, Dos Olhinhos. Yo te enseñaré unas palabras mágicas. Con ellos no pasar hambre. Sólo decir:
                                  Bala, Celina!
                                  Cobre sube, mesa!
 y luego tendrá su cara una mesa de juego con los platos más deliciosos, y se puede comer a voluntad. Cuando esté satisfecho, y no necessitares encima de la mesa, por ejemplo,
                               Bala, Celina!
                                Somo usted, mesa!
y desaparecerá de la cara.
    Dicho esto, el hada de la izquierda. Dos Olhinhos pensado "Tengo que acaba de tratar de ver si es verdad lo que me dijo, porque me muero de hambre." Y exclamó:
                              Bala, Celina!
                               Cobre sube, mesa!
    Apenas pronunciadas estas palabras, hizo la mesa cubierta con una toalla blanca y tomando en un plato y cubiertos de plata. También había platos, magníficas, al vapor caliente y quieto como si el mal había salido de la cocina. Dos Olhinhos oró, entonces el más oración curtinha ella sabía, "Mi Dios, nuestro invitado siempre Amén!" Se sirve y comió con apetito real. Una vez saciado, hizo lo que el hada le había enseñado, diciendo:
                         Bala, Celina!
                           Algunos usted, mesa!
  Y en un instante, la mesa desapareció con todo lo que había pasado. "Esta es una manera fácil de cocinar!" - Pensó dos Olhinhos, sentir la vida muy feliz.
     Por la tarde, cuando regresó con la cabra, se encontró con una cazuela de barro con un poco de comida que habían dejado a sus hermanas, pero dos Olhinhos no se toca. Al día siguiente volvió a retirarse, con la cabra, haciendo caso omiso de los escombros que le dio. En un primer momento las hermanas no prestaron atención a ella, pero al ver que el caso se repitió, dijeron:
     - Algo está pasando con dos Olhinhos. Siempre deje que la comida que le demos, antes de que ella lamió los dedos! Ciertamente encontrado algo mejor.
      Para averiguar qué ha ocurrido, coincidieron en que un poco de ojo que lo acompañara cuando tomó el macho cabrío a pastar y prestar atención para ver si alguien le llevaba comida y bebida.
     Y cuando dos Olhinhos llegamos listos para salir, el anciano se acercó a ella y le dijo:
     - Voy a ir al campo con usted. Quiero ver si le interesa y la cabra y las olas a buenos pastos.
     Sin embargo, dos Olhinhos adivinado el pensamiento de otro y que conduce a la cabra a un campo en el que crecía la hierba alta, dijo:
     - Venir un poco más los ojos, nos sentarse en este lugar; Yo canto una canción para ti.
    Un poco de ojos, cansados ​​de tanto caminar y el calor del sol, se sentaron y su hermana comenzaron a cantar:
                                 Un poco de ojos, velas?
                                Un poco de ojos, el sueño?
        Siempre repite las mismas palabras, hasta que el otro, cerrando su único ojo, comenzó a dormir. Dos Olhinhos, al ver que su hermana profundamente dormido y no pudo encontrarla, dijo:
                                     Bala, Celina!
                                      Cobre sube, mesa!

      Y se sentó en la mesa, comió y bebió hasta que esté satisfecho. Luego volvió a decir:
                                 Bala, Celina!
                                 Algunos usted, mesa!
   Y todos desaparecieron al mismo tiempo. Dos Olhinhos continuación, despertó a su hermana y le dijo:
     - Un poco de ojos, llegan a hacerse cargo de la cabra y se pusieron a dormir. El pequeño animal podría haber escapado una y mil veces. Volver a casa.
      Se detuvieron en su camino, y cuando llegaron, dos Olhinhos no tocaron la comida. Pero un poco los ojos no pueden decir a la madre la razón por la que su hermana no quería comer. Me disculpo si, aduciendo que había dormido en el campo.
     Al día siguiente, la madre dijo a Tres Olhinhos:
    - Esta vez se marchita mil. Así lo sigue y lo mira venir por ahí y si alguien le trae la comida y la bebida, es porque ella está comiendo y bebiendo a escondidas.
     Tres Olhinhos acercó a dos Olhinhos y dijo:
     - Voy con usted para ver si usted se preocupa y cabra y se le dará suficiente pasto.
    Dos Olhinhos pero pronto se dieron cuenta de la intención de su hermana y tomó el macho cabrío a un lugar donde no había hierba alta y luego dijo:
    - Vamos a sentarnos aquí. Tres Olhinhos que cantar una canción.
     El otro se sentó con cansancio que era la manera y la quema de sol, y dos Olhinhos s comenzó su cantinela:
               Tres velas Olhinhos?
  Pero en lugar de seguir diciendo: "Tres Olhinhos, a dormir?" Él no se dio cuenta y dijo:
             Dos Olhinhos, dormir?
 repitiendo siempre:
              Tres velas Olhinhos?
             Dos Olhinhos, dormir?
     Y Tres Olhinhos cerraron ambos ojos y se durmió, pero el tercero, a causa del error en el verso, permanecieron abiertos. Es cierto que el pequeño cerrado, sino por la astucia, fingiendo dormir con él también y por lo tanto abrirlo de forma encubierta, se puede ver todo. Cuando dos Olhinhos pensó que la hermana dormía profundamente, pronunció su fórmula mágica:
       Bala, Celina!
      Cobre sube, mesa!
y después de satisfacer el hambre y la sed, hizo que la mesa de retirar:
         Bala, Celina!
       Algunos usted, mesa!
    Sucedió, sin embargo, que tres Olhinhos habían sido testigos de todo. Dos Olhinhos se acercó a ella y le dijo:
     - Hey, tres Olhinhos, dormiste? Una buena manera de cuidar de la cabra! Ven, volvamos a casa.
     Cuando llegaron, dos Olhinhos volvió a dar la comida y tres Olhinhos dijo a su madre:
    - Ahora sé por qué esto no comen orgullosos. Cuando en el campo de la cabra dice:
                              Bala, Celina!
                               Cobre sube, mesa!
e inmediatamente apareció una mesa delante de ella con platos sabrosos, mucho mejor que lo que comemos; y cuando esté satisfecho de que dice:
                                     Bala, Celina!
                                    Algunos usted, mesa!
 y todo desaparece. Lo vi muy bien. Con su canción que me hizo caer dormido dos ojos, pero por suerte yo estaba con las pruebas acordadas.
    La madre celosa llama Dos Olhinhos y le dijo:
   - ¿Quieres ir mejor que nosotros? Para tomaré esta mañana.
    Cogió el cuchillo y lo clavó en el corazón de la cabra, que cayó muerto. Al ver esto, dos Olhinhos fue de casa llena de tristeza y, sentado en el campo, comenzó a llorar amargamente. De pronto se presentó de nuevo, el hada buena, que dijo:
      - ¿Por qué lloras, Dos Olhinhos?
       - Y no he de llorar? - Respondió la chica. - Mi madre mató a la cabra que cada día, cuando usted lee los versos que me enseñaron, me puso tan bien la mesa. Ahora tengo que ir de nuevo, el hambre y las privaciones.
    Le dije que el hada:
   - Dos Olhinhos, te voy a dar un buen consejo. Pide a sus hermanas que le dan las tripas de cabra y los entierra en frente de la puerta de su casa. Es su suerte.
    El hada desapareció y dos Olhinhos regresó a su casa y le dijo a las hermanas:
   - Dame un poco de mi cabra. No pido nada más; Sólo quiero las agallas.
    A continuación, los dos comenzaron a reír y que ellos le dijeron:
   - Si eso es todo, puede mantenerlos.
    Y dos Olhinhos tomaron las tripas y la noche fue para enterrarlos en secreto en la puerta, de acuerdo con el consejo del hada.
    A la mañana siguiente, cuando todos se despertaron y se fue a la parte delantera de la casa, se sorprendieron al ver que hay un magnífico árbol. Sus hojas eran de plata y frutos de oro. En todo el mundo, no habría encontrado nada igual. Nadie sabía cómo había crecido allí durante la noche. Sólo dos Olhinhos sabían que brotó de las entrañas de cabra, mientras se levantaba precisamente en el lugar donde los había enterrado. Dijo la madre Un poco de ojos:
   - Subir al árbol, mi hija, y recoger los frutos para nosotros.
    Un poco de ojos fueron a la esquina, pero cuando quiso tomar una de las manzanas de oro, la rama se escaparon de sus manos; y por lo que mantiene sucediendo cuando se trata de llegar a un fruto, a pesar de que estaba luchando. Entonces la madre dijo:
     - Tres Olhinhos abajo y tres Olhinhos color de rosa, pero no tuvo mejor suerte; durante más de tres arregalasse sus ojos, las manzanas de oro se deslizaba de las manos. Por último, la madre, es impaciente, subió a sí misma en el árbol. Pero no tenía más suerte que sus dos hijas. Cada vez que quería agarrar una fruta, fue con la mano vacía. Luego habló Dos Olhinhos:
    - Voy a subir al árbol, es posible que tenga más suerte.
    Y, a pesar de las hermanas le dicen: - Ahora! Usted con sus dos ojos! - La chica subió al árbol. Las manzanas de oro no escaparon más; por el contrario, cayeron a propósito en la mano. Y para que pueda escoger el uno por uno y, después de llenar el delantal del madero. La madre llevó a sus manzanas. Y un poco los ojos y Tres Olhinhos en lugar de tratar mejor, tenían celos al ver que sólo se podía conseguir la fruta y comenzaron a maltratarla aún más que antes.
     Sucedió que un día, todo el pie del árbol, vieron a un joven caballero venga.
    - Quick, Dos Olhinhos! - Gritó las hermanas. - Entrar allí en virtud de ese barril, así que no te avergüences de ti!
    Y rápidamente, lo puso en un barril vacío que se encontraba cerca del árbol. Se minimizaron las manzanas también que los dos Olhinhos tenían que coger. Cuando el caballero se acercó, vieron que era la más bella imaginable joven. Se detuvo, admirando el magnífico árbol de oro y plata. Dirigiéndose a las dos hermanas le preguntó:
    - ¿A quién pertenece este hermoso árbol? Por una de sus ramas, me hubiera me preguntó qué.
    A ojos pequeños y Tres Olhinhos responde tan pronto como los árboles pertenecían a ellos y dejaron una rama de darle. Una y lucharon como locos, pero en vano; ramas y frutas siempre se escaparon de sus manos. Entonces dijo el caballero:
    - Es extraño que, con el árbol de la que no se puede cortar una rama de la misma.
    Pero los dos no paraba de decir que era de ellos. En esto, dos Olhinhos hizo folar fuera del cañón unos manzanas de oro, que terminó en los pies del caballero. Zangara hasta ver que sus hermanas no estaban diciendo la verdad. Cuando el desconocido vio las manzanas preguntó, sorprendido, de dónde venían y Son un poco los ojos y tres Olhinhos que repondera, que tenía una hermana, pero no tenía, porque ella sólo tenía dos ojos como la gente común. El caballero sin embargo, insistió en verla y se llama:
     - Vamos, Dos Olhinhos!
    La niña, recuperar la confianza, fue bajo el cañón. Y el caballero, sorprendido con su gran belleza, dijo:
    - Estoy seguro de que me des una rama de árbol.
    - Sí, - respondió Dos Olhinhos, - por supuesto que puedo dar, porque el árbol es mío.
    Y hasta la corona, fácilmente se rompió una ramita con hojas de plata y frutos de oro, y le dio al caballero.
   - ¿Qué quieres a cambio. Dos Olhinhos? - Preguntó el joven.
    - Ah! - Ella respondió. - Paso el hambre, la sed y las aflicciones de la mañana a la noche. Si el caballero quería sacarme y deshacerse de todo esto, me siento muy feliz.
    El joven se levantó Dos Olhinhos a la grupa del caballo y la llevó al castillo de su padre. Dio sus hermosos vestidos y alimentos a voluntad y, como la chica era incluso un verdadero encanto, pronto se enamoró de ella y se casó poco después.
    Al ver que el caballero había tomado dos Olhinhos, las dos hermanas le tenían envidia más que nunca. "De todos modos" - que pensaban, consolándose, - "queda por el árbol maravilloso, e incluso si no podemos cosechar sus frutos, todo lo que pase por aquí se detendrá para mirarlo y llegará a nuestra casa expresar a nosotros su asombro. ¿Quién sabe si no será nuestro destino? "
    Pero a la mañana siguiente, el árbol se había ido, y con él, sus esperanzas. Cuando sin embargo dos Olhinhos se inclinó a la ventana de su habitación, vio con gran alegría que el árbol estaba allí y por lo tanto la había acompañado.
     Ella vivió feliz durante mucho tiempo. Un día se presentó el castillo dos pobres mujeres que pedían limosna. Dos Olhinhos reconocieron sus hermanas. Los dos habían llegado a tal pobreza extrema pidiendo su puerta a puerta pan. Dos Olhinhos les dieron la bienvenida con gusto; Los trató con gran amabilidad y se hizo cargo de ellos. Por lo tanto, ambos se arrepintió de todo corazón el mal que habían hecho a su hermana. FIN
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